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Após trocas de Tarcísio, maioria da cúpula da PM é formada por ex-integrantes da Rota

Governador promoveu quatro coronéis que fizeram carreira em um dos batalhões mais letais da corporação; secretaria trata o fato com naturalidade e diz que três dos últimos quatro comandantes-gerais da polícia atuaram na Rota

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Foto do author Marcelo Godoy
Foto do author Pedro Augusto Figueiredo
Por Marcelo Godoy e Pedro Augusto Figueiredo
Atualização:

As transferências de coronéis promovidas pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) na Polícia Militar de São Paulo alçou à cúpula da corporação quatro nomes que fizeram carreira nas Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), considerada a tropa de elite da PM e um dos batalhões mais letais da instituição. A Secretaria de Segurança Pública tratou o fato com naturalidade e disse que três dos últimos quatro comandantes-gerais da Polícia Militar exerceram cargos ou funções na Rota.

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Dos oitos postos mais altos da PM paulista, cinco são atualmente ocupados por ex-integrantes da Rota. A começar pelo comandante-geral, Cássio Araújo de Freitas, único integrante da cúpula que foi mantido, passando pelo novo subcomandante, José Augusto Coutinho, o Coordenador Operacional, Gentil Carvalho Júnior e os comandos do Centro de Inteligência (CIPM) e da Corregedoria.

As trocas geraram insatisfação nos coronéis que deixaram os cargos. Eles são contrários ao modo como as operações policiais na Baixada Santista vem ocorrendo e favoráveis à expansão do uso de câmeras nos uniformes dos policiais. Também enxergam as mudanças como uma tentativa de interferência política do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL-SP), ex-capitão da Rota, na Polícia Militar. Em setembro do ano passado, Derrite disse que as câmeras corporais não eram prioridade, mas no fim de janeiro foi na direção contrária e indicou que a pasta ampliaria o programa.

Secretário Derrite ex-oficial da Rota, conversa com o governador Tarcísio de Freitas FOTO:WERTHER SANTANA / ESTADÃO CONTEÚDO Foto: WERTHER

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública disse que dos quatro últimos comandantes-gerais, assim como os policiais citados nesta reportagem, três passaram pelos batalhões de choque e pela Rota. “Tal experiência, assim como as funções cumpridas em outros batalhões, contribui significativamente para o desempenho em cargos de comando”, disse a pasta. “As ações de policiamento preventivo e ostensivo constituem e continuarão a constituir parte essencial das atividades da instituição”, acrescentou a secretaria.

A Rota foi criada em 1970 durante a ditadura militar para combater as assaltos a banco feitos por integrantes de organizações armadas de oposição ao regime militar. Funcionava como uma companhia do 1.º Batalhão da PM, o Tobias de Aguiar, cujos homens participaram do cerco no Vale do Ribeira empreendido pelo Exército ao campo de treinamento guerrilheiro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), liderado pelo ex-capitão do Exército Carlos Lamarca. A partir de meados dos anos 1970, ele passou a atuar com três companhias como tropa de operações especiais e de reforço do patrulhamento ostensivo das ruas, conhecida pelo alto índice de letalidade em suas ações .

A principal troca promovida por Tarcísio foi a do subcomandante da PM. Ele destituiu o coronel José Alexander de Albuquerque Freixo e, em seu lugar, nomeou o coronel José Augusto Coutinho, nome da confiança de Derrite que anteriormente ocupava o Comando de Policiamento de Choque (CPChoq), ao qual a Rota é subordinada. Como subcomandante, Coutinho também se tornou o chefe do Estado-Maior da PM.

O governador alçou ao comando da Coordenadoria Operacional da Polícia Militar o ex-capitão da Rota, Gentil Epaminondas de Carvalho Júnior, anteriormente responsável pelo Comando de Policiamento de Área de Guarulhos (SP). O papel da coordenadoria é implementar as políticas, diretrizes e normas definidas pelo Estado-Maior. A Corregedoria, que apura denúncias de violações de direitos humanos e de má conduta dos policiais, será chefiada pelo ex-comandante da Rota Fabio Sérgio do Amaral.

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Principal órgão de inteligência da corporação, o CIPM passará ao comando de Pedro Luís de Souza Lopes, também ex-integrante da Rota. Até quarta-feira, ele era o assessor escolhido para atuar na ponte entre a Polícia Militar e a secretaria comandada por Derrite. Por fim, o novo comandante do CPChoq, o coronel Valmor Racorti, que fez carreira no Batalhão de Operações Especiais, também serviu na Rota.

Os coronéis promovidos são mais “modernos”, ou seja, têm menos tempo de serviço do que a antiga cúpula da Polícia Militar. A avaliação é que as mudanças são uma tentativa do governador de forçar a passagem para a reserva dos coronéis formados nas turmas de oficiais da Academia da PM em 1993 e em 1994, às quais pertencem o ex-subcomandante, coronel Freixo, e o atual comandante-geral, Cássio Araújo de Freitas.

O Estadão apurou que as trocas foram definidas pelo próprio governador. Um integrante do Palácio dos Bandeirantes afirmou à reportagem que Tarcísio está preocupado em dar fluxo às promoções de oficiais na PM. Ele mandará um projeto de lei para a Alesp para igualar as regras da corporação às do Exército, onde parte dos generais vão para a reserva quando um comandante-geral mais “moderno” do que eles assume o posto.

O mesmo não ocorre na PM, o que acaba travando as promoções nos níveis inferiores e, na visão do governo, desmotivando os oficiais. Mas, ao mudar os coronéis, Tarcísio não mexeu no comandante-geral, que permanece sendo Freitas. Isso significa que, mesmo se a lei que será proposta pelo governador estivesse em vigor, o objetivo alegado pelo Palácio dos Bandeirantes não seria cumprido.

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