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Biden está ressentido com Obama e pressão de democratas para desistir da disputa, diz jornal

Enquanto se recupera da covid em sua casa em Delaware, aliados disseram ao The New York Times que o presidente estaria irritado com os líderes democratas

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Por Peter Baker (The New York Times), Katie Rogers (The New York Times) e Michael Shear (The New York Times )

Doente com covid e abandonado por aliados, o presidente dos EUA, Joe Biden, está furioso em sua casa de praia em Delaware, cada vez mais ressentido com o que ele vê como uma campanha orquestrada para tirá-lo da corrida presidencial e amargo com alguns daqueles que ele já considerou próximos, incluindo seu ex-companheiro de chapa Barack Obama.

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Biden está na política há tempo suficiente para presumir que os vazamentos que apareceram na mídia nos últimos dias estão sendo coordenados para aumentar a pressão sobre ele para que se afaste, de acordo com pessoas próximas. Ele considera a deputada Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara, a principal instigadora, mas também está irritado com Obama, a quem considera um titereiro manipulando marionetes nos bastidores.

O atrito entre o presidente em exercício e os líderes de seu próprio partido, tão perto de uma eleição, é diferente de tudo o que se viu em Washington em muitas gerações - especialmente porque os democratas que agora estão trabalhando para facilitar sua saída foram alguns dos aliados mais importantes para seu sucesso nos últimos doze anos. Foi Obama quem elevou Biden de um candidato presidencial secundário à vice-presidência, preparando-o para ganhar a Casa Branca em 2020, e foram Pelosi e o Senador Chuck Schumer, líder democrata no Senado, que impulsionaram suas conquistas legislativas marcantes.

Embora Biden e sua equipe insistam publicamente que ele permanecerá na disputa, pessoas próximas disseram que ele está aceitando cada vez mais a possibilidade de não conseguir Foto: Susan Walsh/AP

Mas várias pessoas próximas a Biden, que insistiram no anonimato para falar, descreveram um presidente com problemas de saúde, tossindo a quilômetros de distância dos corredores do poder, enquanto sua presidência enfrenta seu momento mais perigoso.

Ele observou, cada vez mais exasperado, uma sucessão de notícias informando que Schumer, Pelosi, Obama e o deputado Hakeem Jeffries, de Nova York, líder democrata na Câmara, todos alertaram sobre uma derrota devastadora para o partido em novembro.

E ele certamente notou que Obama não fez nada para ajudá-lo nos últimos dias, mesmo quando seus próprios ex-assessores lideraram publicamente o apelo para que Biden se retirasse, um sinal interpretado, com ou sem razão, como uma mensagem do grupo do ex-presidente. A presença invisível, mas sentida, de Obama, em particular, trouxe uma aura shakespeariana ao drama que está acontecendo agora, dada a parceria de oito anos entre os dois.

Embora Biden e sua equipe insistam publicamente que ele permanecerá na disputa, pessoas próximas disseram que ele está aceitando cada vez mais a possibilidade de não conseguir, e alguns começaram a discutir datas e locais para um possível anúncio de que ele está desistindo.

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Um fator que pode adiar a decisão: os assessores acreditam que Biden não gostaria de fazer isso antes da visita do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, a Washington na quarta-feira, por iniciativa dos republicanos, para falar ao Congresso, não querendo dar ao primeiro-ministro a satisfação de vê-lo desistir da disputa diante de suas relações tensas ultimamente com a guerra de Gaza.

Mas Biden não gosta de pressão. Aqueles que o pressionam correm o risco de lhe dar um empurrão e levá-lo a permanecer na disputa presidencial. Duas pessoas familiarizadas com seu pensamento disseram que ele não havia mudado de ideia até a tarde de sexta-feira, 19.

