A Americanas balançou o mercado no começo de 2023, após a renúncia do CEO Sergio Rial (ex-Santander) apenas dez dias depois de assumir o cargo. A empresa entrou com pedido de recuperação judicial em 19 de janeiro, declarando dívida de R$ 43 bilhões. Entenda, em cinco pontos a seguir, o que aconteceu com a varejista.
O que aconteceu com a Americanas?
Quando anunciou sua saída da empresa, Sergio Rial emitiu um comunicado ao mercado, por meio de fato relevante, reportando um rombo de R$ 20 bilhões nos balanços financeiros da Americanas. Posteriormente, uma análise interna determinou que a dívida pode chegar a R$ 40 bilhões. A companhia pagava fornecedores por meio de uma triangulação com bancos, mas os pagamentos não foram devidamente dimensionados e realizados, gerando a dívida.
A Americanas faliu?
Não. A empresa continua a funcionar, vendendo produtos em lojas físicas e digitais, apesar de estar em fase de contenção de despesas e reavaliação financeira. Exemplo disso foi a saída da varejista do patrocínio do programa Big Brother Brasil, da Rede Globo - sendo substituída pelo Mercado Livre. A empresa está em recuperação judicial para renegociar o pagamento de suas dívidas e vai receber aportes dos acionistas de referência, o trio por trás do sucesso da Ambev Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles. Porém, a venda de ativos para quitar as dívidas também é uma possibilidade.
A Americanas pode falir?
Pode. Para isso, a empresa precisaria não chegar, em última instância, a um acordo com credores. Ou então não honrar novas dívidas, dando base legal para o pedido de falência.
Como a empresa perdeu bilhões de reais?
A resposta para essa pergunta ainda requer apuração interna nas contas. Especialistas ouvidos pelo Estadão disseram que pode ser tanto um caso de grave erro técnico quanto fraude. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu processos administrativos para analisar inconsistências contábeis na Americanas. A autarquia também pode abrir investigação contra a PwC, responsável pela auditoria da varejista. O caso também poderá gerar inquérito policial.
O que é risco sacado?
Risco sacado, ou forfait, é um termo usado no mercado para descrever a triangulação e pagamento entre uma varejista, um banco e um fornecedor. A Americanas comprava produtos a prazo de um fornecedor, e um banco adiantava os pagamentos aos fornecedores. Seria como um empréstimo da varejista para pagar o fornecedor. No caso, o “sacado” é o banco, que tirou dinheiro do seu caixa. Apesar de receber o pagamento antes, o fornecedor recebe um valor inferior ao contratual. Enquanto isso, a Americanas (ou qualquer varejista que faça o acordo) paga um valor com juros pelo adiantamento, mas o pagamento é a prazo.
O que significa a queda das ações na bolsa de valores?
Após o caso vir a público, a Americanas desabou na bolsa de valores, com acionistas descontentes com a governança da companhia. O baque foi de quase 80% em um dia, terceira maior queda diária da B3, segundo levantamento da TradeMap. A queda dos papéis da companhia aconteceu porque os investidores corporativos e pessoa física deixaram de acreditar nos fundamentos do negócio neste momento. A queda é reflexo da crise de reputação da marca e faz com que ela perca poder de negociação, por exemplo, em casos de fusões e aquisições, uma vez que seus papéis estão com preços menores do que antes.
Fiz uma compra na Americanas, o produto será entregue?
O Procon já notificou a Americanas para prestar esclarecimentos sobre o impacto da crise financeira da empresa para os consumidores. A varejista também deverá informar se as reclamações feitas por consumidores na plataforma on-line do Procon têm relação com o rombo nas finanças da companhia. No ano passado, foram quase 9,5 mil queixas. No caso de compras feitas via internet, o consumidor pode solicitar o cancelamento antes da entrega dos produtos ou devolvê-los em até sete dias.
Procurada, a Americanas informou o seguinte:
“A Americanas comunicou aos clientes e parceiros que segue aberta e pronta para suas compras e entregas, nas lojas, no site e no app. A companhia continua dando acesso ao maior número de brasileiros e brasileiras às melhores ofertas, produtos e serviços.”
O que acontece com a Americanas e com os clientes em uma recuperação judicial?
Uma vez iniciado o processo de recuperação judicial, os negócios da empresa seguem o curso normal. Ou seja, a Americanas continuará a comprar produtos de fornecedores e vendê-los aos consumidores. A operação de lojas físicas e do comércio eletrônico seguem em funcionamento, sendo essa a única forma de gerar caixa – além da venda de ativos e emissões de novas ações na bolsa de valores, possibilidades que também estão na mesa.
Devo continuar comprando na Americanas, Submarino, Shoptime e Natural da Terra?
A operação da companhia precisa continuar normalmente. Portanto, os consumidores podem comprar produtos na Americanas, Submarino, Shoptime ou Natural da Terra, assim como comprariam em outras marcas varejistas.