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Caravana pró-Bolsonaro é usada para divulgar imagem de políticos em ano de eleição municipal

Candidatos derrotados e até pré-candidato à prefeitura organizam viagens de ônibus de diferentes lugares do Brasil para ato em defesa do ex-presidente em São Paulo, neste domingo

Foto do author Levy Teles
Foto do author Gabriel de Sousa
Por Levy Teles e Gabriel de Sousa
Atualização:

BRASÍLIA — Organizadores de caravanas para acompanhar o ato em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista, neste domingo 25, se aproveitam para fazer publicidade para si mesmos, em ano eleitoral. A iniciativa busca capitalizar o investimento e esforço ao enviar centenas de pessoas para a manifestação com a finalidade ganhar capital político nas eleições municipais de 2024.

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As convenções partidárias para as eleições de 2024 serão realizadas entre 20 de julho até 5 de agosto. Nas convenções os partidos escolhem, por meio dos seus filiados, quem serão os candidatos no ano eleitoral. 15 de agosto é o último dia para o registro de candidaturas.

O Estadão identificou pelo menos seis casos de caravanas associadas à imagem de político local, um deles já se declarou pré-candidato. Em sua grande maioria, eles foram candidatos a vereador, em 2020, ou pleitearam o cargo de deputado estadual ou federal, em 2022. Nenhum deles se elegeu.

Organizadores de caravana que já pleitearam cargos políticos associam imagem própria a Bolsonaro e divulgam o próprio telefone para apoiadores. Foto: @ricardomolinasp via Facebook, Reprodução via WhatsApp, Reprodução via WhatsApp e @monica.cury.3 via Facebook

Esses mobilizadores divulgaram a iniciativa que eles realizaram em seus perfis nas redes sociais exibindo ou sua imagem ou o telefone ou os dois e contaram com o apoio de outros bolsonaristas, que espalharam o conteúdo em outras redes sociais em aplicativos de mensagem.

Quem entrasse em contato interessado em aderir à caravana para a Paulista era redirecionado para grupos no WhatsApp para receber detalhes sobre a viagem, mas também para receber conteúdo político sobre temas dos municípios.

O mais ambicioso deles é Ricardo Molina. Ele teve 52.214 votos para deputado estadual em São Paulo, em 2022, e não foi eleito. Agora, ele é pré-candidato à prefeitura de Araraquara (SP) pelo Republicanos e ajudou na publicidade de uma caravana em Santa Bárbara d’Oeste (SP). Ele tem o apoio do vereador do município Felipe Corá (Patriota).

Como ato simbólico, o ônibus divulgado por Molina partirá da Havan, loja de variedades de propriedade de Luciano Hang, um dos mais conhecidos bolsonaristas no País. “Vai ser gigante! Dia 25 eu vou!”, diz o cartaz divulgado por ele em seu perfil nas redes sociais, em que ele aparece em uma montagem com Bolsonaro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e Corá. O Estadão identificou a mesma imagem em grupos bolsonaristas em outras plataformas.

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Bandeira no ombro e Paulista de fundo

Juciane Cunha é uma das organizadoras de uma caravana em São José dos Campos. Ela também pleiteou cargo na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), teve 16.680 votos e não foi eleita. Pouco mais de um dia após o chamamento de Bolsonaro para a manifestação, Juciane divulgou um cartaz em que ela aparece com a bandeira do Brasil sobre o ombro e a Avenida Paulista aparece como imagem de fundo.

Ela cobra o valor de R$ 60 para quem desejar ir. O valor deve ser pago para uma chave Pix. O Estadão acompanhou as discussões no grupo organizado por ela, no WhatsApp. Até a noite da quarta-feira, 224 pessoas manifestaram ter interesse em participar da caravana organizada por Jucilane. O grupo foi desativado após uma pessoa conseguir entrar na página e vandalizar publicando imagens pornográficas de homens despidos. Por causa disso, a administração precisou banir todos os integrantes.

Neste mesmo dia, antes do incidente, Juciane publicou um aviso. Como algumas pessoas estavam se sentindo com medo de ir, ela resolveu fazer “como nos blocos de carnaval” e comprou cordas para separar o público.

“Assim, em bloco a gente consegue ter mais segurança, pois serão todos conhecidos. E terá uma pulseira no braço, assim todos que forem de SJC. Mais uma forma de você saber quem está ao seu lado”, escreveu.

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Ela completou o texto pedindo por uma bandeira de São José dos Campos e mandou uma mensagem de apoio. “Gente, mas, acalmem o coração de vocês, o Tarcísio estará lá, a Paulista estará lotada de polícia. Nossos policiais nunca foram contra nós, estarão lá para proteger a gente”, publicou.

A 183 km de distância de São José dos Campos, em Indaiatuba (SP), Danilo Barnabé cobra R$ 60 para levar bolsonaristas em vans para a Avenida Paulista. Assim como os outros, também foi candidato à Alesp e não se elegeu. Teve 24.278 votos. No perfil no Facebook, ele repercute vídeos de Bolsonaro e faz críticas à gestão da cidade de Indaiatuba.

