Foi o brasileiríssimo conselho que recebi de um mestre e mentor experiente. Concordar combina com harmonizar, estar do mesmo lado e com o obedecer à sua dimensão oculta e mais importante.
Veja bem: concordo em nomear minha irmã secretária da Presidência, canibalizando pelo parentesco a lei antinepotista; mas se o X entrar, eu largo o partido...
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Com mais interesse sociológico do que político-partidário, assisti à sabatina do ministro da Justiça Flávio Dino e do ilustre dr. Paulo Gonet para cargos supremos. No caso, opostos em termos de funções, pois o segundo deve ser “procurado” para inquirir e investigar; enquanto o outro atua calado, dirimindo ambiguidades e dúvidas legais.
Foram mais de dez horas de trocas de amabilidades e de estocadas pelos adversários do governo Lula, classificados como bolsonaristas - um qualificativo que no meu entendimento deveria ser esquecido e, se lembrado fosse, seria para servir de exemplo de um ator que não entendeu as responsabilidades das suas incumbências públicas.
O que, então, assisti, consternado, foi a presença dos intrusos habituais. Os impecáveis e “invisíveis” serviçais do cafezinho e da água, que, como “papagaios de pirata”, rondavam a mesa do ritual.
Imagine o leitor o quanto tais personagens não escutam servindo cafezinho em reuniões secretas. E quantas vezes tais “serviçais” não foram fonte de informação para aliados e adversários.
Mas o grande intruso, o hóspede obviamente não convidado, o personagem fora do enredo, era a convocação. A sabatina requerida em democracias e, com ela, o desagradável e mal-educado dever de discordar e questionar igualitário - cara a cara -, que grosseria, sujeito à sinceridade dos “bate-bocas” próprios de gentinha.
Vejam a inversão: senadores da República sendo obrigados a inquirir os posicionamentos e a trajetória dos sabatinados como se eles não soubessem com quem estavam lidando, já que não havia como duvidar que eles seriam - depois de toda essa formalidade - aprovados.
Aliás, penalizou-me ver examinadores cumprindo esse horroroso papel de discordar. Com o devido respeito a todos os senadores, essa bem-comportada sabatina confirma que, no Brasil, ser elite é concordar discordando ou vice-versa ao contrário.
O que ninguém quer é “cair” na vala comum do povo - dos eleitores carentes de mais firmeza e competência e menos gentileza.