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SP vê alta de violência contra policiais: aposta na Operação Escudo é acertada? Coronéis comentam

Estado observa recorrência de casos no último mês, o que despertou o alerta das autoridades. Secretaria diz investigar e adotar medidas para reprimir criminalidade

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Por Marcio Dolzan

O alto número de ataques violentos contra policiais em serviço, de folga ou mesmo da reserva - foram sete apenas esta semana - tem chamado a atenção em São Paulo. Os casos têm acontecido ao mesmo tempo em que, no litoral, a Polícia Militar realiza nova etapa da Operação Escudo. Até o momento, não há indicativo de que as ações dos criminosos sejam orquestradas e tenham relação entre si, mas dois coronéis da reserva dizem que é preciso ficar alerta, sobretudo quando o ataque é contra um policial em serviço.

“Os policiais que estavam de folga foram vítimas por pura coincidência. Foram escolhidos aleatoriamente, estavam à paisana. Coincidiu de serem policiais, mas não foram escolhidos por isso”, avalia o coronel reformado e especialista em segurança pública José Vicente da Silva Filho. “A preocupação vai mais com quem está de serviço. Normalmente, o criminoso evita essa ousadia de atirar em policial, a menos que esteja na linha de confronto.”

Policiais foram alvos de pelo menos sete ataques violentos nos últimos dias Foto: Werther Santana/Estadão

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Vicente também não vê os ataques como uma ação praticada por alguma facção criminosa. Ele lembrou o “salve geral” do PCC em 2006, que começou com ataques contra policiais e terminou com mais de 500 mortes, a maioria ligada ao grupo.

“Aquilo foi um fato que marcou bastante, e terminou com um prejuízo enorme para a facção. Morreu muita gente, tiveram prejuízos milionários com seus negócios. A partir de então, o PCC ficou mais low profile, evitando o confronto com a polícia. Por isso que acredito que, no momento, não seja algo orquestrado. Até pode haver ação contra policiais vinda de um ou de outro, mas isso seria de alguém fora de facção, um lobo solitário”, diz o coronel. “Não há indicativo, mas certamente o setor de inteligência da polícia está monitorando isso.”

Comandante-geral da PM paulista em 2013 e 2014, o coronel Benedito Meira também afirma que ataques contra policiais fardados não são rotineiros, mas para ele aqueles que estão de folga acabam sendo mais visados. “Houve reforço na Operação Verão, então há mais policiamento no litoral e há menos risco. E ataques contra policiais em serviço são incomuns, mas não são tão raros. Só que os bandidos são covardes e preferem identificar um policial de folga”, diz Meira.

Na avaliação dele, a polícia deve ter especial atenção aos grupos criminosos que atuam no litoral paulista. “Quando fui comandante da polícia, uma das poucas áreas do Estado que estavam sob o domínio do tráfico era justamente o litoral. Ele merece uma atenção muito especial das forças de segurança, mas só isso não resolve. A polícia resolve o problema na hora, mas é preciso haver uma mudança na legislação”, pondera.

O ex-comandante-geral também defende ações como a Operação Escudo. “Eu entendo que a polícia tem que dar uma resposta à altura quando é atacada. Se membros da polícia foram atingidos, a resposta tem que ser da mesma altura. Isso não é vingança, é uma pronta resposta”, diz Benedito Meira.

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  • A Operação Escudo foi um modelo adotado pela gestão do atual secretário de Segurança, Guilherme Derrite. A ação foi implementada pela primeira vez em julho do ano passado, quando um soldado da Rota foi assassinado no Guarujá.
  • Na oportunidade, a operação deixou 28 mortos ao longo de mais de um mês, com denúncias de violência policial. Dois agentes foram denunciados pelo Ministério Público à Justiça após supostamente forjarem um confronto e matarem um suspeito sem motivação. A Secretaria defende a legalidade da operação. Neste ano, novas ações da mesma natureza foram deflagradas após casos de violência contra policiais.

José Vicente, por sua vez, faz ressalvas a esse tipo de operação. “Comandei batalhão por mais de cinco anos. Quando você coloca um policial em serviço logo depois da morte de companheiro - e isso não acontece só em São Paulo ou no Brasil, é assim no mundo todo - as forças ficam extremamente assanhadas em caçar o assassino”, afirma Vicente.

“Mas, uma vez que acontece a morte de um policial, o problema passa a ser da Polícia Civil, que é que investiga, e não da PM, que faz policiamento ostensivo. A PM pode eventualmente reforçar a área, mas a investigação é da Polícia Civil”, lembra o coronel.

Ele cita que, em governos anteriores, foi criado um grupo especial na corregedoria da PM paulista que atuavam em conjunto com a Polícia Civil para investigar as mortes de policiais. “Mais de 80% das mortes da PM foram esclarecidas por esse grupo.”

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Esse setor continua operante, trata-se da Divisão PM Vítima, da Corregedoria, que é responsável por acompanhar e atuar para o esclarecimento dos crimes contra os policiais.

Sobre os ataques recentes a policiais, a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo disse que os casos não refletem, necessariamente, uma tendência. A pasta afirmou também que reforça ações para proteger os agentes.

Derrite anunciou nesta quarta-feira, 7, a transferência do seu gabinete da capital paulista para a cidade de Santos, no litoral. A medida foi tomada como reação à morte do cabo José Silveira dos Santos, do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), vítima de disparos durante uma incursão no Morro do Tetéu, na cidade da Baixada Santista. Na mesma ação, outro agente foi baleado e precisou ser hospitalizado.

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Derrite informou também que o policiamento em Santos será reforçado a partir desta quinta-feira, 8, e que o governo pode oferecer uma recompensa no valor de R$ 50 mil por informações relevantes que ajudem a localizar o suspeito de ter atirado e matado o soldado Wesley Cosmo, da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), na última sexta-feira, 2.

“A legislação permite que eu, como secretário da Segurança Pública, emita uma resolução e possa pagar até R$ 50 mil para qualquer pessoa física ou jurídica que tenha informação privilegiada e que traga para nós essa informação. Desde que ela se torne relevante para ocasionar prisão”, disse. /COLABOROU CAIO POSSATI

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