Imigrantes evitam ser identificados em acampamento provisório no norte da França para manter chances de viver na Grã-Bretanha
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Por Andrei Netto, CALAIS e FRANÇA
CALAIS, FRANÇA - Adi Farhydid dividia espaço com amigos em uma fogueira na manhã fria no momento em que seu barraco no acampamento de imigrantes em Calais, no norte da França, era destruído por ordem do Ministério do Interior. O iraniano de 28 anos era um dos cerca de 200 compatriotas que teria de buscar um novo lugar para viver em razão da desmontagem da maior área da favela conhecida como “Selva”.
Com futuro incerto, Adi tinha apenas uma certeza: reconstruiria sua tenda em outro local ou iria para qualquer lugar, mas não aceitaria um lugar no Centro de Acolhimento Provisório (CAP), o alojamento de contêineres montado pelo governo francês. A rejeição aos contêineres aquecidos e com saneamento básico é comum entre os imigrantes que aguardam por uma oportunidade para cruzar o Canal da Mancha e chegar à Grã-Bretanha.
As transformações em Calais
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As transformações em Calais
A polícia da França começou a desmontar parte da "selva", a favela de imigrantes que se situa em Calais, no norte do país. Na imagem, imigrante se pro... Foto: REUTERS/Pascal RossignolMais
As transformações em Calais
An African migrant pushes his bicycle in a camp close the city hall in Calais, northern France, May 22, 2014. French authorities announced on Wednesda... Foto: REUTERS/Pascal RossignolMais
As transformações em Calais
Com cartazes em árabe e inglês, imigrantes de origem Africana protestam na frente da prefeitura de Calais, na França, em setembro de 2014, contra a vi... Foto: REUTERS/Pascal Rossignol Mais
As transformações em Calais
Visão geral de uma das primeiras formações da "selva", em abril de 2015, que se tornaria um amplo emaranhado de barracos construído pelos imigrantes q... Foto: REUTERS/Pascal RossignolMais
As transformações em Calais
Observada do alto, a "Selva" em calais, começava a se desenvolver às margens da rodovia que dá acesso ao Eurotúnel; em julho de 2015, cerca de 3 mil i... Foto: REUTERS/Pascal RossignolMais
As transformações em Calais
Imigrantes muçulmanos realizam uma de suas rezas diárias ao lado de uma mesquita improvisada em Calais, em agosto de 2015 Foto: REUTERS/Peter Nicholls
As transformações em Calais
Em pouco mais de três meses o número de moradores acampados na selva, em Calais, mais do que dobrou: em outubro eram mais de 6 mil imigrantes Foto: REUTERS/Pascal Rossignol
As transformações em Calais
No fim de 2015 o governo francês construiu uma série de abrigos com contêineres em Calais capazes de abrir centenas de imigrantes que deixaram suas ba... Foto: REUTERS/Benoit TessierMais
As transformações em Calais
Visão aérea da "selva" mostra a área onde foram construídos os abrigos temporários (ao fundo) capazes de abrir centenas de imigrantes que aguardam em ... Foto: REUTERS/Pascal RossignolMais
As transformações em Calais
Depois da confirmação que as autoridades francesas demoliriam parte da "selva", os imigrantes realizaram uma série de protestos, entraram em confronto... Foto: REUTERS/Pascal RossignolMais
As transformações em Calais
Desolado, imigrante (ao fundo) senta no teto de tenda enquanto observa trabalhadores contratados pela prefeitura de Calais demolirem parte do barracos... Foto: REUTERS/Pascal RossignolMais
As transformações em Calais
Imigrante observa escavadeira retirando restos do barracos demolidos pela prefeitura de Calais na quinta-feira, 3 Foto: AFP / PHILIPPE HUGUEN
As transformações em Calais
A polícia antidisturbios da França acompanha imigrante ilegal em Calais que carrega seus pertences em um carrinho de mercado; desde o fim de fevereiro... Foto: AFP / PHILIPPE HUGUEN Mais
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A razão é o sistema de segurança montado pela polícia, que inclui a coleta de impressões digitais. A identificação dos imigrantes em Calais é o grande ponto de choque entre ONGs de ajuda humanitária e refugiados, de um lado, e os governos francês e britânico, de outro. Isso ocorre porque a criação de fichas com a identidade dos estrangeiros é, na realidade, uma armadilha da União Europeia para acabar com o sonho do refúgio na Grã-Bretanha.
Pelas regras em vigor desde 2013, os imigrantes devem pedir asilo no primeiro país de entrada na UE. Se essa informação for desconhecida, vale como referência o país em que os estrangeiros foram identificados pela primeira vez. No caso de Calais, muitos que aceitaram viver no CAP deixaram suas impressões digitais registradas pela primeira vez na França, não na Grã-Bretanha.
