Primárias mostram força do trumpismo entre eleitores republicanos

Candidatos que lançaram dúvidas agressivas sobre a eleição de 2020 se saíram melhor

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Por Redação
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O início tumultuado da temporada primária republicana nos Estados Unidos, incluindo uma corrida ao Senado que dividiu conservadores na Pensilvânia na noite de terça-feira, mostrou como Donald Trump reformulou seu partido à sua imagem e também a força do trumpismo entre seus eleitores.

Os candidatos republicanos que se saíram melhor na terça-feira foram os que mais questionaram os resultados das eleições de 2020 e fizeram campanha para restringir ainda mais a votação e reformular a forma como as eleições são realizadas.

Em cada uma das eleições primárias mais controversas deste mês, quase todos os candidatos fizeram uma campanha inspirada na do ex-presidente e repetiram suas falsas alegações sobre fraude eleitoral em 2020. Eles promovem suas políticas e os sites e anúncios de suas campanhas são estampados com sua imagem.

Doug Mastriano venceu as prévias para disputar o governo da Pensilvânia; ele ganhou o apoio de Trump já na reta final. Foto: Carolyn Kaster/AP Foto: Carolyn Kaster/AP

Na corrida para governador da Pensilvânia, um candidato que espalhou mentiras sobre a contagem de votos ganhou a indicação republicana. O resultado colocou Doug Mastriano, um negacionista da eleição e candidato da extrema direita, a uma curta distância de administrar um Estado considerado chave para a batalha presidencial de 2024.

Mastriano participou do comício em 6 de janeiro de 2021 que levou ao ataque ao Capitólio e, desde então, pediu a anulação da certificação dos resultados das eleições que deram vitória a Joe Biden. O candidato, porém, já estava bem à frente nas pesquisas quando Trump anunciou seu apoio a ele, dias antes das primárias.

O apoio de Trump foi amplamente visto como um esforço para proteger suas apostas e garantir uma vitória no Estado no caso de seu candidato ao Senado, o famoso cirurgião cardíaco Dr. Mehmet Oz, perder a corrida. Dr. Oz e o ex-executivo de investimentos David McCormick estavam praticamente empatados nesta quarta-feira, 18, com mais votos a serem contados. A situação caminha para uma recontagem automática.

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A disputa pela vaga ao Senado no Estado, porém, enviou uma mensagem mais mista. Kathy Barnette, uma comentarista de extrema direita que centrou sua campanha na reprodução das falsas alegações eleitorais de Trump, ficou atrás de seus rivais McCormick e Dr.Oz.

Mas seu desempenho foi muito melhor do que muitos observadores políticos esperavam há apenas duas semanas, quando ela ganhou força de última hora na corrida após seu forte desempenho no debate.

Kathy Barnette ficou em terceiro lugar na disputa pela vaga ao Senado, mas seu desempenho surpreendeu analistas. Foto: Matt Slocum/AP Foto: Matt Slocum/AP

McCormick e o Dr. Oz também se recusaram a reconhecer Biden como o legítimo vencedor em 2020, jogando para a base trumpista de seu partido.

O sucesso daqueles que rejeitam a eleição ocorre depois de um ano e meio em que Trump continuamente se fixa em sua derrota em 2020 e, em alguns lugares, chegou até a pedir aos legisladores estaduais republicanos que tentassem cancelar a certificação dos resultados de seus Estados – algo que não tem fundamento legal.

Enquanto isso, o apoio do ex-presidente foi suficiente para levar seu candidato ao Senado à vitória na Carolina do Norte na terça-feira. O deputado Ted Budd derrotou um ex-governador por mais de 30 pontos porcentuais nas primárias. Budd votou no ano passado contra a certificação dos resultados das eleições de 2020 e, na terça-feira, se recusou a reconhecer que Biden era o legítimo vencedor das presidenciais.

