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Ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central

Opinião|Crescimento do Brasil depende do aumento da produtividade com o fim do bônus demográfico

Trabalhadores menos qualificados são menos produtivos, o que prejudica a economia como um todo

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Estive em Cingapura no início dos anos 1990, quando ainda era presidente do BankBoston no Brasil e tive a oportunidade de conversar com Lee Kuan Yew, que acabara de deixar o cargo de primeiro-ministro após 31 anos. Naquela época, Cingapura tinha dado um salto de crescimento nestas três décadas. Perguntei a ele quais tinham sido as três principais decisões que havia tomado para obter aquele resultado impressionante. Ele disse: primeiro, investimento em educação; segundo, investimento em educação; terceiro, investimento em educação.

Retomo este tema diante da reportagem do Estadão sobre o possível impacto negativo na Previdência do crescimento do número de jovens que nem trabalham, nem estudam. Mas quero falar da etapa anterior, que é o desperdício para o País desses talentos durante sua vida produtiva. Jovens com formação deficiente terão mais dificuldades em obter empregos de qualidade, o que gerará menos renda para eles e menos riqueza para o País. A forma de evitar isso é investir em educação.

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Por décadas, a economia brasileira cresceu com aumento de produção, devido à entrada de jovens no mercado. Mas, com o fim do bônus demográfico, o crescimento depende do aumento da produtividade. Como disse o economista Paul Krugman, “produtividade não é tudo, mas a longo prazo é quase tudo”.

Neste aspecto o Brasil não está bem: a produtividade caiu, chegou a ser 50% da americana, e caiu para 25% em algumas décadas.

Trabalhadores menos qualificados são menos produtivos, o que prejudica a economia como um todo. Só o investimento desde a educação básica até a superior pode reverter isso. Além disso, os trabalhadores devem ter acesso a treinamento técnico, como o proporcionado pelo sistema S.

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É importante ter investimento desde a educação básica até a superior Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

Como mencionei em outra coluna, a reforma tributária é uma contribuição para o aumento da produtividade. Alguns estudos já concluem que a reforma trabalhista de 2017 explica, em parte, por que o desemprego não está em níveis mais altos.

Com o pressuposto nada trivial de que a responsabilidade fiscal será mantida nos próximos anos, o Brasil pode ter aumento substancial da taxa de crescimento através de um aumento da taxa de produtividade.

Menos burocracia tributária e uma lei trabalhista mais flexível contribuem para aumentar a produtividade. Mas é essencial investir na formação das pessoas para dar o salto de desenvolvimento. A melhor política social que existe é o emprego; melhor ainda é proporcionar aos jovens uma formação para terem empregos melhores. Eles e o país têm muito a ganhar.

Opinião por Henrique Meirelles

Ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda

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