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Aliados de Bolsonaro que não se reelegeram são nomeados em gabinetes, governos estaduais e no PL

Ex-deputados federais buscam emprego em funções pagas com dinheiro público, seja em cargos de confiança seja na estrutura do funcionalismo

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Foto do author Rayanderson Guerra

RIO – Dos 20 deputados do PL não reeleitos na última eleição, cerca de metade já foi nomeada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em gabinetes parlamentares, governos estaduais ou retornaram a cargos públicos que exerciam antes da carreira política, com salários que variam entre R$ 5 mil e R$ 29 mil por mês. Nomes conhecidos do bolsonarismo, como Coronel Armando (PL-SC), Coronel Tadeu (PL-SP) e Policial Katia Sastre (PL-SP), já foram alocados em espaços de aliados de Bolsonaro.

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Os postos de liderança no Partido Liberal estão entre os mais almejados pelos parlamentares. Assim como Bolsonaro – que assumiu a presidência honorária da sigla, com salário de R$ 41,6 mil –, os ex-ministros João Roma (Cidadania) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil) pressionam Valdemar Costa Neto por espaço no partido.

Roma e Onyx deixaram a Esplanada dos Ministérios há pouco mais de seis meses, e já buscam uma recolocação dentro do PL. Os dois se reuniram na semana passada com Costa Neto, em Brasília, em busca de cargos nacionais na legenda. A avaliação de aliados é de que os ex-comandados de Bolsonaro querem se fortalecer politicamente para a disputa das eleições municipais de 2024.

O ex-ministro da Cidadania tenta uma “promoção” dentro da estrutura partidária. Presidente estadual do PL na Bahia, Roma almeja uma posição de destaque nacional. Já Onyx quer retomar o espaço que tinha no partido antes de perder a eleição para o governo do Rio Grande do Sul. Ele foi substituído na presidência estadual da sigla pelo deputado federal Giovani Cherini (PL-RS).

Outro que busca espaço na estrutura partidária é o ex-deputado Paulo Eduardo Martins (PL-PR). Desde que perdeu a eleição ao Senado para o ex-ministro Sérgio Moro, Martins está fora das funções públicas. O ex-parlamentar é próximo de Bolsonaro e quer usar a influência do ex-presidente para avançar sobre o diretório paranaense. Integrantes da legenda no Estado, no entanto, avaliam que não será uma tarefa fácil. Eles afirmam que outros dois nomes disputam o comando do partido: o deputado federal Fernando Giacobo, que é próximo de Costa Neto, e Filipe Barros, considerado um dos bolsonaristas mais fiéis a Bolsonaro no Paraná.

Ex-deputado federal Edio Lopes tentou manter posto no PL e não conseguiu Foto: Nilson Bastian

O ex-deputado Edio Lopes, de Roraima, também tentou manter poder sobre o PL no Estado, mas suas pretensões foram barradas por Valdemar Costa Neto. O presidente nacional da legenda deu sinais de que trocaria o comando do diretório do partido. Antes da mudança, Lopes trocou a sigla pelo Solidariedade. Lá, voltou ao posto de presidente estadual.

“O mandato é a grande moeda de troca em Brasília. No final do ano, com a proximidade do término do meu mandato, o presidente (Valdemar Costa Neto) achou por bem entregar o comando da sigla no Estado ao senador Chico Rodrigues. Acabou não se consolidando e ele foi para o PSB. Com o comunicado dele, eu decidi sair do partido”, afirmou Lopes.

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A remuneração dos dirigentes partidários é permitida, seja com dinheiro público – recebido por meio do Fundo Partidário – ou privado – arrecadado em doações externas e contribuições de filiados. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já decidiu que os dirigentes podem ser pagos com verbas do Fundo Partidário, sem que haja necessidade de comprovação das atividades desempenhadas nas siglas.

Por lei, a direção nacional dos partidos pode gastar com funcionários até 50% da parcela que recebe do Fundo Partidário. No caso de diretórios municipais e estaduais, o limite é maior: 60%.

Postos nos Estados

Em Santa Catarina, Estado que deu quase 70% dos votos para Bolsonaro em 2022, um aliado do ex-presidente encontrou abrigo em um dos mais altos postos da máquina estatal. Após perder a eleição, o ex-deputado Coronel Armando (PL-SC) assumiu a secretaria de Defesa Civil do governador Jorginho Mello (PL). Armando recebe uma remuneração mensal de R$ 25,3 mil, além dos R$ 17,8 mil a que tem direito como coronel da reserva do Exército.

O deputado federal Coronel Armando (à dir.) ao lado do então presidente Jair Bolsonaro em uma visita a Santa Catarina Foto: Reprodução/Coronel Armando

Já o ex-deputado Coronel Tadeu, policial militar em São Paulo, ganhou o cargo de assistente parlamentar júnior de Marcos Pontes, ex-ministro da Ciência e Tecnologia e eleito para o Senado. O bolsonarista recebe R$ 11,4 mil por mês e atua no gabinete do aliado do ex-presidente.

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O ex-deputado se elegeu na esteira do bolsonarismo em 2018, mas não conseguiu renovar o mandato na eleição do ano passado.

Enquanto muitos dos “sem mandato” foram acolhidos, a ex-deputada Gorete Pereira, assim como Edio Lopes, decidiu trocar de partido. Ela deixou o PL rumo ao MDB. Sem perspectiva de protagonismo dentro do partido de Bolsonaro no Ceará, a ex-parlamentar migrou para uma legenda da base do governador Elmano Camilo Santana, um aliado de longa data. Foi nomeada como coordenadora no Instituto Federal do Ceará.

Para o cientista político Marcus Ianoni, da Universidade Federal Fluminense (UFF), as alocações de aliados em postos estratégicos do Estado reforça o caráter personalista da política.

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“Uma vez que os deputados tiveram acesso aos privilégios da categoria e ao poder do cargo, ficar próximo de aliados com mandato é uma das estratégias para retornar à ativa nas eleições seguintes. Há aqueles que se dedicam para a administração pública e os que buscam apenas as benesses. Não há irregularidades. É um ponto para avaliar a movimentação política e a correlação de forças entre os que detêm mandato e os que estão, por ora, fora do jogo”, afirmou.

Veja onde estão e quanto recebem os ex-deputados:

Onyx Lorenzoni (PL-RS): Aposentado pela Câmara.

  • Salário: R$ 12.160,19

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Edio Lopes (SDD-RR)*: Presidente do Solidariedade em Roraima.

  • Salário: Não informado.

Policial Katia Sastre: Assessora técnica da liderança do PL na Câmara.

  • Salário: R$ 21.096,34

Major Fabiana (PL-RJ): Tenente-coronel do Exército.

  • Salário: R$ 5.125,50

Major Vitor Hugo (PL-GO): Consultor legislativo na Câmara dos Deputados.

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  • Salário: R$ 29.521,04

Marcão Gomes (PL-RJ): Servidor público no Instituto Federal Fluminense.

  • Salário: R$ 9.406,74

Gorete Pereira (MDB-CE): Coordenadora do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas.

  • Salário: R$ 13.210,65

Gurgel (PL-RJ)**: PM da reserva.

  • Salário: Não informado.

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Jorielson (PL-AP): Coordenador do curso de Direito da Universidade Federal do Amapá (Unifap).

  • Salário: R$ 23.529,78

João Roma (PL-BA)*: Presidente do PL na Bahia.

  • Salário: Não informado.

* O PL ainda não atualizou a prestação de contas partidárias de 2023.

** Valor não divulgado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro.

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