Ele também enviou uma mensagem de texto para Mark Meadows, então Chefe de Gabinete da Casa Branca de Trump, para sustentar a falsa alegação de que a Dominion Voting Systems (empresa que vende hardware e software de votação eletrônica) teria uma conexão com o bilionário liberal George Soros.

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Trump entrou na temporada primária em alta depois que JD Vance, seu candidato endossado na disputa hipercompetitiva do Senado do Partido Republicano de Ohio, foi catapultado do terceiro para o primeiro lugar, com 32% dos votos.

O resultado dessas importantes disputas estabeleceu o valor do endosso do ex-presidente em 2022: cerca de um terço dos eleitores republicanos nas primárias apoiarão um candidato trumpista.

Criador e criatura

O ex-presidente ganhou muito mais corridas do que perdeu até agora. Mas seu poder sobre os eleitores republicanos provou ser menos dominante. As recentes disputas também expuseram os limites do controle do magnata sobre sua criação.

Candidatos endossados por Trump perderam as disputas para governador em Idaho e Nebraska, e uma corrida para a Câmara na Carolina do Norte. Nas disputas para a vaga do Senado em Ohio e na Pensilvânia, cerca de 70% dos republicanos votaram contra sua escolha. Nas disputas da próxima semana, seus candidatos escolhidos para governador da Geórgia e senador do Alabama estão perdendo nas pesquisas.

Há muito conhecido por ser concentrado em seus eleitores, Trump parece cada vez mais estar perseguindo seus apoiadores do que os mobilizando. A desconfiança dos eleitores republicanos em relação à autoridade e o apetite por política de linha-dura – características que Trump já capitalizou – trabalharam contra ele. Alguns veem o presidente que elegeram para liderar uma insurgência como uma figura do establishment dentro de seu próprio movimento.

O trumpismo está em ascensão no Partido Republicano, com ou sem Trump, disse Ken Spain, estrategista republicano e ex-funcionário do Comitê Nacional Republicano do Congresso. “O chamado movimento MAGA é um movimento de baixo para cima”, disse Spain, “não é um movimento que deve ser ditado de cima para baixo”.

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Ex-presidente Donald Trump em comício na Pensilvânia em 6 de maio. Foto: Gene J. Puskar/AP Foto: Gene J. Puskar/AP

As primárias não são a primeira vez que os eleitores conservadores do círculo eleitoral de Trump demonstraram sua independência do patriarca do movimento Make America Great Again (MAGA).

Em agosto, em um dos maiores comícios pós-campanha presidencial de Trump, a multidão vaiou depois que ele pediu que fossem vacinados contra a covid-19. Em janeiro, algumas das vozes mais influentes na órbita de Trump criticaram abertamente sua escolha para uma vaga na Câmara no centro do Tennessee: Morgan Ortagus – que serviu no governo Trump por dois anos como porta-voz do Departamento de Estado – mas não foi considerado “MAGA o suficiente”.

Essas minirrebeliões tendem a explodir sempre que os apoiadores de Trump veem suas diretrizes ou endossos como insuficientes. “Não há herdeiro óbvio quando se trata de America First – ainda é ele”, disse Kellyanne Conway, gerente de campanha de Trump em 2016 e conselheira da Casa Branca. “Mas as pessoas sentem que podem amá-lo e pretendem segui-lo em outra corrida presidencial – e não concordar com todas as suas escolhas este ano.”

Ainda assim, os candidatos republicanos continuam desesperados para ganhar o apoio de Trump. Na disputa pelo Senado da Geórgia, o apoio de Trump a Herschel Walker manteve rivais sérios afastados.

Mas o surgimento de uma ala autônoma do movimento MAGA – mais intransigente do que Trump – permitiu que até candidatos sem o endosso de Trump reivindicassem o lema. “A MAGA não pertence ao presidente Trump”, disse Kathy Barnette durante um debate primário no Senado da Pensilvânia em abril. /NYT e AP