Em particular, ao criticar Obama e até mesmo os assessores do ex-presidente Bill Clinton, Biden deixou claro que considera particularmente estranho o fato de os arquitetos das históricas derrotas democratas nas eleições de meio de mandato de 1994 e 2010 estarem lhe dando lições sobre como salvar o partido depois que ele presidiu uma eleição de meio de mandato melhor do que o esperado em 2022. Embora uma pessoa tenha dito que Biden não está irritado com o próprio Clinton - na verdade, ele está grato pelo fato de o ex-presidente ter pressionado os doadores a continuar doando - Obama é outra história.

Obama elevou Biden de um candidato presidencial secundário à vice-presidência durante parceria de governo Foto: Doug Mills/NYT

“Temos que cauterizar essa ferida agora mesmo e quanto mais cedo fizermos isso, melhor”, disse o deputado Gerald E. Connolly, democrata da Virgínia, que não pediu publicamente que o presidente se afastasse. Ele disse que a enxurrada de críticas deve ser difícil para Biden. “Quero dizer, para mim, isso é muito doloroso. Acho que isso apenas mostra o cálculo frio da política”.

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Mais democratas do Congresso pediram publicamente ao presidente na sexta-feira que passasse a tocha para outro candidato para enfrentar o ex-presidente Donald Trump. Entre eles estavam o senador Martin Heinrich, do Novo México, o senador Sherrod Brown, de Ohio, e pelo menos nove democratas da Câmara, incluindo a deputada Zoe Lofgren, uma aliada próxima de Pelosi, sua colega californiana.

O fato de os aliados de Pelosi terem se manifestado não é visto como coincidência pelo presidente. Quando outro de seus aliados, o deputado Adam Schiff, da Califórnia, se manifestou no início desta semana, um funcionário do governo Biden observou que os lábios de Schiff poderiam estar se movendo, mas era Pelosi falando.

Não foram apenas seus aliados. O deputado Seth Moulton, democrata de Massachusetts e rival de Pelosi, disse na sexta-feira que Biden, “um mentor e amigo” que o ajudou a ser eleito para a Câmara em 2014, “não pareceu me reconhecer” quando se encontraram na comemoração do aniversário do Dia D na França no mês passado.

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“É claro que isso pode acontecer quando qualquer pessoa envelhece, mas ao assistir ao desastroso debate de algumas semanas atrás, tenho que admitir: o que vi na Normandia era parte de um problema mais profundo”, escreveu Moulton no Boston Globe, repetindo seu pedido para que Biden desistisse.

Biden respondeu na sexta-feira com uma declaração prometendo continuar na corrida. “Estou ansioso para voltar à campanha na próxima semana e continuar expondo a ameaça da agenda do Projeto 2025 de Donald Trump, ao mesmo tempo em que defendo meu próprio histórico e a visão que tenho para os Estados Unidos: um país onde salvamos nossa democracia, protegemos nossos direitos e liberdades e criamos oportunidades para todos”, disse ele.

A Casa Branca e a campanha de Biden negaram que ele esteja prestes a desistir. “Absolutamente, o presidente está nessa corrida”, disse Jennifer O’Malley Dillon, presidente da campanha, no programa ‘Morning Joe’ da MSNBC na sexta-feira, um dos programas favoritos do presidente e um local regular para os democratas falarem com outros democratas. “Vocês já o ouviram dizer isso várias vezes”.

Ela reconheceu, no entanto, que a campanha sofreu erosão. “Não estou aqui para dizer que essas semanas não foram difíceis para a campanha”, disse ela. “Não há dúvida de que tem sido. E, sem dúvida, vimos uma queda no apoio, mas foi um movimento pequeno.” Ela argumentou que as pesquisas mostram que a disputa já estava “acirrada” antes do debate e que, portanto, não houve uma mudança de muitos eleitores desde então.

“O povo americano sabe que o presidente é mais velho”, disse ela. “Eles estão vendo isso. Eles sabiam disso antes do debate. Sim, é claro, temos muito trabalho a fazer para garantir que estamos tranquilizando o povo americano de que, sim, ele está velho, mas ele pode fazer o trabalho e pode vencer”.

