‘O que me dói é a forma como aconteceu’, diz Marcelo Drummond, viúvo de Zé Celso

‘Perdi meu irmão, minha casa e minha família’, disse Ricardo Bittencourt, amigo que também estava no incêndio do qual dramaturgo foi vítima. Os dois participam de despedida no Oficina; veja vídeo

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Foto do author Bárbara Correa
Por Bárbara Correa (Estadão)
Atualização:

Na tarde desta quinta-feira, 6, amigos, familiares e fãs se reuniram no Teatro Oficina para homenagear José Celso Martinez Corrêa, que morreu aos 86 anos, vítima de um incêndio em seu apartamento. Marcelo Drummond, viúvo, e Ricardo Bittencourt, amigo do dramaturgo, falaram sobre a despedida.

Eles moravam com Zé Celso e o ator Victor Rosa no prédio localizado no bairro Paraíso, zona sul de São Paulo. Os três estavam com ele no momento do incêndio. Em entrevista nesta quinta-feira, Ricardo se pronunciou pela primeira vez sobre o acidente.

Leia a seguir e veja o vídeo abaixo:

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“Eu perco um irmão, o Zé é minha família, aqui [teatro] é meu lar. Me perguntam sobre legado e ele foi um patrimônio, que formou muitos artistas. Mas, para mim, eu perdi meu irmão, minha casa e minha família. Ainda não tenho noção de legado, estou na minha dor de família”, lamentou.

Marcelo, que era companheiro de Zé Celso havia 35 anos, relatou que imaginava que a despedida não demoraria a acontecer.

Marcelo Drummond e Ricardo Bittencourt falaram com a imprensa no Teatro Oficina  Foto: FELIPE IRUATA/ESTADAO


O que me dói é a forma como aconteceu. Não precisava ser um incêndio (...) Foi uma tragédia, mas vamos seguir em frente, lembrando que o Zé é vida

Marcelo Drummond, viúvo de Zé Celso


O diretor lembrou seus últimos momentos com o marido. “Acordei com um estrondo, abri a porta do meu quarto, estava tudo escuro com fumaça. Vi o Vitor puxando o Zé, que estava com a mobilidade difícil, tentamos puxar ele, mas eu também desmaiei”.

“Alguém me acordou, saímos no hall da entrada, eu segurei as mãos dele, ele colocou a perna em cima da minha e chegaram os bombeiros, foi a última vez que vi Zé. Mas o que fica é o legado”, disse.

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Marcelo Drummond no Teatro Oficina para homenagear o dramaturgo Zé Celso Foto: FELIPE IRUATA/ESTADAO

Na quinta, o Teatro Oficina ficou aberto para o público e a rua foi fechada para carros por volta das 17h. Além disso, foi instalado um telão do lado de fora para que o púbico possa acompanhar toda a cerimônia.

O corpo de Zé Celso chegou ao prédio do Teatro Oficina, no Bexiga, por volta das 23h30 e foi recebido por uma multidão. Ao som de ‘Viva o Zé’ e ‘evoé’, ele foi velado durante toda a madrugada.

Amigos e fãs do dramaturgo paulista foram ao local para prestar suas últimas homenagens a um dos maiores nomes da cultura brasileira.

Teatro Oficina é aberto para homenagear o dramaturgo Zé Celso Foto: FELIPE IRUATA/ ESTADAO

Homenagens a Zé Celso

O amigo Pascoal Conceição, que falou com Zé pela última vez uma semana antes do incêndio, lembra ainda que “cada um de nós fomos colocados na posição de ausência do Zé, mas ao mesmo tempo tem muita presença, porque ele deixou muito trabalho pra fazer. Ele fez o teatro do presente e, hoje, estamos participando da história do Brasil, vivendo um momento histórico.”

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“O Zé é uma provocação, ele é um provocador. O Zé não deixou legado, ele deixou trabalho e deixou o parque do Bixiga pra fazer”, lembrou Conceição. A atriz e produtora Camila Mota também esteve presente e garantiu que seguir a programação de espetáculos no fim de semana também é uma forma de homenagem.

“Oficina é o lugar da tragédia, não é lugar do drama. Mas a tragédia exige ação, renascimento. Pra nós é o momento de não deixar o bastão cair. Os espetáculos vão acontecer. O de hoje não e o de amanhã não sei, mas, com certeza, no fim de semana estaremos em cena. Porque o Zé faria isso”.

O Teatro Oficina ficou aberto ao público até as 9h desta sexta-feira, 7. Depois, apenas amigos puderam ficar no local, até as 11h. O corpo de Zé Celso será cremado em uma cerimônia restrita às pessoas mais próximas.

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