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Petrobras: Magda deve manter diretor de Transição Energética; troca em áreas operacionais é dúvida

Futura presidente da estatal deve preservar parte dos executivos; diretores ligados às operações fins da companhia têm trabalho bem-avaliado, mas permanência não está garantida

Atualização:

RIO - A futura presidente da Petrobras, Magda Chambriard, vai fazer alterações na diretoria da Petrobras, mas tende a preservar parte dos executivos. Um dos que deve permanecer, conforme apurou o Estadão/Broadcast, é o diretor de Transição Energética e Sustentabilidade, Mauricio Tolmasquim.

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Nesta terça-feira, 21, pela manhã, Tolmasquim encontrou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, na Base Aérea do Galeão, no Rio. Silveira acompanhava o embarque de eletricistas para auxiliar na reconstrução da rede no Rio Grande do Sul. O encontro foi um pedido do ministro, que queria falar de gás natural. A conversa durou alguns minutos e foi interpretada por fontes como um sinal de boa vontade do executivo com o novo momento da companhia, sob Magda e mais alinhada às pautas do governo federal.

Além dos projetos de transição energética da Petrobras, Tolmasquim cuida da gestão do gás produzido pela companhia, à exceção das unidades do processamento de gás (UPGNs), sob responsabilidade de Willian França, diretor de processos industriais. A maior oferta de gás ao mercado pela Petrobras é um ponto de pressão da Esplanada sobre a estatal, sobretudo do Ministério de Minas e Energia (MME).

Tolmasquim, dizem fontes próximas da sucessão, tem relação saudável com Magda, além de fiadores dentro do PT. Agora, ele reúne apoios para permanecer na estatal. A leitura é que, para uma nova presidente com muita experiência em petróleo, mas pouca entrada no mundo da energia elétrica — área em que a Petrobras pretende se arvorar ― Tolmasquim se tornaria até mais estratégico. Respeitado no setor, o ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) foi coordenador do grupo de trabalho de Minas e Energia na transição de governo.

Mauricio Tolmasquim é o diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Mas o diretor não é unanimidade no governo, sendo alvo de críticas no próprio PT. Membros da Federação Única dos Petroleiros (FUP), por exemplo, já reclamaram publicamente da falta de evolução dos projetos e do acolhimento da área de Tolmasquim a funcionários de carreira da Petrobras que não coadunam com a visão do governo atual, logo tachados de “bolsonaristas”. A tendência, portanto, é que ele seja pressionado a promover mudanças na diretoria e a acelerar entregas para aplacar as queixas de lentidão que se multiplicaram nos últimos meses.

Mais de uma pessoa a par da situação observa que, em meio a uma transição sempre delicada, não valeria a pena para a nova gestão “comprar a briga” de substituir Tolmasquim agora, embora seja consenso que ele precisa dar uma guinada para contemplar as expectativas do governo com relação a novos projetos. “Se isso não acontecer, é improvável que fique por muito tempo no cargo”, resume uma fonte.

Diretoria de Engenharia

Também alvo de queixas sobre lentidão no andamento de projetos e obras e pouca atenção ao conteúdo local de projetos, o diretor de Engenharia, Inovação e Tecnologia, Carlos Travassos, pode não ter a mesma sorte. Suas chances de permanecer na diretoria responsável por lidar com os fornecedores da Petrobras são consideradas baixas. Haveria forte resistência ao nome dentro do PT.

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Com 33 anos de Petrobras, Travassos conta com o respaldo de parte dos conselheiros e da própria empresa, mas não deve resistir às críticas, que também passam por encomendas à indústria naval aquém do esperado pelo governo e pelo próprio presidente Lula.

Uma das reclamações mais objetivas é o número considerado baixo de novos navios de transporte efetivamente colocados no plano estratégico (quatro), enquanto os críticos dão conta de uma demanda potencial superior a 20 unidades na subsidiária de transporte da estatal, a Transpetro.

Outra queixa se deve ao prazo estimado para a conclusão da fábrica de fertilizantes de Três Lagoas (MS), a UFN-III. Enquanto membros do governo avaliam ser possível concluir o projeto em um ano e meio, a diretoria de Travassos estimaria até cinco anos, tempo muito maior.

Segundo pessoas a par do caso, a gestão dos nomes da diretoria foi facultada a Magda Chambriard por Lula, mas ela tende, ao menos, a apresentar as mudanças ao presidente da República e aos ministros mais envolvidos na transição de comando, como Alexandre Silveira, de Minas e Energia, e Rui Costa, da Casa Civil.

Áreas operacionais

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Resta dúvida nos bastidores sobre os diretores mais ligados às operações fins da companhia. São os casos de Joelson Mendes, de Exploração e Produção, Carlos Schlosser, de Comercialização e Logística, e William França, de processos industriais. Segundo pessoas que acompanham a transição de comando na Petrobras, os três, que são funcionários de carreira da estatal, têm o trabalho bem-avaliado no governo e no Conselho de Administração, mas ainda não têm permanência garantida.

Aí não haveria um motivo evidente para troca, até por se tratar de áreas sensíveis, ligadas ao “core” operacional da estatal e que vinham apresentando bom desempenho. No caso de Mendes, observam quase todas as fontes, Magda pode optar pela troca por ter atuado longos anos na área de exploração e produção (E&P) e desejar emplacar um nome de sua confiança. O Estadão/Broadcast apurou que ela deve apresentar as mudanças ao governo ainda essa semana, mas terá alguma independência para montar a equipe.

No caso dos dois últimos, Schlosser e França, há a percepção no governo de que o preço dos combustíveis foram reduzidos sem estresse às margens da companhia e que a produção de derivados cresceu nesse quase um ano e meio de gestão sob governos do PT. França é, inclusive, bem quisto por conselheiros da União por ter ampliado a produção e otimizado as paradas técnicas de refinarias. De fato, sob sua gestão, o fator de utilização total (FUT) das refinarias da Petrobras saltou da casa dos 86% para uma média constante de 92%, que chegou a atingir picos de 95% em meados de 2023.

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Situações resolvidas

No governo federal, são dadas como resolvidas a situação da atual presidente interina da Petrobras, Clarice Coppetti, que tem entrada no PT e gozaria da confiança pessoal de Lula. Para Coppetti é só uma questão de saber se permanecerá na diretoria de assuntos corporativos ou se terá papel ainda mais proeminente no comando da empresa.

O mesmo se passa com o diretor de governança e conformidade, Mario Spinelli, mas por motivos diferentes. Após seu nome ter circulado como possível alvo do governo federal nos bastidores, pessoas da Esplanada e do Conselho de Administração da Petrobras disseram ao Estadão/Broadcast que não há meios de demiti-lo porque ele conta com mandato fixo de dois anos independente da presidência. Para fazê-lo, seria necessário articular a destituição via Conselho de Administração com dois terços dos votos, o que não é considerado factível. No mais, Spinelli teria boa relação com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tendo sido seu secretário da Controladoria-Geral na Prefeitura de São Paulo.

Já a situação do ex-diretor financeiro e amigo pessoal de Prates, Sergio Caetano Leite, foi uma das primeiras a ser resolvidas. Desafeto de parte do colegiado, ele foi destituído pelo conselho no dia seguinte à demissão de Prates, dando lugar ao funcionário de carreira da estatal Carlos Alberto Rechelo.

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