Sonho. Pela letra fria da lei, o sonho britânico dos mais de 1,3 mil moradores dos contêineres acabou. “A lei estabelece as responsabilidades de cada país e fixa como regra que qualquer prova serve para indicar qual foi o primeiro país de entrada na UE. Essas informações vão para o Eurodac, base de dados digital que cadastra quem pede asilo”, explicou ao Estado Marianne Humbersot, ativista que presta orientação aos estrangeiros.
“Para quem sonha em ir para a Grã-Bretanha porque tem família lá, por exemplo, ir para o CAP significa que a França será o país responsável por seu pedido de asilo e as chances de viver em solo britânico acabaram.”
Na favela de Calais, a informação se espalhou entre os imigrantes. Por isso, a maior parte dos sírios, iraquianos, afegãos, eritreus e iranianos não aceitam a transferência para o CAP, nem em troca de mais conforto, saúde e higiene. “As impressões digitais são um problema, porque mesmo que consigamos ir para a Grã-Bretanha seremos obrigados a retornar para a França”, diz Adi.
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Membro da mesma comunidade de iranianos, Ali Sajjad, de 19 anos, também deixou para trás a tenda destruída, mas não enfrentou o frio e a chuva com o mesmo sangue frio. “Não tenho para onde ir. Estou na rua.”
A 'nova selva' em Calais, na França
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Nova selva em Calais
A água é escassa no campo de imigração ilegal na região de Calais, na França Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
A água é escassa no campo de imigração ilegal na região de Calais, na França Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
A água é escassa no campo de imigraçãoilegal na região de Calais, na França Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Imigrantes vivem em campo improvisado na região de Calais Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Kabil Omarhel, de 14 anos, chegou do Afeganistão Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Bahadel Djabahel, de 15 anos, e Kabil Omarhel, de 14, são imigrantes do Afeganistão Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Ocampo de migrantes de Calais, conhecido como "nova selva" Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Imigrantes improvisam moradia na "nova selva" em Calais Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Igreja improvisada no acampamento ilegal de Calais Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Béniamin Mabte, migrante eritreu que atravessou o Mar Mediterrâneo Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Lixo acumulado no campo "nova selva", em Calais Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
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Campo de migrantes de Calais, na França Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Daniel Tekaly, 20 anos, migrante eritreu que cruzou o Mediterrâneo em bote Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Migrantes anônimos que se deixaram fotografar durante tentativa de cruzar o Eurotúnel Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Migrantes anônimos que se deixaram fotografar durante tentativa de cruzar o Eurotúnel Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Ali A., 26 anos, sírio de Darha que fugiu do país para não ter de lutar no Exército de Bashar Assad Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Barreira da polícia contra os estrangeiros que tentam ingressar na área do Eurotúnel em Calais Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
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Barreira da polícia contra os estrangeiros que tentam ingressar na área do Eurotúnel em Calais, na França Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Barreira da polícia contra os estrangeiros que tentam ingressar na área do Eurotúnel em Calais Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Migrantes anônimos que se deixaram fotografar durante tentativa de cruzar o Eurotúnel Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Migrantes anônimos que se deixaram fotografar durante tentativa de cruzar o Eurotúnel Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
Nova selva em Calais
Barreira da polícia contra os estrangeiros que tentam ingressar na área do Eurotúnel em Calais Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO
No CAP, a rejeição também se faz notar pelo número de alojamentos disponíveis. Dos 1,5 mil lugares, 1.342 foram ocupados. Outros 200 leitos estavam disponíveis no Centro Jules Ferry, estrutura de acolhimento voltada a mulheres e crianças.
Um estudo de pesquisadores britânicos confirma o motivo do boicote: das 870 pessoas entrevistadas, 92% desejava ir para a Grã-Bretanha, mesmo com todas as dificuldades. Entre os 8% restantes, a maior parte prefere imaginar um pedido de asilo em um país Europa do Norte, como Suécia ou Alemanha. A França, afirmam os imigrantes, não é acolhedora.
Se o movimento de resistência por parte dos imigrantes e de ONGs persiste é porque a França segue determinada a acabar com o sonho britânico dos imigrantes. O Ministério do Interior não esconde mais a intenção de identificar e extraditar os imigrantes “econômicos” – aqueles em busca de emprego e renda – e regularizar os refugiados de países em guerra.
Para impulsioná-los a aceitar uma das opções, a estrutura precária do CAP é mínima. Cada contêiner tem 15 metros quadrados, nos quais dormem até 12 pessoas. Não há cozinha, nem banheiro, ducha ou pontos de água, nada que crie conforto. Também não há vagas para todo mundo – mesmo que houvesse interessados –, já que na “Selva” vivem 3,7 mil pessoas.