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Desemprego volta a crescer e fica em 8,6% no trimestre encerrado em fevereiro

Renda média real do trabalhador subiu 7,5% em relação ao mesmo trimestre de 2022

Por Daniel Tozzi Mendes e Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

A taxa de desemprego no País subiu de 8,4% no trimestre terminado em janeiro para 8,6% no trimestre até fevereiro, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados nesta sexta-feira, 31, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar da deterioração, o resultado ainda foi o mais baixo para esse período do ano desde fevereiro de 2015, quando estava em 7,5%.

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“Daqui para a frente, devemos ver uma trajetória de lenta elevação da taxa de desemprego. Nossa expectativa é que a taxa ajustada sazonalmente encerre 2023 perto de 9%, podendo ficar um pouco abaixo disso. Para 2024, nossa projeção é que a taxa evolua para 9,5%”, previu Claudia Moreno, economista do C6 Bank, em comentário.

Passado o período de excepcionalidade dos anos de pandemia de covid-19, o avanço da taxa de desemprego no País mostra um retorno do mercado de trabalho ao padrão de sazonalidade, mas é possível que haja também em algumas atividades influência do desaquecimento econômico, avaliou Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.

“De modo geral, mercado de trabalho responde a efeito sazonal”, resumiu Beringuy. “Eu não saberia te dizer o quão é relevante já para esse dado essa desaceleração econômica.”

No trimestre encerrado em fevereiro de 2023, 1,571 milhão de pessoas perderam o trabalho, enquanto 483 mil passaram a buscar uma vaga, fazendo o contingente de desempregados subir a 9,224 milhões.

“É um comportamento sazonal de mercado de trabalho haver aumento de desocupação e retração da população que está trabalhando”, disse Beringuy. “O mercado de trabalho não fica imune à conjuntura econômica, mas não podemos perder de vista o componente sazonal”, ponderou.

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Taxa de desemprego no País foi de 8,4% no trimestre encerrado em janeiro para 8,6% no encerrado no mês passado Foto: Carl de Souza/AFP

Embora tenha havido aumento na procura por trabalho, a migração de 1,473 milhão de pessoas para a inatividade em apenas um trimestre impediu um avanço ainda maior na taxa de desemprego. Com o enxugamento das vagas existentes, não fosse um aumento da inatividade, “certamente a população desocupada teria sido maior”, confirmou Beringuy.

“Se tem pessoas que vão pra fora da força, elas deixam de pressionar o mercado de trabalho”, confirmou a coordenadora do IBGE.

A população inativa – pessoas em idade de trabalhar que nem trabalham nem buscam emprego – está maior em 4,7 milhões de pessoas em relação ao patamar pré-pandemia, lembrou o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.

“Se a gente estivesse com a taxa de participação de 2019, o desemprego, com ajuste sazonal, estaria em 11%, por isso, a taxa de desemprego não conta toda a história”, calculou Imaizumi.

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Para o economista da LCA, a redução no número de pessoas participando do mercado de trabalho pode ter relação com o desenho do programa Auxílio Brasil, em 2022, que foi pouco criterioso na distribuição dos benefícios. “Vimos esse aumento forte das famílias unicelulares, o que fez com que uma mesma família recebesse mais de um auxílio”, observou Imaizumi.

A redução na população trabalhando foi puxada majoritariamente pela formalidade no trimestre terminado em fevereiro de 2023. Entre os 1,571 milhão de pessoas que deixaram de trabalhar, 596 mil atuavam como informais, o restante tinha ocupação formal.

A queda no emprego formal foi puxada pelo setor público, mas as demissões ocorridas na indústria também ajudaram a desacelerar a geração de vagas com carteira assinada no setor privado. Segundo Beringuy, as dispensas na indústria podem ter influência da desaceleração econômica, mas também um efeito sazonal, uma vez que o setor costuma dar férias coletivas no início do ano, considerando um menor dinamismo da produção.

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“Algumas indústrias dão férias coletivas. Não é um momento que a indústria está necessariamente aquecida”, apontou Beringuy. “Outros fatores podem estar ligados a isso (demissões)? Cadeia de suprimentos, expectativas de empresário? Pode ser que sim.”

Oito das dez atividades econômicas registraram demissões no trimestre encerrado em fevereiro: indústria (-343 mil), informação, comunicação e atividades financeiras, profissionais e administrativas (-151 mil), administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (-471 mil), construção (-159 mil), outros serviços (-171 mil), comércio (-254 mil), serviços domésticos (-74 mil) e agricultura (-202 mil). Houve geração de vagas apenas em transporte e armazenagem (98 mil) e alojamento e alimentação (148 mil).

“Não estou dizendo que o mercado de trabalho está isolado nem blindado da atividade econômica. Esses efeitos econômicos podem ser potencializados por uma característica sazonal, que aqui não consigo isolar”, justificou a coordenadora do IBGE.

O enfraquecimento da geração de emprego tem sido generalizado entre setores e tipos de ocupação, ressaltou Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos.

“A recuperação dos rendimentos do trabalho perde força”, afirmou Margato, em comentário. “Em nossa avaliação, os rendimentos reais parecem se aproximar do ‘teto’.”

A massa de salários em circulação na economia aumentou em R$ 28,124 bilhões no período de um ano, para R$ 275,457 bilhões. Na comparação com o trimestre terminado em novembro de 2022, a massa de renda real caiu 0,8% no trimestre terminado em fevereiro, R$ 2,236 bilhões a menos. Embora tenha havido uma queda significativa da população ocupada, a alta do rendimento de quem se manteve trabalhando foi suficiente para amortecer uma perda mais acentuada na massa de renda.

O rendimento médio dos trabalhadores ocupados teve uma elevação real de 0,6% na comparação com o trimestre até novembro de 2022, R$ 18 a mais, para R$ 2.853.

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Em relação ao trimestre encerrado em fevereiro de 2022, a renda média real de todos os trabalhadores ocupados subiu 7,5%, R$ 200 a mais.

O crescimento do rendimento médio real está relacionado à trégua da inflação registrada nos últimos meses, que proporciona ganhos reais, mas também à melhora na composição da ocupação, com manutenção de vagas carteira assinada no setor privado e uma redução no contingente de informais, apontou Adriana Beringuy, do IBGE.

A renda nominal, ou seja, antes que seja descontada a inflação no período, cresceu 2,4% no trimestre terminado em fevereiro ante o trimestre encerrado em novembro. Já na comparação com o trimestre terminado em fevereiro de 2022, houve elevação de 13,6% na renda média nominal.

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