O escritor britânico C.S. Lewis não escreveu um texto que viralizou no Facebook com o título "Pandemia do medo". Posts na rede social afirmam que o trecho teria sido extraído do livro Cartas de um diabo a seu aprendiz, publicado inicialmente em 1942, e que teria previsto a pandemia de covid-19. A editora responsável pela publicação de Lewis no Brasil negou que a passagem faça parte da obra citada.
"Esse trecho não aparece em nenhuma edição do livro Cartas de um diabo a seu aprendiz. Ou seja, é fake", informou ao Estadão Verifica a editora Harper Collins. Ao menos 20 versões do boato foram encontradas no Facebook. Um desses posts foi visualizado por 400 mil pessoas.
A Agência Lupa, que também checou este boato, mostrou que o texto foi publicado originalmente no perfil pessoal de Camila Abadie, em 19 de abril, com o nome "Trecho não escrito de Cartas do inferno (ou Cartas de um diabo ao seu aprendiz)". O conteúdo viralizou e acabou sendo creditado ao escritor britânico. Por isso, Camila editou o post para esclarecer: "PS: Pessoal, este texto é meu, não do Lewis. Por isso o título dado foi 'Trecho NÃO escrito de Cartas do inferno'."
Ela voltou a comentar o equívoco com uma amiga na mesma rede social nesta sexta, 19.
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C.S. Lewis foi professor de Literatura Inglesa na Universidade de Oxford. Ele escreveu mais de 30 livros, dentre eles As Crônicas de Nárnia -- que já vendeu mais de 100 milhões de cópias em todo o mundo.
Cartas de um diabo a seu aprendiz reproduz a correspondência de um demônio chamado Maldanado a seu sobrinho, Vermelindo. Escrito em formato de cartas, o livro é um clássico da literatura cristã e constrói um retrato satírico da vida humana, feito pelo ponto de vista do diabo.
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Não é a primeira vez que uma suposta "previsão" sobre a crise do novo coronavírus viraliza nas redes sociais. O Estadão Verifica já checou que um poema que descrevia a quarentena foi escrito em 2020, e não em 1869. Também apuramos que postagens inventaram uma profecia de Nostradamus sobre a pandemia.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.