O que estão compartilhando: montagem que exibe dois vídeos. No primeiro, um homem mergulha em um canal cheio de água, com a legenda “Governo Bolsonaro Março de 2022″. No segundo, um canal seco, com a inscrição “Governo Lula Setembro de 2023″. O conteúdo faz referência à Transposição do Rio São Francisco.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O primeiro vídeo, em que um canal aparece cheio de água, é de 2023 — foi gravado, portanto, no governo de Lula, e não de Jair Bolsonaro (PL). As imagens foram postadas originalmente na página Jeito Nordestino, no Instagram, em 19 de maio. A pessoa que aparece mergulhando é Rodrigo de Oliveira, que confirmou à coluna Painel, da Folha de S.Paulo, que o registro foi feito neste ano, em Barbalha, no Ceará, onde passa a estrutura do Cinturão das Águas do Ceará (CAC). O governo do Estado emitiu nota afirmando ser falso que o canal esteja seco.
Leitores do Estadão pediram esta verificação por WhatsApp: (11) 97683-7490.
Saiba mais: O conteúdo aqui verificado, que circula no WhatsApp, Twitter e TikTok, é uma montagem contendo dois vídeos. O primeiro mostra um homem mergulhando nas águas de um canal. Sobre essas imagens, há a legenda: “Governo Bolsonaro Março de 2022″. A trilha é um trecho da música Riacho do Navio, de Luiz Gonzaga, que cita o Rio São Francisco. O segundo vídeo mostra um canal vazio, gravado em alta velocidade, possivelmente a partir de um veículo, com a legenda “Governo Lula Setembro de 2023″. Aqui a trilha é a música instrumental Yeshua, de Samy Galí.
A coluna Painel, da Folha de S.Paulo, publicou sobre a montagem depois que Bolsonaro postou o conteúdo em sua conta no X (ex-Twitter). O jornal identificou que a primeira imagem foi publicada originalmente pela página Jeito Nordestino, do Instagram, em 19 de maio de 2023, incluindo a trilha sonora de Luiz Gonzaga que aparece na montagem. O responsável pela gravação, André do Cariri, administrador da página Jeito Nordestino, confirmou à Folha de S.Paulo que a filmagem é deste ano.
Na legenda do conteúdo, André diz se tratar da Transposição do Rio São Francisco que passa em Barbalha, no Ceará. Embora receba água da transposição, na verdade o ponto é parte de um dos trechos do Cinturão das Águas do Ceará (CAC), que tem início em Jati e segue até Barbalha.
Como explicado anteriormente pelo Estadão Verifica, essa obra é do governo do Estado, com aporte próprio e também federal, e não faz parte do traçado da Transposição do Rio São Francisco, embora sirva para levar água dela até o Açude Castanhão, no Ceará, passando por diversas cidades. O objetivo do CAC é dar capilaridade às águas do São Francisco por toda a região do Cariri, aduzindo água da barragem Jati, situada no Eixo Norte da Transposição.
O segundo vídeo parece ter sido gravado também no CAC, por apresentar uma estrutura que aparentemente é utilizada para escoar água da chuva e que existe no Cinturão. Porém, não foi possível identificar onde e quando foi gravado. Não há como visualizar outros detalhes que possam ajudar a localizar a origem das imagens, que parecem ter sido aceleradas e ampliadas para dificultar esse processo. No entanto, é visível que os vídeos dos canais não foram gravados no mesmo trecho devido à largura de ambos, que é diferente.
Em nota publicada no site oficial, o Governo do Ceará informou que os primeiros quilômetros do CAC, referente aos lotes 1, 2 e 5 do Trecho 1, estão concluídos e com água, caso de Barbalha.
Em janeiro deste ano, o Verifica explicou que estava suspensa a operação na Estação de Bombeamento 3 (EBI 3) da Transposição, em Salgueiro (PE), a 42 quilômetro da divisa com o Ceará, e que as atividades haviam sido interrompidas para uma manutenção corretiva nos equipamentos, que apresentavam problemas desde setembro de 2022, no governo Bolsonaro. Na nota de agora, o Governo do Ceará informou que em julho de 2023 o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) recolocou o sistema em operação, permitindo que a estrutura voltasse a liberar água para os estados.
A transposição do Rio São Francisco tem sido alvo de desinformação constante. Confira as checagens sobre o assunto publicadas pelo Estadão Verifica neste ano.
