Dois anos de guerra: países do Ocidente não vão deixar a Ucrânia perder, diz analista política alemã

De acordo com Constanze Stelzenmüller, apesar do momento desfavorável da Ucrânia na guerra, a ofensiva russa de inverno relembra os países do Ocidente de que não podem deixar de apoiar Kiev

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Por Daniel Gateno
Foto: Brookings/Reprodu
Entrevista comConstanze StelzenmüllerDiretora do Centro de Estados Unidos e Europa do Instituto Brookings

Ajuda econômica travada no Congresso americano, Exército na defensiva e escalada de ataques russos no gélido inverno no Leste Europeu são apenas alguns dos desafios que a Ucrânia enfrenta em sua tentativa de repelir a invasão russa de seu território, que completou dois anos no último sábado, 24.

Após resultados modestos na contraofensiva ucraniana, as tropas de Kiev estão na defensiva e tiveram que se retirar de Avdiivka, na província de Donetsk, na semana passada. Com uma redução do apoio interno dos EUA à Ucrânia, a administração de Joe Biden tenta fazer um acordo com os republicanos para aprovar um pacote econômico americano a Kiev.

A falta de apoio militar e econômico de Washington já é sentida pelos ucranianos no campo de batalha.

“A Ucrânia precisa ser abastecida, com munições, defesas antidrones e antimísseis. Nós, ocidentais, temos sido muito lentos em dar à Ucrânia aquilo que o país necessita; e nos EUA, a parcela do Partido Republicano que é mais próxima de Donald Trump está tentando impedir completamente a ajuda a Kiev”, avalia Constanze Stelzenmüller, analista política alemã e diretora do Centro de Estados Unidos e Europa do Instituto Brookings, think tank americana com enfoque em política externa, em entrevista ao Estadão.

Apesar disso, a analista não acredita que o Ocidente pare de apoiar a Ucrânia. “Os ataques russos relembram o Ocidente de que não é possível parar de apoiar Kiev.”

Os russos tem intensificado os ataques contra cidades ucranianas no inverno para aproveitar que as tropas ucranianas estão na defensiva e com carência de defesa aérea e munição  Foto: Ministério da Defesa da Rússia/AP

Confira trechos da entrevista:

Como você enxerga a guerra na Ucrânia neste momento, depois de dois anos?

Os ucranianos lutaram bravamente contra os invasores russos, que estão preparados para infligir e sofrer enormes perdas. Porém, a contraofensiva ucraniana não foi bem sucedida e agora eles estão na defensiva.

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A Rússia está bombardeando a Ucrânia neste inverno, prejudicando a infraestrutura civil e militar ucraniana. Porque eles estão fazendo isso? Seria para cansar a sociedade ucraniana da guerra e forçar Kiev a negociar?

Sim, mas este tipo de campanha tem o efeito oposto, estes ataques ajudam a unir uma sociedade civil ucraniana exausta e também relembra os países ocidentais sobre a razão de porque apoiam a Ucrânia. No entanto, as ameaças de Putin contra a Polônia e os países bálticos em sua entrevista com Tucker Carlson também levantam a questão sobre a própria própria segurança da Otan.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zeleski, cumprimenta o presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, ao lado do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, do primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, e da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, em uma reunião da Otan, em Vilna, Lituânia  Foto: Doug Mills/AP

O que podemos esperar em relação a apoio militar do Ocidente para a Ucraína? O que Kiev precisa neste momento?

A Ucrânia precisa que a Rússia pare a invasão e se retire do seu território. Se a Rússia não fizer isso – e não der sinais de que vai fazer–, a Ucrânia precisa ser abastecida, com munições, defesas anti-drones e anti-mísseis. Nós, ocidentais, temos sido muito lentos em dar à Ucrânia aquilo que o país necessita; e nos EUA, a parcela do Partido Republicano que é mais próxima de Donald Trump está tentando impedir completamente a ajuda a Kiev.

Mas não podemos deixar a Ucrânia perder, e no final, acredito que não o faremos.

Como um governo de Donald Trump lidaria com a guerra na Ucrânia?

Ainda falta muito tempo para as eleições americanas e acredito que nada está decidido, mas Trump, que ainda não é o candidato, mas domina o Partido Republicano, afirmou repetidas vezes que “acabaria com a guerra na Ucrânia em um dia”. Ele parece acreditar que poderia fazer um acordo com o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

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