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Os bastidores do Planalto e do Congresso

Opinião|Marçal tem medo de tomar água envenenada, mas coragem para dizer baboseira nos debates; leia coluna

Pelo andar da carruagem, solução para os problemas da maior cidade da América Latina devem esperar providência divina

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Foto do author Vera Rosa
Atualização:

No momento em que o Brasil pega fogo, candidatos à Prefeitura de São Paulo têm protagonizado um espetáculo deprimente em debates na TV, com xingamentos, berros e até cadeiras voando no estúdio. Vale a lógica do algoritmo, o meme, o recorte para as redes sociais. E os problemas da maior cidade da América Latina que esperem a providência divina.

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O influenciador Pablo Marçal (PRTB) chegou nesta terça-feira, 17, para o debate da Rede TV/Uol com a mão direita enfaixada, mas deixando de fora o reluzente anel dourado com o símbolo M.

Com domínio da comunicação digital, Marçal chamou várias vezes de “orangotango” o apresentador José Luiz Datena (PSDB), que lhe deu uma cadeirada no domingo, 15, após acalorada discussão na TV Cultura.

O candidato do PRTB, Pablo Marçal, se recusou a beber água no estúdio por temer ser envenenado. Foto: Taba Benedicto/ Estadão

Enquanto o ex-coach tentava concatenar lé com cré, seus apoiadores postavam uma imagem colorida do bicho nas redes, que, nestes tempos bicudos, viraram a segunda tela dos debates.

Marçal também se recusou a beber a água que lhe foi oferecida. O motivo? Temia que o líquido estivesse envenenado. Aliás, qualquer semelhança com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem ele tenta se aproximar, não é mera coincidência.

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Antes das eleições de 2018, quando ainda era deputado, Bolsonaro foi visto tomando água direto da torneira, no banheiro situado ao fundo do plenário da Câmara.

Abordado por um colega, que estranhou a atitude, ele disse que não aceitava copo de qualquer lugar, nem mesmo ali, seu local de trabalho por 27 anos. O capitão reformado do Exército achava que podia ser envenenado a qualquer momento com uma substância mortal.

Lixo tóxico dos confrontos só aumenta

Os confrontos dos últimos dias mostram, porém, que contaminados estão os eleitores, com tanto lixo tóxico vindo dos debates. Pior: desde a campanha de 2018, a violência política só aumenta.

No Congresso, que já teve uma morte em 1963 – quando o senador Arnon de Mello, pai do ex-presidente Fernando Collor, deu um tiro em plenário na direção de Silvestre Péricles Monteiro, mas atingiu o colega José Kairala –, vira e mexe um bate-boca termina em tapa, sopapo e bofetão.

Diante deste cenário em que as fake news viralizam e destroem reputações, a Justiça Eleitoral já avalia como lidar com a próxima crise contratada: a disputa de 2026 pela cadeira do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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Até lá, as emissoras bem que poderiam adotar a checagem dos fatos em tempo real, como ocorreu no duelo entre os candidatos à Casa Branca Kamala Harris e Donald Trump, promovido pela ABC News, no último dia 10.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump e a vice-presidente Kamala Harris trocam acusações em debate com checagem dos fatos em tempo real. Foto: John Locher/AP

Naquele embate, Trump foi desmascarado ao vivo após divulgar mentiras sobre aborto e dizer que haitianos estariam comendo cães e gatos dos americanos, em Ohio, numa tentativa de sustentar suas críticas ao crescimento da imigração no governo de Joe Biden.

No Brasil, ninguém aguenta mais tanto “debate” sobre baboseira enquanto o número de adultos e crianças que vivem nas ruas só cresce na capital paulista. Além disso, ninguém suporta mais discussões intermináveis sobre indulto para quem atacou a democracia quando nossas florestas são consumidas por incêndios.

Se o País continuar normalizando situações surreais como essas, sem nada fazer, quantos Marçais aparecerão na próxima temporada?

Opinião por Vera Rosa

Repórter especial do ‘Estadão’. Na Sucursal de Brasília desde 2003, sempre cobrindo Planalto e Congresso. É jornalista formada pela PUC-SP. Escreve às quartas-feiras

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