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Patrícia Melo leva toda sua obra para a Rocco

Com o acerto, escritora deixa, ‘sem mágoas’, a Companhia das Letras, pela qual publicou 7 livros em 16 anos

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Foto do author Ubiratan Brasil

Patrícia termina romance sobre homem que sequestra cadáver em Corumbá. Foto: Evelson de Freitas/AE

 

 

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SÃO PAULO - Depois de 16 anos, a escritora Patrícia Melo vai deixar a Companhia das Letras, a editora que a lançou. A partir de novembro, todos os seus sete livros serão reeditados pela Rocco, que também vai receber um título inédito, que a escritora pretende finalizar até o fim do ano. "Foi uma troca amistosa, uma negociação profissional, sem nenhum ressentimento", disse Patrícia ao Estado, na tarde de terça-feira, 15, em seu apartamento, em Higienópolis.

 

A observação é procedente - desde a saída de seu marido, o maestro John Neschling, do comando da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), em janeiro, havia rumores sobre um iminente desligamento de Patrícia da Companhia das Letras, uma vez que seu editor, Luiz Schwarcz, é membro do conselho da fundação da orquestra que destituiu o maestro. "Não houve nenhuma relação", assegura ela. "Recebi uma proposta comercial muito boa da Rocco e decidi aceitar."

 

A mudança se concretiza em novembro, quando chegam as primeiras reedições, justamente de seu primeiro livro (Acqua Toffana) e do mais recente (Jonas, o Copromanta). "Os outros vão sair à medida que os acordos sobre os contratos vigentes forem acertados entre as duas editoras", disse Patrícia. "Ao longo de dois anos, toda a obra estará reeditada com um projeto gráfico novo. É bastante estimulante criar novos laços em uma outra editora."

 

Nesse período, aliás, o conjunto terá aumentado com a publicação de seu novo livro, que já escrevia quando decidiu trocar de casa editorial. Ainda sem título e a poucos meses da finalização, a obra tem uma trama instigante: o sequestro de um cadáver por um homem. "A história se passa em Corumbá, no Mato Grosso, uma cidade úmida e intensamente iluminada por um sol brilhante, que contrasta com a ação sombria da narrativa." Será, aliás, um livro com muita movimentação, diferente do anterior, Jonas, o Copromanta, cujo protagonista alimenta uma violência mais mental que física.

 

Novamente, Patrícia parte do princípio que é o pilar de sustentação de toda sua obra: o homem, em sua essência, tem uma índole má. A conclusão diverge do pensamento do filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), para quem o homem é bom por natureza - é a sociedade que o corrompe. "Acredito que o ser humano tem uma vigorosa capacidade para destruir, o que faz com mais facilidade que construir."

 

A redenção, no entanto, está no amor e na capacidade de sentir compaixão, acredita ela. E é justamente o conjunto dessas qualidades que garante a verossimilhança de seus personagens, acredita. "Trata-se de uma lição que aprendi com Ernesto Sábato para quem o escritor não pode ser maniqueísta: é preciso despertar no leitor o sentimento da compaixão."

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Platão

Durante o processo de pesquisa, além de colher dados sobre a cidade de Corumbá (onde, aliás, nunca esteve), Patrícia leu também a obra de Platão (427-347 a.C.), em especial o diálogo Teeteto, que trata exclusivamente da Teoria do Conhecimento. Lá, Sócrates define o papel do filósofo como alguém que rompe uma ferida na alma daqueles a quem se ama, fazendo-lhes ver a falsa paz em que se encontram para, somente então, partirem em busca da verdade, a qual descobrirão por si mesmos. "Ou seja, sem amor, não há conhecimento", observa a escritora que, sem se confessar ateia, traduz a crença dos que veneram Deus como a capacidade de amar o próximo, de produzir ciência, de se reinventar, enfim.

 

Se a literatura é seu caminho principal, Patrícia Melo gosta também de circular pelas transversais. Como a dramaturgia, em que já escreveu um monólogo, A Ordem do Mundo, encenado no ano passado no Rio pela atriz Drica Moraes, com direção de Aderbal Freire-Filho. A peça em que ela interpreta uma mulher que tem como trabalho ler e analisar as notícias de todos os jornais deverá chegar a São Paulo no próximo ano. "Preparo ainda um texto para Cláudia Abreu, que me pediu uma peça", conta a escritora, que também desfruta de um bom momento editorial no exterior - em outubro, Mundo Perdido será publicado na Inglaterra (Bloomsbury) e Jonas, o Copromanta em Portugal (Campo das Letras). Ela também escreve para um site de literatura em Portugal, Pnet, em que divide espaço com colegas de sua admiração, como Ondjaki, Gonçalo Tavares, Almeida Faria, Luis Carmelo, entre outros.

 

A felicidade transparece uma sensação de alívio, embora Patrícia reforce que não está deixando a Companhia das Letras com mágoas. A sensação do recomeço, ela conta, é estimulante. Como exemplo, lembra de seu amigo, o escritor Rubem Fonseca que, em abril, deixou a mesma editora, pela qual publicava seus livros desde 1989, e foi para a Agir - uma saída ainda não totalmente explicada. "Almocei com ele na semana passada e o encontrei muito alegre, produzindo novo romance. É a mesma felicidade que busco."

 

E Neschling prepara seu livro

O maestro John Neschling também vai publicar um livro pela editora Rocco: no dia 9 de novembro, ele participa, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, do lançamento de Música Mundana, reflexões musicais, temperadas por lembranças biográficas, especialmente a aventura que foi estruturar a orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). E não estão descartados comentários sobre sua saída como regente principal.

 

"Será um lançamento que vai causar muitas discussões e até polêmicas", adianta o editor Paulo Rocco, eufórico com as duas aquisições para sua editora. Neschling pretende percorrer outras cidades (Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba e Brasília), para mais sessões de autógrafo.

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Desde que deixou a regência e a direção artística da Osesp, em janeiro, Neschling conta não ter ficado parado. "Estou escrevendo e compondo bastante", revela. "Terei muitas novidades até o final do ano."

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