Todas as maquinações políticas estavam ocorrendo enquanto o presidente lutava contra os sintomas da covid em isolamento em Rehoboth, sua casa de férias em Delaware. Ele ainda estava tossindo e rouco na sexta-feira, mas estava melhorando, de acordo com seu médico. Jill Biden estava com ele, embora estivesse em um quarto separado.

Entre os que estarão com ele em Rehoboth neste fim de semana estão seus assessores Steve Ricchetti e Annie Tomasini. Anthony Bernal, chefe de gabinete da primeira-dama, a acompanhou. Não ficou claro se Biden ainda retornaria a Washington no domingo, conforme planejado, mas ele estava programado para viajar na quarta-feira para Austin, Texas, para uma comemoração adiada do 60º aniversário da Lei dos Direitos Civis na Biblioteca Presidencial Lyndon B. Johnson.

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A irritação de Biden com seu ex-parceiro, Obama, representa o mais recente capítulo de um relacionamento complicado. Embora não fossem muito próximos quando se uniram para concorrer em 2008, eles se tornaram amigos durante seus dois mandatos juntos na Casa Branca, criando laços especialmente quando o filho de Biden, Beau, morreu em 2015.

Mas Biden tem guardado rancor desde que Obama o desencorajou gentilmente a concorrer à presidência em 2016, direcionando a indicação democrata para Hillary Clinton, que perdeu para Trump. Portanto, o conselho de Obama pode não ser particularmente bem-vindo em Rehoboth neste momento, o que talvez seja uma das razões pelas quais o ex-presidente não o está oferecendo diretamente, de acordo com pessoas próximas a ele.

Obama viu Biden pela última vez em um evento luxuoso de arrecadação de fundos em Hollywood antes do debate em junho, quando os dois apareceram juntos no palco. No final, Obama parecia estar conduzindo Biden para fora do palco. Um ex-assessor de Obama que estava presente naquela noite disse que ficou claro que o ex-presidente estava assustado e abalado com o envelhecimento de Biden e parecia desorientado.

O evento foi a última grande arrecadação para a campanha, que esperava obter cerca de US$ 50 milhões este mês de grandes doadores para o Biden Victory Fund, assim como fez em junho. Porém, após o debate, a campanha pode arrecadar menos de US$ 25 milhões em julho, uma quantia extremamente modesta para um mês de verão em uma corrida presidencial, de acordo com quatro fontes ligadas às finanças da campanha de Biden. A campanha não é obrigada a divulgar seus números de arrecadação de fundos de julho até meados de agosto, e uma porta-voz descartou os relatórios como “especulação”.

Enquanto tentam influenciar Biden, muitos associados estão evitando fazer declarações públicas duras porque sentem empatia por ele e temem que tais declarações possam sair pela culatra. Tornar isso público, segundo alguns, poderia fazer com que o presidente se irritasse ainda mais e mantivesse sua candidatura. E alguns relutaram em ter seus nomes ligados às declarações porque se preocupam com a reação do presidente a um ataque de seus amigos.

Embora os cerca de 40 membros do Congresso que pediram publicamente que o presidente deixasse a corrida representem uma minoria, dezenas de outros concordam. Dois democratas da Câmara estimaram que, em uma votação secreta, 70% a 80% de sua bancada prefeririam que Biden se retirasse da disputa.

“Eles não conseguirão conter isso. Acho que a barragem se rompeu”, disse Connolly. Mesmo antes dos anúncios de sexta-feira, disse ele, “minha sensação era de que a maioria dos meus colegas estava tão desconfortável que aceitaria de bom grado uma decisão de trocar de candidato”.

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O senador Chris Coons, democrata de Delaware e um dos aliados mais próximos do presidente, fez uma defesa apaixonada de sua capacidade de cumprir um segundo mandato. Falando do palco da Conferência de Segurança de Aspen, no Colorado, Coons citou o trabalho do presidente como anfitrião de uma cúpula da Otan, bem como sua recente coletiva de imprensa e eventos de campanha. “Há pessoas que ainda dizem que ele não é forte ou capaz o suficiente para ser nosso próximo presidente”, disse Coons. “Eu discordo”.

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