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Coletânea no Facebook sobre guerra na Ucrânia traz lançamento de foguetes do Hamas e outros conteúdos fora de contexto

Post viralizou em meio a operação militar da Rússia no Leste Europeu

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Foto do author Samuel Lima
Atualização:

Com o avanço da operação militar da Rússia contra a Ucrânia, mais conteúdos desinformativos sobre a guerra aparecem nas redes sociais. O Estadão Verifica encontrou uma coletânea circulando no Facebook na sexta-feira, 25 de fevereiro.

  Foto: Estadão

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Apesar de a peça ter apenas 27 segundos de duração, pelo menos cinco trechos não foram gravados na Ucrânia ou são registros antigos, de antes da guerra. Em menos de 24h, o vídeo foi assistido por mais de 210 mil pessoas. Confira a checagem completa a seguir.

Vídeo com disparos de mísseis na guerra entre Rússia e Ucrânia -- FALSO

A primeira imagem da peça não foi gravada na Rússia ou na Ucrânia, e sim na Faixa de Gaza, onde há um conflito histórico entre Israel e o grupo armado palestino Hamas. É um vídeo de baixa qualidade, que mostra sucessivos disparos de foguetes.

Captura de tela do vídeo checado. (Reprodução/Facebook) Foto: Estadão

Para chegar ao conteúdo original, o blog fez uma busca reversa de imagens e descobriu que o prédio que aparece na parte central do vídeo fica localizado em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza. A mesma estrutura aparece em uma foto de Abed Rahim Khatib, da agência NurPhoto, de 23 de agosto de 2021, que consta no banco de imagens da AFP.

Foto de Abed Rahim Khatib/NurPhoto em banco de imagens. (Reprodução/AFP) Foto: Estadão

Em novas buscas sobre o conflito entre Israel e o Hamas, o Estadão Verifica encontrou o vídeo original no canal do YouTube do jornal espanhol La Vanguardia. A cena é de 12 de maio de 2021 e traz a seguinte legenda: "Hamas lança centenas de mísseis contra Israel". Veja a partir de 23 segundos.

Foto de uma mulher com uma lesão na cabeça -- VERDADEIRO

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É verdadeira a foto que mostra uma mulher com a cabeça coberta de gaze, após se ferir durante o conflito na Ucrânia. O registro é de autoria do fotógrafo Alex Lourie, da agência Redux. "A Rússia declarou guerra contra a Ucrânia. Eles bombardearam um conjunto de apartamentos civis em Chuguev, perto de Kharkiv, em 24 de fevereiro de 2022. Helena, 53 anos, é uma professora que se feriu quando cacos de vidro de um espelho a cortaram", descreve o autor.

Foto de Alex Lourie em banco de imagens. (Reprodução/Redux) Foto: Estadão

Foto de uma mulher sendo retirada de um prédio por dois homens -- VERDADEIRO

O conteúdo traz outra foto de Alex Lourie, da agência Redux, sobre o mesmo ataque russo contra a cidade de Chuguev, na Ucrânia. A foto foi tirada no mesmo conjunto de apartamentos atingido por um bombardeio. Diferentemente da anterior, não há informações adicionais sobre os envolvidos.

Foto de Alex Lourie em banco de imagens. (Reprodução/Redux) Foto: Estadão

Foto de um prédio destruído e bombeiros em operação -- VERDADEIRO

O vídeo mostra um terceiro registro na cidade de Chuguev, na Ucrânia, mas desta vez sob as lentes do fotógrafo Aris Messinis, da AFP. "Bombeiros trabalham contra as chamas em um prédio após bombardeio na cidade de Chuguev, no leste da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, enquanto forças armadas da Rússia tentam invadir o país em diversos pontos", informa o jornalista.

Foto de Aris Messinis em banco de imagens. (Reprodução/AFP) Foto: Estadão

Foto de uma grande explosão atrás de dois prédios na Ucrânia -- FALSO

Esse conteúdo circula desde as primeiras horas do conflito na internet e teve a origem desmentida pelo Estadão Verifica em outra checagem. Na realidade, a foto é de maio de 2021, durante ataques de Israel à Palestina, e não têm nenhuma ligação com os atuais conflitos no Leste Europeu. A imagem é creditada ao fotógrafo da AFP Mahmud Hams. 

