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O outro lado da notícia

Opinião|Após ‘passar pano’ para gastança do governo e ‘comprar’ promessas de Haddad, Faria Lima cai na real

Com o envio do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias ao Congresso, embutindo a revisão de metas fiscais, a lua de mel do mercado com o governo Lula parece ter chegado ao fim

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Atualização:

Foi bom para o governo enquanto durou. Mas, passados apenas 16 meses desde a posse de Lula e oito meses desde a aprovação pelo Congresso do novo arcabouço fiscal, que substituiu o teto de gastos, a lua de mel da Faria Lima – ou de boa parte dela – com o governo Lula parece ter chegado ao fim.

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Com o envio do PLDO (Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias) ao Congresso na semana passada, embutindo a revisão – para pior – das metas fiscais e da dívida pública em 2025 e 2026, último ano de Lula 3, a turma do mercado que ainda alimentava a ilusão de que o cenário idílico prometido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, poderia se concretizar levou um choque de realidade de altíssima voltagem.

De repente, muitos analistas que até ontem ou anteontem “passavam pano” para a gastança sem lastro do governo, “compravam” a ideia do novo arcabouço e calavam diante do aumento de impostos promovido para financiar a farra surgiram por aí, de cara lavada, pontificando contra a deterioração fiscal e o aumento desenfreado da dívida pública, para tentar manter a credibilidade.

Com o próprio Haddad admitindo que o arcabouço virou peça de ficção, ficou fácil para a galera que caiu na lorota oficial posar de visionária. Mas, na verdade, poucos, pouquíssimos, representantes do mercado deram “a cara a tapa” desde o princípio, afirmando que o novo arcabouço era uma miragem. Quem questionava o arcabouço era chamado de “bolsonarista” ou de “catastrofista”, o que reforçava a visão chapa branca” predominante no mundo das finanças até pouco tempo atrás.

É certo que a percepção em relação à política fiscal do governo já vinha se deteriorando a olhos vistos. A mudança de humor do pessoal já vinha se refletindo nos mercados, com a alta do dólar e dos juros futuros e com o tombo da Bolsa, que supera de longe a média dos principais países emergentes em 2024. Também já vinha sendo captada pelas pesquisas feitas com representantes da banca e pelas previsões mais recentes dos economistas. Só agora, porém, com a revisão das metas para as contas públicas nos próximos anos, os mais otimistas, que turbinavam a versão predominante, resolveram engrossar o coro, na linha do “sempre critiquei”.

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Os analistas do mercado já não acreditam mais nem na promessa de déficit zero em 2024, que consta do arcabouço fiscal, apesar de Haddad ainda afirmar que ela será mantida, com o apoio da ministra do Planejamento, Simone Tebet, sua fiel escudeira. Segundo o último Boletim Focus, do Banco Central, que reúne as estimativas dos economistas das instituições financeiras, a previsão é de que as contas públicas tenham um rombo equivalente a 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto) este ano. Mesmo o FMI (Fundo Monetário Internacional), que muitas vezes também “compra” as fantasias oficiais, está projetando um déficit de 0,6% do PIB em 2024.

Demorou para a turma do autoengano cair na real. Mas, diante das evidências, expostas à luz do dia pelo próprio Haddad, ela se deu conta, enfim, de que tinha embarcado numa “furada”. Agora, se uma parcela considerável da sociedade “engoliu” a ideia de que o novo arcabouço poderia dar certo, muito se deve à visão positiva propagada por representantes do mercado, amplificada pelo noticiário econômico, desde que a proposta começou a ser discutida, no início do ano passado.

Opinião por José Fucs

É repórter especial do Estadão. Jornalista desde 1983, foi repórter especial e editor de Economia da revista Época, editor-chefe da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, editor-executivo da Exame e repórter do Estadão, da Gazeta Mercantil e da Folha. Leia publicações anteriores a 18/4/23 em www.estadao.com.br/politica/blog-do-fucs/

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