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Postagem sobre agricultores europeus divulga imagens da França como se fossem da Alemanha

Conteúdo viral confunde lugar em que protestos ocorreram; categoria tem pauta ampla de reivindicações, como concorrência externa desleal e aumento dos custos de produção

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Por Bernardo Costa

O que estão compartilhando: vídeo que exibe cenas de protesto de agricultores na Europa. A maioria delas mostra tratores tomando estradas e despejando esterco em vias públicas e na fachada de edifícios de órgãos de governo. Sobre o vídeo, aparece a frase: “Direita na Alemanha representa!”. O responsável pela postagem escreve, na legenda, que se os brasileiros fizessem algo semelhante às ações que aparecem nas imagens “estariam presos como o pessoal do 8 de janeiro, e perseguidos pela atual ditadura”.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: está fora de contexto. A maior parte da imagens mostra protestos de agricultores na França, onde as ações foram mais violentas. No dia 31 de janeiro, mais de 100 manifestantes foram presos por terem invadido um mercado atacadista em Paris.

Captura de tela da postagem verificada Foto: Reprodução/Instagram

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Saiba mais: O vídeo começa com cenas de protestos de agricultores que de fato ocorreram na Alemanha: comboios de tratores em ruas no bairro de Tiergarten, na região central de Berlim. Há também o vídeo de um trator passando por cima de um canteiro antes de tentar furar um bloqueio policial. É possível ler “polizei” (polícia em alemão) no carro que tenta barrá-lo.

Pelo menos seis das outras imagens mostram protestos de agricultores na França, o epicentro das manifestações dos produtores rurais na Europa. No país, mais de 100 manifestantes foram presos no dia 31 de janeiro, 91 deles por ter invadido um mercado atacadista em Paris.

Uma das imagens do vídeo verificado mostra um homem com roupa vermelha atirando estrume contra um edifício público com o auxílio de uma espécie de mangueira. A cena ocorreu na França, como mostram esta postagem na rede social reddit e esta no YouTube. Outra imagem, a de um caminhão despejando esterco nas escadarias de um prédio, também foi registrada na França, como se percebe nesta postagem do mesmo vídeo no YouTube. Pode-se observar a bandeira do país hasteada na fachada do edifício.

Outras duas imagens (reprodução abaixo) também foram registradas na França. Nos tratores, é possível ver a bandeira (destaque em vermelho) do sindicato agrícola francês Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas (FNSEA), entidade que organiza os protestos na França ao lado do sindicato Jovens Agricultores (JA).

A bandeira do sindicato francês FNSEA (sinalizada em vermelho) presa a tratores em duas cenas que aparecem no vídeo verificado Foto: Reprodução/Instagram

Mais duas imagens do vídeo verificado também são na França, como se constata pelas bandeiras da FNSEA, da JA e da França (abaixo).

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Detalhes em vermelho mostram bandeiras dos sindicatos de agricultores franceses FNSEA e JA e da França Foto: Reprodução/Instagram

Os protestos dos agricultores acontecem também na Bélgica, Holanda, Itália, Espanha, Romênia, Polônia, Portugal e Grécia. A pauta de reivindicações é extensa, e envolve temas como concorrência externa desleal, burocracia excessiva, baixos rendimentos, elevado custo de produção e excesso de impostos e de regulamentações ambientais. Entre as fontes de descontentamento estão, também, acordos de comércio agrícola com o Mercosul e com a Ucrânia.

Na Alemanha, protesto é contra fim de subsídios à categoria

Em meio a uma crise econômica, o governo da Alemanha tomou medidas impopulares na tentativa de ajustar as contas. Dentre elas, o anúncio do fim do subsídio ao diesel agrícola e da isenção de impostos sobre veículos agrícolas e florestais. Foram esses os motivos que resultaram nos protestos dos produtores rurais alemãs, que começaram em dezembro de 2023 e se estenderam no início deste ano. As manifestações foram convocadas pela Associação Alemã de Agricultores (DBV). Em seu site, a DBV informa que não é afiliada a nenhum partido político.

Apesar de terem sido convocados por uma entidade não-partidária, uma reportagem no site Deutsche Welle (DW) mostra que organizações da extrema direita alemã tentam “pegar carona” nos protestos dos produtores rurais “para promover agendas antidemocráticas”, incluindo grupos neonazistas.

Segundo o texto, Martin Sellner, líder do Movimento Identitário até 2023 – “grupo que propaga ideologias racistas em nome da luta contra o Islã e a imigração”, segundo a DW – orientou sobre como os membros da extrema direita deveriam se infiltrar: “Quando a gente for se envolver, que seja como ativistas patriotas – não correndo para a frente do protesto, nem liderando as reivindicações com ideias e palavras de ordem próprias, mas sendo solícitos e, principalmente, levando às ruas nosso potencial de mobilização”, disse Sellner em vídeo postado no X, segundo divulgado pelo site DW.

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