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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O Brasil patina no turismo

Especialista alerta para a necessidade do País em melhorar a gestão pública do turismo para conseguir elaborar estratégias eficientes e alavancar o setor, principalmente na área de negócios e turismo sustentável

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Atualização:

Domingo esta Coluna chamou a atenção para a situação de grande estresse pela qual passa o turismo global. É gente demais acorrendo às 300 mais atraentes cidades turísticas do mundo, o que produz excesso de agendamentos, filas intermináveis e mau atendimento. As populações locais também enfrentam as consequências asfixiantes dos grandes congestionamentos e da especulação imobiliária.

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O número de turistas internacionais voltou a ultrapassar a marca de 1 bilhão em 2023. A contribuição do setor para o PIB global foi de US$ 3,3 trilhões – cerca de 3% do PIB mundial. São números que devem se acentuar à medida que as novas classes médias asiáticas se puserem mundo afora de malas e mochilas.

Esse turismo em excesso (overtourism) é uma situação que deveria favorecer o Brasil, desde que soubesse atrair os que já não suportam as pesadas condições do turismo europeu.

Um pouco desse grande afluxo já acontece por aqui, especialmente em Foz do Iguaçu e Gramado e, nas altas temporadas, em cidades litorâneas. Mas essa situação está longe de configurar condições de overtourism. Em 2023, os turistas internacionais que desembarcaram no Brasil injetaram na economia volume recorde de US$ 6,9 bilhões – montante acima do registrado em anos em que o País recebeu grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.

Embora expressivo, é um volume que está muito aquém do real potencial do turismo no Brasil, que ainda patina como destino preferencial do turista internacional por falta de competência política na formulação de estratégias e políticas de longo prazo – e não apenas por problemas de segurança.

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Na avaliação de Mariana Aldrigui, professora e pesquisadora na área de Turismo na Universidade de São Paulo (USP), que no último ano comandou a Gerência de Pesquisas e Inteligência de Dados da Embratur, além da gestão pública no setor no Brasil ser fraca em todos os níveis da administração pública, a interrupção dos trabalhos que se seguiram à extinção do ministério na administração Bolsonaro aumentou a carência de políticas públicas voltadas para a área e travou o desenvolvimento de ações coordenadas entre os atores privados, já que o turismo é dependente dessa interlocução.

“Para um planejamento estruturado, é preciso olhar para os próximos 10, 15 anos. Outras regiões, como o Oriente Médio, trabalham com mais eficácia e se preparam para dominar o turismo internacional. A Arábia Saudita se abriu recentemente para turistas estrangeiros, fez grandes investimentos na área e registrou 100 milhões de turistas em 2023. O Brasil está bem longe disso porque não vem sendo capaz de entender o potencial do setor”, explica Mariana.

Faltam, por exemplo, infraestrutura (aeroportos estruturados e malha rodoviária para conectar os destinos); parcerias internacionais que aumentem a atratividade do País; falta criação de destinos que apresentem o Brasil de maneira eficiente; falta fortalecimento da malha aérea tanto interna quanto externa. É preciso, também, melhorar a concessão de crédito para as empresas do setor para que possam realizar os investimentos para a qualificação de profissionais e aumentar a oferta de serviços.

O Brasil precisa desenvolver estrategias para atrair os turistas internacionais para o turismo sustentável no País. Na foto, a cachoeira Major Levy em Analândia.  Foto: FELIPE RAU /ESTADÃO

A pesquisadora também destaca a necessidade de expansão do turismo sustentável, de maneira que alinhe a preservação e a educação ambiental como forma de atrair mais visitantes e desenvolvimento econômico para a Região Norte e os Estados da Amazônia Legal.

É preciso, ainda, criar condições de hospedagem e de transporte que desafoguem os destinos mais procurados em épocas de pico, situação que resolveria os problemas pontuais de lotação de determinados destinos e também promoveria o desenvolvimento das cidades ao redor. E há o turismo de negócios, um campo importante a desenvolver, tendo em vista o crescimento do agronegócio que tem atraído empresários de todo o mundo para cá.

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“Estamos perdendo em atratividade para muitos países, especialmente para os nossos vizinhos, o que implica investimento em reposicionamento de imagem, mas isso não se faz com uma ou duas campanhas. Incluir a comunidade nisso também é essencial, porque um dos pontos mais valorizados pelos turistas estrangeiros são a hospitalidade e a alegria do povo brasileiro, mas a forma como tentam vender o País lá fora ignora o seu povo.”/COM PABLO SANTANA

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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