PUBLICIDADE

Publicidade

Apenas 34,6% das empresas da construção civil usam sistemas pré-fabricados em suas obras

Para pesquisadora do Ibre/FGV, número mostra que setor no Brasil tem espaço para modernização e para ganho de produtividade - que diminuiu 0,62% ao ano entre 1995 e 2022

Por Daniela Amorim (Broadcast)

Rio - Uma sondagem realizada com as empresas de construção civil revelou um retrato preocupante sobre o grau de modernização do setor no País, avaliou o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Apenas 34,6% das empresas fazem uso de sistemas pré-fabricados em suas obras, mostraram os dados coletados através de um quesito especial inserido na Sondagem da Construção de abril.

“É um quesito atemporal. Isso não muda de um mês para o outro. Dá um perfil setorial do grau de utilização de processos construtivos industrializados”, explicou Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do Ibre/FGV.

Construção civil brasileira tem baixo nível de industrialização, segundo pesquisadora da FGV Foto: Sérgio Neves/Estadão

PUBLICIDADE

O maior índice de industrialização de processos construtivos foi verificado nas empresas de Edificações Não Residenciais: 47,7% faziam uso de sistemas pré-fabricados em suas obras. Entre as empresas de Edificações Residenciais, 43,1% adotavam em algum grau sistemas pré-fabricados. Nas companhias de Serviços Especializados, 22,9% faziam uso de pré-fabricados; e nas empresas de Infraestrutura, 33,2%.

Segundo Ana Maria Castelo, os resultados confirmam a percepção corrente de baixo nível de industrialização da construção brasileira, com reflexos diretos sobre a produtividade do setor. Mesmo entre as empresas que faziam uso de sistemas industrializados de construção, apenas 24,5% usavam os pré-fabricados em mais da metade de suas obras.

“Na industrialização, você tem processos inteiros sendo produzidos dentro da indústria e sendo transportados para o canteiro de obra, sendo praticamente montados. A construção é montada no canteiro de obras. Então você tem um processo mais eficiente, eficaz, mais limpo. Você tem condições de produzir menos resíduo, ter uma produtividade mais elevada. Com um processo industrializado, você consegue produzir em menos tempo”, lembrou a coordenadora do Ibre/FGV, acrescentando que a modernização na produção também atende a anseios de maior sustentabilidade no setor.

A pesquisadora frisou que a produtividade da construção civil brasileira diminuiu 0,62% ao ano entre 1995 e 2022, conforme revelado por outro estudo produzido recentemente pelo Ibre/FGV.

“A utilização de sistemas industrializados é um passo fundamental para melhorar a produtividade do setor”, defendeu Castelo. “O próprio contexto conjuntural também pode ajudar ou piorar, além dos fatores estruturais. Hoje a tributação é um desestímulo à utilização de processos industrializados. A questão da escala também, porque para conseguir disseminar os processos industrializados, para produzir na indústria, você precisa ter uma demanda em escala”, exemplificou Castelo, mencionando o uso bem-sucedido de processos industriais por construtoras em habitações sociais a partir do programa Minha Casa Minha Vida, que deu escala aos empreendimentos.

Publicidade

Utilização

O levantamento Ibre/FGV apontou que, entre as empresas que usavam pré-fabricados em suas obras, a finalidade mais adotada foi na fase da Estrutura, com 78,4% de menções, seguida por Vedações, que incluem painéis e drywall (28,4% de citações) e Fachada (16,4%). A opção Outros usos na obra foi citada por 17,9% das companhias que afirmaram adotar algum grau de industrialização na construção de seus empreendimentos.

O Ibre/FGV ressalta que a sondagem é pioneira, não sendo possível saber se houve piora ou melhora na adoção de processos industrializados nos últimos anos. A ideia é que a questão seja repetida anualmente na Sondagem da Construção, para que seja possível acompanhar a evolução do grau de modernização do setor.

“Tendo a acreditar que um ano é um prazo razoável para verificar mudanças. Acho que menos que isso vai ser pouco significativo. Um ano é um prazo razoável para tentarmos acompanhar eventuais mudanças”, concluiu.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.