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Em reportagem do site da rede de televisão Al Jazeera do dia 11 de maio de 2021, a legenda da foto diz: "As forças israelenses continuaram a bombardear o território palestino até a manhã de terça-feira, mirando em locais em Khan Younis, no campo de refugiados de al-Bureij e no bairro de al-Zaitoun". 

Foto de Mahmud Hams, da AFP, em reportagem sobre Gaza. (Reprodução/Al Jazeera) Foto: Estadão

Foto de fumaça subindo em uma cidade na Ucrânia após bombardeios -- PROVAVELMENTE VERDADEIRO

A busca pela foto abaixo retorna apenas resultados sem identificação de autoria e local, creditado por alguns veículos brasileiros como "divulgação" ou "redes sociais".

Foto que circula na internet como sendo da guerra na Ucrânia. (Reprodução/Reddit) Foto: Estadão

No entanto, o banco de imagens da AFP traz um registro parecido de um bombardeio na Ucrânia, clicado por Aris Messinis. "Fumaça preta sobe de um aeroporto militar em Chuguev, perto de Kharkiv, em 24 de fevereiro de 2022", descreve na legenda. 

Foto de Aris Messinis em banco de imagens. (Reprodução/AFP) Foto: Estadão

É possível notar a semelhança entre o estilo dos prédios e o formato da fumaça preta que sobe no ar. Curiosamente, essa mesma foto da AFP aparece segundos depois no post viral que está sendo analisado.

O blog também conseguiu identificar prédios muito parecidos com os que aparecem em versões maiores da foto na internet ao analisar imagens de satélite do Google Maps

Localização de prédios semelhantes em Chuguev. (Reprodução/Google Maps) Foto: Estadão

Pessoas rezando na Ucrânia -- FORA DE CONTEXTO

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Esse conteúdo foi analisado anteriormente pelo Fato ou Fake, núcleo de checagem do portal G1. De fato, o grupo de oração foi fotografado de joelhos em meio à neve na cidade ucraniana de Kharkiv, mas não durante a crise atual com a Rússia. A foto é de pelo menos setembro de 2019 e consta no site da International Mission Board (IMB), uma sociedade missionária batista.

Foto disponibilizada em site religioso em 2019. (Reprodução/IMB) Foto: Estadão

Foto de uma estrutura distante em chamas -- SEM INFORMAÇÃO

Uma foto de um local distante em chamas circulou em um fórum do Reddit ainda na madrugada de quinta-feira, 24 de fevereiro, com legendas indicando se tratar de um ataque de mísseis da Rússia contra uma brigada de defesa antiaérea de Nova Kakhovka, na Ucrânia. O blog não conseguiu, porém, confirmar essa informação em reportagens ou outras fontes confiáveis. O registro também não traz elementos suficientes para comparar com ferramentas de geolocalização. 

Imagem que circula nas redes sociais como sendo da guerra na Ucrânia. (Reprodução/Reddit) Foto: Estadão

Segundo a rede de televisão CNN, um grande comboio militar russo invadiu a cidade nesta sexta-feira, 25 de fevereiro. Há registro de bombardeios e combates terrestres na região, que fica ao Sul da Ucrânia, próxima ao Mar Negro e ao território da Crimeia, anexado pela Rússia em 2014.

Vídeo de uma suposta explosão na Ucrânia -- FALSO

O post que viralizou no Facebook traz outra alegação desmentida pelo blog nesta semana, a respeito de uma suposta explosão em uma cidade ucraniana durante a noite. Na verdade, o vídeo é anterior à invasão russa ao país europeu e mostra a queda de um raio. Conteúdos compartilhados no TikTok, em janeiro deste ano, com maior nitidez, permitem observar o fenômeno.

@kiryshkkanew удар молнии в электростанцию! ?⚡? ♬ оригинальный звук - Deidara ???

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Outro vídeo com mísseis russos sendo atirados para cima -- FALSO

O trecho também foi retirado da gravação disponibilizada pelo jornal espanhol La Vanguardia, que descreve a cena como um ataque do Hamas contra Israel, na Faixa de Gaza, em maio de 2021. O trecho pode ser visto a partir de 44 segundos de vídeo.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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