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Tony Ramos fez de tudo em 40 anos de carreira

Antônio de Carvalho Barbosa, o Tony Ramos, 55 anos, fez de tudo na TV: de jagunço a feirante. São mais de 150 trabalhos, sem contar peças de teatro e filmes

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Por Agencia Estado
Atualização:

É currículo a perder de vista. São 40 anos de carreira. O início? Aos 15 . Antônio de Carvalho Barbosa, o Tony Ramos, 55 anos, fez de tudo na TV: de jagunço a feirante. São mais de 150 trabalhos, sem contar peças de teatro e filmes. Sabe de cor a data do primeiro registro em carteira profissional. Ao comentar sobre a carreira, cita personagens, títulos de novela, diretores e amigos. Tem memória de ouro: valoriza o passado, a história. É cuidadoso, fala sem pressa, gosta de elogiar os outros, soletra nomes, e não quer esquecer ninguém. Nesta lista imensa de experiências, falta um vilão do tipo Renato Mendes (Fábio Assunção em Celebridade) ? Tony, aliás, adorou o desempenho dele. E bem sabe que tem perfil que favorece personagens heróicos. Mas enumera alguns papéis como Cristiano Vilhena, de Selva de Pedra (1986), que, segundo ele, é vilão, sim, mas que a sociedade ?hipocritamente perdoou?. ?Há várias máscaras de vilania não observadas?, comenta o ator, que já foi chamado de ?chato? em matérias de jornal. Tony, que procura ser ético, respeitador e fiel, diz que, hoje, o ?legal? é ser politicamente incorreto. A entrevista a seguir foi feita por telefone. Não recebe jornalistas em casa e gosta de manter a família longe dos holofotes. ?É a minha intimidade. Não deveria interessar a ninguém?, justifica o avô de Henrique, de 4 anos, e de Gabriela, de 4 meses ? filhos de Rodrigo (33 anos), a cara do pai. Tony nasceu em Arapongas, no Paraná, mas morou desde pequeno em São Paulo. Conheceu Lidiane, sua esposa, ainda no colégio. ?Casamento que dá certo, uma raridade hoje em dia, não é apenas no meio artístico?, reconhece, sem, é claro, condenar os que buscam a felicidade. Seu pai separou-se de sua mãe quando ele tinha 4 anos. Freqüentou bons colégios, tinha intimidade com livros, piano (Mozart e Brahms) e política. Isso, aos 8 anos. Sua primeira formação foi musical. Tentou a faculdade de Filosofia e Direito, mas a TV o roubou: o garoto, que imitava Chaplin, famosos e políticos, estreou em A Outra (Tupi, 1965) e não parou mais. Paulo Figueiredo é o maior parceiro: estiveram juntos em 11 novelas, desde A Outra, e nunca fizeram inimigos. Hoje é o coronel Boanerges, em Cabocla, de Benedito Ruy Barbosa. Faz um personagem cômico, delicioso, mas que vira bicho quando o assunto é o inimigo político, Justino (Mauro Mendonça). A memória de infância ajuda a incrementá-lo. A família viveu no interior paulista tentando cultivar café. Sem o pai por perto, a mãe, professora, tinha a ajuda dos irmãos, José e Clóvis, que trabalhavam em editoras, e de Dodô, avó de Tony, que administrava a casa, em Vila Maria. Qual a melhor memória da infância? ?Do meu tio José me levando ao Estádio do Pacaembu para ver o São Paulo Futebol Clube.? estadao.com.br - Começou com 15 anos? Tony Ramos - Com carteira assinada, sim, em 29 de junho de 1964. Mas já fazia teatro. Sabe de cor a data? É fundamental na vida de um profissional que leva a sério a carreira. Valorizo e preservo a memória, o passado. Lamentavelmente, o País parece que gosta de viver em videoclipe constante. Meu primeiro trabalho, o programa ao vivo Novos em Foco, na Tupi, me marcou. Fui chamado por João Ribeiro Filho, âncora do telejornal das 20 horas. Ele também me apresentou para Cassiano Gabus Mendes, diretor-geral da emissora. Após Novos em Foco, fui escolhido