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Marina declara apoio a Boulos e diz que SP tem desafio de ‘estabilizar democracia’

Pré-candidato do PSOL se comprometeu a ajudar candidatos a vereador da Rede Sustentabilidade e a incorporar propostas do partido ao seu plano de governo

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Foto do author Pedro Augusto Figueiredo
Atualização:

O deputado Guilherme Boulos (PSOL) recebeu neste sábado, 23, o apoio público da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e do partido dela, Rede Sustentabilidade, à sua pré-candidatura a prefeito de São Paulo. O evento promovido pela sigla na região central da capital marcou a entrada da ministra na campanha do psolista.

O ato serviu como uma formalização da aliança, mas o apoio da ministra e da Rede a Boulos já estava dado, pois a legenda forma federação com o PSOL. A entrada de Marina da campanha, porém, ocorre após uma pesquisa Datafolha indicar que parte dos eleitores podem tê-la confundido com a pré-candidata do Novo, Marina Helena, que apareceu com 7% das intenções de voto. A equipe de Boulos diz que as agendas com Marina Silva não estão relacionadas com o resultado da pesquisa, como mostrou a Coluna do Estadão.

Marina Silva e porta-vozes do partido Rede Sustentabilidade declaram apoio à pré-candidatura de Guilherme Boulos à prefeitura de São Paulo, em ato no sábado, 23 de março Foto: Pedro Augusto Figueiredo/Estadão

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“São Paulo tem o desafio histórico de ajudar a estabilizar a democracia”, discursou Marina Silva no ato. “São Paulo não pode ser instrumentalizada para a questão do fundamentalismo político, religioso, ideológico, o que for, como a gente está vendo acontecer. Não pode ser usada para querer destruir a nossa democracia”, afirmou.

Em contrapartida ao apoio de Marina, Boulos assumiu dois compromissos com a Rede. O primeiro foi ajudar os candidatos a vereador do partido na eleição deste ano para formar o que ele chamou de “maior bancada progressista” da história da Câmara Municipal.

O segundo foi incorporar propostas do partido ao seu plano de governo. “Digo isso com profunda convicção. A Marina me ajudou a entender, e a realidade nos força a entender, o quanto é central a pauta da sustentabilidade e das mudanças climáticas”, declarou.

O pré-candidato do PSOL reforçou que o tema ambiental está diretamente ligado à área social e comparou a política ambiental do prefeito Ricardo Nunes com a de Jair Bolsonaro. Ele mencionou o episódio de julho de 2023 em que o então secretário de Mudanças Climáticas da prefeitura, Antonio Pinheiro Pedro, disse que o “planeta se salva sozinho”. O prefeito exonerou o secretário depois da repercussão da fala.

“Negacionista do aquecimento global. Os seus antecessores no ministério (do Meio Ambiente), nem precisa dizer”, disse Boulos, se referindo à pasta comandada por Marina, que teve Ricardo Salles e Joaquim Leite como ministros durante a gestão Bolsonaro. “É essa política do atraso que a gente precisa superar”, acrescentou.

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De acordo com o Datafolha, Boulos tem 30% e está empatado tecnicamente com Nunes, que tem 29%. A terceira colocada é a deputada Tabata Amaral (PSB), com 8% das intenções de voto. A pré-candidata do Novo, Marina Helena, aparece na sequência com 7%, e argumenta que a tese da confusão de seu nome com o da ministra de Lula não faz sentido. A margem de erro é de três pontos percentuais.

Partidos dizem que eleição é nova oportunidade para ‘derrotar o bolsonarismo’

A participação ativa de Marina, ministra do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na campanha de Boulos reforça a polarização da eleição em São Paulo. O prefeito Ricardo Nunes (MDB), principal rival do psolista na disputa, é apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), enquanto Boulos tem Lula e o PT ao seu lado.

No evento, lideranças dos partidos, como a presidente do PSOL, Paula Coradi, disseram que a eleição paulistana será nacionalizada e trataram o pleito como uma nova oportunidade para “derrotar o bolsonarismo”, após Lula vencer Bolsonaro em 2022.

Nessa linha, uma das estratégias da pré-campanha é reivindicar a formação do que chamam de uma nova frente ampla e democrática contra o bolsonarismo. Porém, diferentemente de Lula, que tinha apoio de siglas de centro, a coligação de Boulos está restrita ao campo da esquerda. Até o momento, ele tem o apoio de PT, PCdoB, PV, PDT e Rede.

