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O que os pais precisam saber sobre o Musical.ly, febre entre crianças e adolescentes

Aplicativo tem público principalmente de 8 a 14 anos e já atinge mais de 7,5 milhões de usuários no Brasil

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Ananda Morais gravavídeos para o app todos os dias, mas os pais acompanham para garantir que o hobby não atrapalhe a rotina de estudos. Foto: Foto cedida por Ananda Morais/instagram.com/anandaacm

Se você nunca ouviu falar em Musical.ly, é porque provavelmente não convive com ninguém que tenha de 8 a 14 anos aproximadamente. O aplicativo é um dos mais populares entre a faixa etária e um dos únicos em que a presença de adultos parece se manter restrita. Por isso, pode causar preocupação nos pais que gostam de saber o que os filhos acessam no celular.

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E, se já foi difícil para as gerações mais antigas entenderem o SnapChat, o Musical.ly se mantém um mistério ainda maior para quem não acompanha as novidades tecnológicas de perto. Pior: na hora de abordar os filhos sobre o assunto, os pais muitas vezes acabam recebendo uma resposta incompleta, no estilo “você não vai entender”.

Realmente, o app pode ser complexo, e a melhor forma de compreender suas funções é usando. Ele envolve música, dublagem, comédia e muita técnica de montagem de vídeo. Surpreso? Chegam a ser inacreditáveis os efeitos e transições inventados por crianças de dez anos de idade. 

Ananda e as musers Valentina Schulz e Lolla ensinam a fazer transições no app

Ananda Morais é uma das musers (nome dos usuários do app) que desenvolveu técnica refinada de transições e já acumula aproximadamente 250 mil seguidores aos 13 anos de idade. Bastante tímida, agora ela é reconhecida quando sai na rua, tira fotos com os fãs e dá autógrafos. “Nos vídeos eu consigo me expressar bem mais. Isso me ajudou muito, aumentou minha rede de amigos”, relata.

A interação também se estendeu para dentro de casa. Tom Morais, pai de Ananda, explica que instalou o aplicativo e tem uma relação próxima com a filha. “Eu acompanho o que os meus filhos fazem na internet, mas de uma forma mais ‘na conversa’ do que proibitiva”, afirma. 

Segundo especialistas, o pai de Ananda vai pelo caminho certo. “Para criar um bom canal de comunicação [com os filhos], você tem que exibir curiosidade”, defende Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. “A ideia é que as sugestões venham sempre em forma de conversa, bate-papo. Nunca na atitude em que você de cara já começa a exibir papel de censura.”

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Tom explica que a boa relação com os filhos não é novidade. Ele mesmo teve uma criação que define como mais “liberal” e afirma conversar sobre todos os assuntos com Ananda e com seu filho mais novo. Por isso, foi a própria garota que veio falar sobre sua fama no aplicativo. “Quando ela ganhou o primeiro destaque oficial do aplicativo, veio me contar. Baixei e na hora adorei o formato. Não é simplesmente uma rede social, é também artística”, diz Tom. 

Estímulo à criatividade. Laura Seragiolli Morishita, de 12 anos, adora o app e afirma que a parte artística é exatamente o que o diferencia das outras redes. “O Musical.ly é mais para distrair e conhecer novas pessoas, o talento delas”, diz. E ela garante: não é ‘viciada’ na tecnologia. Laura relata que durante as férias deixou o celular um pouco de lado para brincar com os amigos que moram perto da casa de seu pai.

A característica musical do app foi o que atraiu Tom ao aplicativo, em parte por ele ter nascido em uma família musical - Tom é filho de Bola Morais, que integrou os Novos Baianos. E o psiquiatra Nabuco destaca que encontrar um interesse em comum com os pequenos ajuda até na hora de fazer restrições. Isso porque os pais devem servir de exemplo aos filhos, mesmo no uso das redes. “Não adianta falar para os filhos que não é legal levar o celular para a mesa ou usá-lo antes de dormir, e depois fazer exatamente isso”, explica Nabuco.

Ananda reconhece que o apoio dos pais é essencial para seguir o hobby. “Eles me ajudam e eu gosto muito disso. Sem eles é complicado, eu preciso dos meus pais. Eles se interessam, sempre falam o que eu posso melhorar nos vídeos”, diz. Daniela, a mãe de Ananda, fica feliz em participar. “Para ela, ter os pais ao lado na adolescência não é uma coisa ruim. Ela se sente segura, porque a deixamos seguir com o que gosta, mas estamos ao lado para apoiar”, diz.

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Além disso, a garota cita os investimentos que os pais fazem em equipamentos, como iluminação para os vídeos e viagens para encontros de musers. Ela esteve recentemente no Rio de Janeiro e em Curitiba, sempre acompanhada da família. O apoio se torna cada vez mais importante, à medida que Ananda começa a fazer parcerias com marcas e ter retorno financeiro com posts nas redes sociais. De acordo com Tom, o dinheiro é todo investido nas viagens, equipamentos e assessoria da filha.

Mas nem por isso o app virou profissão. “Eu estudo de manhã, volto para casa na hora do almoço, descanso um pouco, depois estudo e gravo. Virou uma coisa de todos os dias”, relata Ananda. O pai afirma que acompanha a rotina e garante que as gravações não atrapalham o estudo da garota.

Conteúdo. Além de saber qual é o tempo que os filhos passam no aplicativo, vale ficar de olho no conteúdo. 

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Alice Oliveira, a Alicereja, uma das musers com mais seguidores no Brasil, desenvolve no app sua vocação teatral. Com vídeos cômicos originais, ela atrai quase 1,6 milhão de seguidores. E, por ter 21 anos e ser mais velha do que a maioria dos musers, ela explica que toma cuidado com o conteúdo que publica. “Eu sempre tive uma energia que ‘puxa’ muito as crianças e elas se identificam. E eu tomo muito cuidado: não falo palavrão, faço um conteúdo adequado, mas não necessariamente infantil.”

Mas, como em qualquer rede social, há perfis falsos e pessoas mal-intencionadas. O Musical.ly tem uma página dedicada aos pais, com dicas de como participar da vida online dos filhos. 

Eles explicam que o perfil pode ser público ou privado e mostram como manter informações seguras. Além disso, deixam claro que conteúdos inapropriados devem ser denunciados. 

Ananda afirma que precisou aprender a lidar com os bullys na rede social. “No primeiro comentário desse tipo eu fiquei mal. Pensei: ‘por que a pessoa tem necessidade de fazer isso?’ Agora já sei lidar melhor. Se ficar dando corda piora.” 

Tom dá a dica: “Converso com outros pais e procuro tranquilizá-los em relação a esse medo. Claro que o uso tem que ser dosado, acompanhado. Mas tem gente ruim em todo canto, não só ali. Acompanhe e participe. Tem muitos pais que gostariam de ter esse ponto em comum com os filhos”.

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