para fazer A Outra, uma adaptação de Walter George Durst, baseada em original de Dario Nicodemi. No elenco tinha Geórgia Gomide, Walmor Chagas, Guy Loup, Juca de Oliveira, Débora Duarte... Em O Amor Tem Cara de Mulher (1966), meu segundo trabalho, tive como parceiros Dolabella, Aracy Balabanian e Cleyde Iáconis. Vieram participações em Irmãos Corsos (1966), Os Rebeldes (1968) e depois ganhei um seriado: Os Amores de Bob (1968). De 29 de junho de 1964 até este momento, não parei mais. Quando foi para a Globo? Em 1977 e peguei de cara O Espelho Mágico. Mas foi O Astro (1977), com Márcio Hayalla, que atirou meu nome por esse Brasil todo. Tem idéia de quantos trabalhos fez na TV? Uns 150: cerca de 40 novelas, 80 teleteatros, 6 minisséries, 22 peças e 11 filmes. Também apresentei atrações na Tupi (Opinião Pública ? sobre publicidade) e na Globo (a parada musical Globo de Ouro e Você Decide). Fiz também o primeiro Comédia da Vida Privada (1994), que gerou a série de Guel Arraes e Jorge Furtado. No início foi baseada em crônicas de Luis Fernando Verissimo. Também estive em A Vida Como Ela É, dirigida por Daniel Filho, sobre crônicas de Nelson Rodrigues. Você tira férias? Sim, mas não da forma tradicional. Quando começo a conversar sobre a minha carreira é que percebo o quanto trabalhei, como tenho trabalhado e como tive parcerias com os mais importantes escritores e diretores do País. As pessoas falam que não faço teatro, é um engano. Comecei com Plínio Marcos em 1969 (Quando As Máquinas Param). Fiz Rapazes da Banda, Pequenos Assassinatos, Grito de Liberdade, Absurda Pessoa no Singular e Pagador de Promessas. Fui travesti em Meu Refrão: Olê, Olá. Levamos Novas Diretrizes até para Portugal. As peças que faço ficam anos em cartaz. Gosto de teatro quando o texto me inquieta. Como descobriu tão cedo sua vocação? A gente acha que descobre a vocação, que está pronto para ela. Interpretar exige uma série de atenções, principalmente com estudo e em não acreditar nas capas de revistas. Como cortejo o meu público? Unicamente com o meu trabalho. Às vezes o público gosta, às vezes gosta muito, às vezes mais ou menos ou não gosta. Quando não gostaram? Não sou hipócrita e reconheço que esta minha caminhada é muito bonita. Tenho uma crença inabalável por este ofício. Não acredito, porém, em tapinhas nas costas. Meu grande barato é enquanto estou interpretando e quando faço uma novela, gravo tudo. Tem vezes que vejo as imagens com semanas de atraso. Gosta de se ver? É crítico? Gosto de me ver, mas não da forma narcísica. Nunca fui deslumbrado e quem me conhece sabe disso. Não vejo as cenas que faço logo depois de gravadas. Vejo em casa. Muitas vezes com a minha mulher, tarde da noite, tomando vinho. Ela grava tudo para mim e até falamos sobre as cenas. Que papéis destacaria? Tony ? É complicado. Como poderei destacar o Riobaldo (Grande Sertão: Veredas, 1985), se teve o Jorge (O Primo Basílio, 1988). Falo do João (O Sorriso do Lagarto, 1991) e lembro do José Clementino (Torre de Babel, 1999). Na Tupi, fiz Ídolo de Pano (1974) e Vitória Bonelli (1972) e não posso esquecer O Astro e o Pai Herói (1979) de Janete Clair. São tão inesquecíveis quanto os gêmeos Quinzinho e João Victor, de Baila Comigo (1981), e o Miguel, de Laços de Família (2000). Como deixar de citar o Téo, de Mulheres Apaixonadas (2003)? Não dá. E A Próxima Vítima (1995)? Lembra do Juca, dono de uma banca no Mercado Central? Tem o Manolo, de Filhas da Mãe (2001), de Silvio de Abreu. Lembrei agora do Tonico, de Bebê a Bordo (1988; e vai falando dos papéis, novelas, anos, sem pestenejar!). Se escolher um, traio os outros.

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