A engenheira Luara*, 32, iniciou um relacionamento com o colega de trabalho meses após ser promovida na empresa de construção civil onde ambos atuavam na mesma equipe. O casal optou por não informar ao RH sobre o romance, seguiram em segredo e, quando o namoro terminou, a relação profissional ficou conturbada, resultando em conflitos durante alguns projetos. A chefia direta descobriu e decidiu transferir os dois para outros setores. Por pouco não escalou para uma situação pior, como uma possível demissão.
Hoje, quase um ano após a transferência, Luara arrepende-se de não ter conseguido separar sua vida pessoal da profissional. Ela ainda lamenta não ter discutido a situação com o chefe antes e até repensa se deveria ter se envolvido com alguém da mesma equipe.
A história da engenheira não é um caso isolado. O Estadão conversou com o educador corporativo Rodrigo Lang para entender como as empresas podem agir nestes casos e evitar situações semelhantes a de Luara ou até consequências mais graves.
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Confira as principais dicas abaixo:
Viver um romance no trabalho: pode ou não pode?
A legislação brasileira não proíbe relacionamento amorosos entre colegas de trabalho. No entanto, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) exige que as relações sejam mantidas de maneira profissional, sem comprometer a produtividade, o ambiente de trabalho ou criar conflitos de interesse.
As organizações podem criar regras com orientações sobre namoro desde que não violem os direitos fundamentais dos empregados e a legislação vigente.
Segundo Rodrigo Lang, é comum empresas estabelecerem políticas internas sobre o assunto. O objetivo destas iniciativas é “prevenir conflitos de interesse, favoritismo ou assédio. Essas políticas podem, por exemplo, proibir relacionamentos entre superiores e subordinados diretos.”
Embora as empresas tenham autonomia para desenvolver cartilhas próprias, não podem impor o término de um relacionamento entre colaboradores. Casos envolvendo relacionamentos entre superiores e subordinados diretos precisam ser avaliados de forma individual.
Tomar medidas discriminatórias ou invadir a privacidade dos envolvidos como exigir detalhes pessoais ou monitorar as vidas dos funcionários fora do trabalho também são condutas indevidas, alerta o educador corporativo.
Não misture trabalho e vida pessoal
Se você namora alguém do trabalho, saiba que tem os mesmos direitos que qualquer outro empregado: privacidade, tratamento igualitário e não discriminação.
Medida disciplinar ou retaliações com base no relacionamento são ilegais.
Direitos trabalhistas básicos como salário, jornada e benefícios devem ser respeitados independentemente do status de relacionamento.
Rodrigo Lang, educador corporativo e co-fundador da Human SA, grupo educacional responsável por desenvolver habilidades humanas
O funcionário deve estar atento ao seu comportamento e à sua conduta no ambiente de trabalho. Por exemplo:
- Evite demonstrações públicas de afeto no ambiente profissional
- Seja transparente: informe o RH sobre o relacionamento, se a política da empresa assim o exigir
- Lembre-se de não misturar assuntos pessoais com profissionais com o intuito de evitar favoritismo ou conflitos de interesse
“Mantenha o foco no trabalho e trate todos os colegas com igualdade e respeito, inclusive o(a) parceiro(a)”, pontua Rodrigo Lang. Veja na tabela o que o trabalhador não deve fazer:
Outro ponto importante é que, se o romance não engatou, como aconteceu com a engenheira Luara, é crucial manter a discrição e lidar com o término de forma profissional. Evite trazer o assunto para o ambiente de trabalho e procure resolver qualquer questão pessoal fora do escritório.
Se por acaso a situação fugir do controle, busque ajuda do RH para evitar constrangimentos ou mal-entendidos. “Lembre-se de que o foco principal é o trabalho e a sua carreira”, reforça Rodrigo Lang.
*Nome fictício. A pessoa entrevistada pediu para não ter sua identidade revelada.
Correções
A primeira versão desta reportagem havia inserido erroneamente um suposto dado de 2023 da Robert Half a respeito do número de trabalhadores (60%) que admitiam ter se envolvido com outro colega no ambiente de trabalho. Segundo a assessoria da Robert Half, o dado é falso. No dia 19 de junho, o dado foi removido da reportagem.
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