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Opinião|Nas redes, esquerda e direita concordam que nome de Flávio Dino para STF é posicionamento político

Nuances revelam que a indicação de Dino é mais uma das inúmeras negociações entre os poderes, que acomodam os interesses dos atores envolvidos

Foto do author Sergio Denicoli
Atualização:

A indicação de Flávio Dino para integrar o Supremo Tribunal Federal escancarou um sentimento já bastante difundido pelos internautas, de que o STF é uma corte eminentemente política.

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As opiniões sobre a escolha do Presidente da República se dividem, ancoradas na polarização do País, com a nítida ideia de que Flávio Dino atuará para concretizar na Corte princípios da esquerda, e também abarcará em suas decisões os desejos de Lula.

O curioso é que esquerda e direita concordam nesse quesito. O ponto de discordância é que direitistas criticam essa eventual inclinação, enquanto esquerdistas elogiam. Não há expectativas nas redes de que Dino atuará de forma a seguir cegamente o pragmatismo da Lei, deixando seus ideais de lado. Aliás, a ideia de um STF politicamente imparcial inexiste nas redes.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou Flávio Dino para o STF Foto: Wilton Junior/Estadão

Os próprios lulistas exaltam, em suas interações, a característica de um ministro do Supremo profundamente entranhado na política partidária. Eles veem Dino como um nome preparado e competente para o cargo, e com uma visão esquerdista que desejam que seja usada em suas decisões como magistrado.

Também usam muito a tática de provocar os opositores, difundindo diversos memes retratando o ministro como O Incrível Hulk, em alusão a uma fala dele ao interagir com o senador Marcos Do Val, durante audiência na Comissão de Segurança Pública sobre o 8 de Janeiro. Na ocasião, Dino disse que se Do Val era da Swat ele faria parte de Os Vingadores, que é um grupo de super-heróis conhecidos das histórias em quadrinhos e do cinema. Desde então, Dino passou a ser visto como um herói da retórica pelos seus admiradores, que agora esperam que ele siga com a mesma performance no STF.

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A direita optou por uma campanha pragmática contra Dino, com esperanças de que o nome dele seja vetado pelo Senado. Os argumentos principais focam não em questões do conservadorismo religioso, como o aborto, mas sim na ideia de que o Ministro da Justiça tem sido negligente com a questão da segurança pública. Há muitas insinuações de que ele teria ligações com o tráfico de drogas.

É uma narrativa muito presente em grupos bolsonaristas, que iniciaram a difusão dessa narrativa quando Dino esteve no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, em março deste ano. Na época, bolsonaristas afirmaram que ele teria visitado o complexo de favelas praticamente sem escolta e até hoje dizem que ele teria recebido aval do tráfico para realizar a visita. Também se fala muito do caso Luciane Barbosa Farias, esposa do chefe do Comando Vermelho no Amazonas, que foi recebida no Ministério da Justiça.

Há ainda um outro prisma da indicação de Flávio Dino, que abarca o pragmatismo das negociações políticas, e que está bastante explícito nas conversações de perfis atentos às articulações de bastidores em Brasília. É a ideia de que Lula teria negociado com Davi Alcolumbre e Rodrigo Pacheco, em troca de apoio a Alcolumbre para a presidência do Senado. Alguns especulam ainda que Pacheco poderia ser candidato ao Governo de Minas Gerais, com o apoio do Planalto, ou que pleiteia um importante ministério.

Todas essas nuances revelam que a indicação de Dino é mais uma das inúmeras negociações entre os poderes, que acomodam os interesses dos atores envolvidos. Apenas outro dia comum em Brasília.

Assim que o assunto estiver oficialmente resolvido, as fichas serão recolhidas, até que a roleta volte a girar, com outro tema na mesa de apostas. Sorte de quem tem mais cacife para jogar ou de quem sabe blefar melhor.

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Opinião por Sergio Denicoli

Autor do livro TV digital: sistemas, conceitos e tecnologias, Sergio Denicoli é pós-doutor pela Universidade do Minho e pela Universidade Federal Fluminense. Foi repórter da Rádio CBN Vitória, da TV Gazeta (Globo-ES), e colunista do jornal A Gazeta. Atualmente, é CEO da AP Exata e cientista de dados.

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