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Representantes da Rede declararam também que o compromisso de Boulos de ter um secretariado paritário entre homens e mulheres é importante para o partido. O deputado, contudo, não segue a própria ideia em seu gabinete: ele tem nove assessores e seis assessoras.

Esta será a primeira eleição em que a Rede, fundada em 2013, não lançará candidato a prefeito em São Paulo. Ricardo Young foi o nome do partido em 2016 e a hoje deputada estadual, Marina Helou, a candidata em 2020.

No evento, Marina Helou avaliou que, há quatro anos, o contexto político era outro e que, na ocasião, a Rede lançou candidatura para apresentar uma proposta para a cidade. “A gente dessa vez tem a possibilidade de estar num projeto que ganhe essas eleições para que seja implementada uma mudança de rumo”, afirmou. Segundo a deputada, o partido propõe a valorização dos catadores, a retomada do plano de reciclagem em todas as regiões da cidade e a eletrificação da frota de transporte público.

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Principal expoente da Rede, Marina Silva tem viajado pelo Brasil para impulsionar candidatos da sigla. Nas últimas semanas, participou do lançamento das pré-candidaturas de Túlio Gadelha, em Recife (PE), e Ana Paula Siqueira, em Belo Horizonte (MG).

Boulos critica Nunes e Tarcísio sobre Enel

No início da tarde, Boulos e Marina participaram de uma plenária realizada no Teatro Oficina para discutir propostas sobre o meio ambiente e mudanças climáticas que podem ser incorporadas no seu plano de governo. O deputado do PSOL prometeu a catadores de materiais recicláveis que, se eleito, fará convênios para que haja ao menos uma cooperativa em cada um dos 96 distritos da cidade.

Ele também criticou o prefeito Ricardo Nunes e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) por causa dos apagões que afetaram os paulistanos durante a semana. “O prefeito ficou quieto e o governador estava no exterior fazendo politicagem”, disse o deputado do PSOL, em referência à viagem de Tarcísio a Israel.

Nunes criticou a concessionária Enel ao longo da semana, citou representações enviadas à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e ao Tribunal de Contas da União (TCU), mas disse estar de mãos amarradas porque apenas o governo federal pode rescindir o contrato. O prefeito articula o envio de um projeto de lei à Câmara dos Deputados para que passe a ser exigido o aval das prefeituras para a renovação dos contratos com as concessionárias, o que seria uma forma de pressionar a Enel.

Boulos também afirmou que vai atuar para tentar impedir que a Sabesp seja privatizada neste ano. Nunes enviou projeto de lei para a Câmara Municipal que permite que o contrato da Prefeitura com a empresa seja renovado mesmo após a privatização. Sem a aprovação do projeto, a privatização não avança, porque a maior parte da receita da empresa advém da capital paulista. “Se ela não for privatizada neste ano, não será mais”, disse o pré-candidato do PSOL, demonstrando confiança na vitória.

Saidinha temporária e descriminalização da maconha

Em entrevista coletiva antes do evento, Boulos disse que o PSOL foi favorável ao projeto de lei que veio do Senado e que proíbe as saídas temporárias de presos, porque o texto era mais brando do que o aprovado inicialmente na Câmara, que acabava com toda as hipóteses da “saidinha”.

“Saídas temporárias de presos que foram condenados por crimes violentos, homicídios, isso é um consenso que não pode acontecer. A votação que houve no Congresso foi entre o texto do Senado e o texto da Câmara. Nós entendemos que o texto do Senado era mais razoável, porque permitia a possibilidade dos detentos estudarem, inclusive fora da cadeia”, disse o deputado. “Foi uma votação consensual, inclusive com o meu voto e o voto do Congresso.”

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Questionado sobre se era a favor ou contra a descriminalização das drogas, Boulos disse que não se trata de um tema municipal. Ele indicou que é favorável à tese que tem maioria atualmente no Supremo Tribunal Federal (STF), que descriminaliza a posse da maconha para consumo pessoal até uma certa quantidade que ainda não foi definida.

“Sou pai de duas filhas. Ninguém quer ver seus filhos no alcoolismo, na droga. Esse é um ponto de partida. Não é uma questão de defender, acho que ninguém defende. O que se trata objetivamente é o que o Congresso Nacional está discutindo e o Supremo também, é a separação do joio do trigo. É separar quem é traficante e quem é usuário”, respondeu.

“Você acha razoável tratar uma pessoa que é pega com um grama de droga da mesma forma que um traficante com uma tonelada de droga? Acho que ninguém defende isso. O que está em jogo no STF não é a descriminalização, é você diferenciar o traficante do usuário. Isso é uma pauta razoável”, disse.

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