Caravana da Turma da Mônica

O jornal identificou dois casos no Estado do Rio de Janeiro. Mônica Cury é assessora do deputado estadual fluminense Alan Lopes (PL), e ganha pouco mais de R$4 mil líquidos para exercer a função e organiza uma caravana que partirá do bairro do Leme, na capital do Estado.

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Ela foi candidata a deputada federal, em 2022, e perdeu. Apenas 594 pessoas votaram nela. O grupo que ela batizou de “Caravana da Turma da Mônica” reúne quatro ônibus. O último tem 44 lugares e tem 36 pessoas na lista, até a tarde desta quinta-feira, 22.

Quem pagar a taxa de R$ 200 por Pix na chave de Adhemar Souza ou transferência bancária, terá acesso a um ônibus com poltrona reclinável, banheiro, tomada USB e água. Haverá também um pequeno lanche de cortesia.

Mônica orienta que quem for leve verde e amarelo, capa de chuva, repelente, casaco, mochila com roupas, manta e travesseiro. Ela proíbe o embarque no ônibus com faixas e cartazes, seguindo orientação de Bolsonaro, além de itens como armas, facas, paus, tacos, objetos perfurantes e fogos de artifício.

Ela também alerta que poderá haver revista na bagagem de cada passageiro. Ao Estadão, Mônica admitiu que é a primeira vez organizando caravana. Ela afirmou também que, por enquanto, não pretende ser candidata e que organizou o grupo com conhecidos “patriotas” da praia de Copacabana: “Eu não fiz nem flyer, apenas fiz um texto para informar aos amigos como iríamos”.

O telefone dela aparece junto a de outros organizadores em grupos do Telegram, ao lado de outras caravanas espalhadas pelo Brasil.

Mônica afirmou também que o custeio da caravana será feito a partir da divisão dos participantes. “Não houve nenhum tipo de envolvimento ou patrocínio de empresas públicas ou privadas, políticos, partidos, nem mesmo de pessoas físicas que não estejam nos ônibus”, disse.

O dinheiro da caravana também será usado para custear a ida de uma enfermeira pois, segundo Mônica, há muitos idosos no grupo. Também acompanharão “A Turma da Mônica” um jornalista e um fotógrafo.

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“Para finalizar, meu intuito é contribuir, atendendo o chamado do Bolsonaro e assim ajudar as pessoas que não se sentiriam seguras em irem sozinhas. Montamos um grupo e iremos prestigiar o nosso presidente”, declarou Mônica.

Marcelo Castro, de São Gonçalo (RJ), é um bolsonarista fiel. Ele acompanha eventos conservadores, é anfitrião de um podcast de política e já tirou foto com Bolsonaro e demais políticos bolsonaristas. Ele organiza uma caravana que levará dois ônibus para São Paulo. A passagem custa R$ 200.

Ele foi candidato a vereador na cidade em 2020 e teve apenas 429 votos. Gravou um vídeo apelando para que as pessoas vestissem verde e amarelo no domingo. “Vamos demonstrar ao mundo que a maior parte do Brasil apoia o presidente Bolsonaro. Mas não vá em nenhuma manifestação que não seja na Paulista”, disse. “Nós vamos recuperar o Brasil.”

Em Minas Gerais, Alba Junqueira, presidente do diretório do PL Mulher na cidade Pouso Alegre também organiza uma caravana. Ela reuniu 46 pessoas, que pagaram R$ 75 para acompanhar o ônibus rumo a São Paulo. Ela é a única que não foi candidata a algum cargo em 2020 e em 2022. Neste ano, porém, ela organiza eventos da direita conservadora no interior do Estado e faz publicações críticas a petistas em Pouso Alegre.

No grupo da caravana no WhatsApp ela já fala dos planos do PL, partido que preside, neste ano eleitoral. “A verdade é que quem for disputar a eleição precisa estar ciente e preparado para encontrar uma realidade muito diferente da alarmada pelos apoiadores do prefeito”, escreveu! “Pegaremos uma Pouso Alegre que priorizou shows a segurança (...) e com uma máquina pública inchada. Será um desafio grande voltar a cidade para um caminho mais consciente e próspero.”

Procurada, Alba disse que ela não é pré-candidata. Após a reportagem questioná-la se ela não seria candidata em 2022, ela não negou. “No dia 22 de março, o PL de Pouso Alegre fará o lançamento dos seus pré-candidatos. Até a data do lançamento dos pré-candidatos, a gente não vai tornar público isso”, afirmou.

Ela diz que o fretamento do ônibus é financiado inteiramente pelos passageiros também admitiu que a passagem está saindo mais barata do que ônibus de linha. Na rodoviária de Pouso Alegre é possível encontrar passagens para São Paulo no sábado entre R$ 101 e R$ 121. Ir para São Paulo na caravana é entre 35% a 61% mais barato. Ela não elaborou sobre a vantagem que conseguiu no valor. “O preço do ônibus é dado pelo dono do ônibus. E não por nós, essa é uma pergunta a se fazer a ele. Apenas compramos a passagem”, disse Alba.

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Procurados, os demais mencionados não responderam aos contatos da reportagem.

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