PUBLICIDADE

Colunistas do Estadão analisam crise entre governo Lula e Israel por fala sobre Holocausto

De acordo com analistas e colunistas do Estadão, Lula errou ao fazer a comparação, reduziu a possibilidade de se colocar como mediador e criou uma crise desnecessária para seu governo

Foto do author Redação
Por Redação

As declarações do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, comparando a ofensiva israelense na Faixa de Gaza ao extermínio de judeus feito pela Alemanha Nazista de Adolf Hitler no domingo, 18, criou uma crise diplomática entre Brasília e Tel-Aviv. Segundo colunistas e analistas entrevistados pelo Estadão, Lula errou ao fazer a comparação, reduziu a possibilidade de se colocar como mediador e criou uma crise desnecessária para seu governo.

PUBLICIDADE

Na segunda-feira, 19, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, optou por repreender o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, no Museu do Holocausto, em Jerusalém e afirmou que Lula é persona non grata em Israel até se desculpar pela comparação. O chanceler brasileiro Mauro Vieira também convocou o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, para uma conversa de repreensão e convocou Meyer a Brasília para consultas.

Saiba mais sobre as avaliações de colunistas e analistas entrevistados pelo Estadão em relação a mais uma política de Lula em política externa.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa em um evento no Palácio do Planalto, em Brasília  Foto: Evaristo Sa/AFP

Lourival Sant’Anna

Para o colunista do Estadão Lourival Sant´Anna, Lula afrontou a comunidade judaica como um todo e a imagem do Brasil ao comparar a ofensiva israelense com o Holocausto. Além de ressaltar a seletividade de Lula em relação aos conflitos, uma vez que destacou a morte de crianças e mulheres em Gaza, mas não é vocal em relação ao que os russos estão fazendo na Ucrânia.

Sant´Anna aponta que o Brasil é uma potência regional e não global e poderia exercer a sua influência em questões relacionadas a Venezuela, mas não consegue se desvencilhar da condição de contestador da ordem mundial, o que enfraquece sua voz até mesmo onde teria chances de ser ouvida.

Eliane Cantanhêde

A colunista Eliane Cantanhêde diz que Lula troca manchetes positivas por negativas ao lançar frases de efeito irresponsáveis. “É admissível criticar Israel por reagir ao ataque terrorista do Hamas desproporcionalmente, com milhares de mulheres, crianças e civis mortos em Gaza. Mas, daí a comparar a ação israelense com o Holocausto e os 6 milhões de judeus mortos pelo nazismo é inaceitável sob todos os pontos de vista. Netanyahu é tudo o que se sabe, mas Lula lhe deu de bandeja a chance de retruca”, aponta Cantanhêde.

Para a colunista, Lula extrapolou limites políticos e diplomáticos e ao invés de procurar saídas para reverter a situação, dobrou a aposta e escalou ainda mais a crise com Tel-Aviv.

Publicidade

Monica Gugliano

Monica Gugliano destaca que o governo Lula não deve pedir desculpas pelo ocorrido. A colunista avalia que a crise diplomática entre os dois países tem tudo para aumentar. Segundo apuração de Gugliano, um membro da chancelaria brasileira afirmou que o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, foi humilhado ao ser convocado para uma reunião no Museu do Holocausto e não na sede da chancelaria israelense, como é o costume neste tipo de procedimento.

A avaliação é que a resposta israelense às declarações de Lula foi desproporcional e será preciso muita diplomacia para contornar o confronto.

Bruno Soller

O autor do blog De Dados em Dados, Bruno Soller, afirma que Lula comprou uma briga com um eleitorado importante: os evangélicos. De acordo com Soller, a associação entre os evangélicos e Israel é grande e mais de um terço da população brasileira se declara desta fé.

“Para Lula, resta se redimir. Se quiser ainda dialogar com essa importante fatia do eleitorado brasileiro, o presidente precisará antes de mais nada assumir seu erro, se mostrar falho, para a partir daí ter a possibilidade de reconquista-los. Precisa fazer sua parte”, aponta o autor do blog De Dados em Dados.

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, participa de coletiva de imprensa no Memorial do Holocausto, em Jerusalém, ao lado do embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer  Foto: Ahmad Gharabli/AFP

Rubens Barbosa

PUBLICIDADE

Rubens Barbosa, colunista do Estadão, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e ex-embaixador do Brasil em Londres e Washington destacou em entrevista ao Estadão que Lula passou dos limites ao “atacar o Estado e não o governo”.

“A declaração de Lula passou dos limites. Ele tem sido consistente nas críticas à guerra. Mas agora ele ataca o Estado e não o governo. Coloca em questão o Estado de Israel. Essa não é a posição do Itamaraty. Isso prejudica a percepção externa sobre o Brasil, prejudica a autonomia. O País tem de ter posição de independência e não de ideologização política”, ponderou Barbosa.

Diogo Schelp

O colunista Diogo Schelp destacou que é válido discutir se Israel comete ou não genocídio na Faixa de Gaza, reconhecer os excessos da ofensiva israelense, além de pressionar Tel-Aviv para que reduza a atividade militar no enclave palestino.

Publicidade

Contudo, ao comparar a operação militar israelense com o Holocausto, Lula não está fazendo isso, segundo Schelp. “O presidente brasileiro, quando lê os discursos escritos por sua chancelaria, expõe uma posição crítica razoavelmente equilibrada às ações de Israel em Gaza – e, portanto, com maior chance de se somar ao coro internacional que clama por comedimento e diálogo. Mas quando fala de improviso, Lula expõe o que realmente pensa de Israel e do conflito, demonstrando um enorme desconhecimento de história e uma maneira enviesada de ver os fatos atuais”.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, participou de uma reunião da Liga Árabe no Cairo, Egito  Foto: Khaled Elfiqi/EFE

Luiz Raatz

O subeditor de Internacional, Luiz Raatz, aponta que Lula deve se encontrar com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, na quarta-feira, 21, em um momento no qual a guerra de Israel contra o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza coloca as diplomacias de Brasil e Estados Unidos, “na defensiva, ainda que por motivos distintos.

Raatz avalia que Lula voltou à presidência com um programa de política externa que prometia trazer o Brasil de volta à arena internacional, mas fez uma série de escolhas questionáveis como “a reabilitação política do ditador Nicolás Maduro em Brasília, os acenos a Vladimir Putin após o G-20 e, agora, a evocação do Holocausto para criticar Israel”.

Já a administração de Joe Biden quer que a guerra acabe na Faixa de Gaza o mais rápido possível, para não prejudicar ainda mais a popularidade de Biden, que deve enfrentar o ex-presidente Donald Trump em um acirrado pleito em novembro.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.