Mulher em vídeo com Flávio Dino é humorista, e não esposa de líder do Comando Vermelho

Postagens alegam que ministro disse ser fã de ‘primeira-dama’ da facção criminosa, mas ele se referia a uma comediante potiguar

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Por Gabriel Belic

O que estão compartilhando: que o ministro da Justiça, Flávio Dino, disse ser fã da “primeira-dama” do Comando Vermelho em um vídeo.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Na realidade, quem aparece ao lado de Dino é a comediante Virgínia Álvares, do Rio Grande do Norte. O vídeo original foi publicado nas redes sociais da humorista no dia 27 de julho deste ano. A alegação enganosa faz alusão a reportagem do Estadão que revelou que a esposa de um dos líderes do Comando Vermelho foi recebida pelo Ministério da Justiça para duas reuniões.

Flávio Dino disse ser fã de humorista potiguar, e não de "primeira-dama" do Comando Vermelho Foto: Reprodução/Instagram

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Saiba mais: o vídeo disseminado nas redes sociais mostra Dino com Virgínia Álvares, humorista potiguar que faz conteúdos a favor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na gravação, o ministro abraça Virgínia e diz ser seu fã. Peças desinformativas têm confundido a influenciadora com Luciane Barbosa Farias, mulher de líder do CV que foi recebida duas vezes no Ministério da Justiça.

Em postagem compartilhada nas redes sociais, a comediante afirmou que “a disseminação desenfreada dessa notícia falsa teve consequências devastadoras” e que “a falta de checagem dos fatos antes de compartilhar algo pode resultar em danos irreparáveis para a vida de pessoas inocentes”.

Ministério da Justiça recebeu mulher de líder do Comando Vermelho para duas reuniões

Nesta segunda-feira, 13, o Estadão revelou que secretários e assessores do Ministério da Justiça receberam Luciane Barbosa Farias duas vezes neste ano. Conhecida como a “dama do tráfico amazonense”, ela é casada com Clemilson dos Santos Farias, classificado pelo Ministério Público do Amazonas como um indivíduo de “altíssima periculosidade, com desprezo à vida alheia, ostentador de poder econômico do tráfico de drogas e não indulgente para com devedores”.

Clemilson, conhecido como “Tio Patinhas”, era considerado “criminoso número um” na lista de procurados pela polícia do Amazonas e foi preso em dezembro do ano passado. O casal foi condenado em segunda instância por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa. Ele cumpre 31 anos no presídio de Tefé (AM); ela foi sentenciada a dez anos e recorre em liberdade.

Conforme apuração do Estadão, Luciane se encontrou com Elias Vaz, secretário Nacional de Assuntos Legislativos de Flávio Dino, no dia 19 de março. Posteriormente, em 2 de maio, ela esteve com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).

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No X (antigo Twitter), Elias Vaz alegou que, no dia 14 de março, recebeu uma solicitação de audiência da vice-presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim) do Rio de Janeiro. Conforme o secretário, Luciane estava como acompanhante e falou apenas sobre “supostas irregularidades no sistema penitenciário”. Por isso, de acordo com Vaz, foi sugerido que a comitiva procurasse a Senappen.

Luciane entrou no Ministério da Justiça como presidente da Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), criada em 2022. A instituição alega atuar como uma ONG em defesa dos direitos dos presos. No entanto, investigadores da Polícia Civil do Amazonas indicam que a organização atua a favor dos detentos ligados ao Comando Vermelho e é financiada com dinheiro do tráfico de drogas.

Nas redes sociais, Dino afirmou que nunca recebeu “líder de facção criminosa, ou esposa, ou parente, ou vizinho” em audiência no Ministério da Justiça. Na postagem, o ministro alegou que a audiência com Luciane foi feita em outro local, sem seu conhecimento ou presença.

Como lidar com postagens do tipo: A peça verificada utiliza um vídeo real para desinformar sobre um assunto em evidência. Nesses casos, uma busca no Google por palavras-chave pode ajudar a encontrar fontes confiáveis que informem sobre a pauta em questão. O boato aqui analisado também foi checado pela agência de checagem Aos Fatos.

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