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Entenda a disputa entre o governo da Rússia e o líder do Grupo Wagner

Ievergni Prigozhin, líder do grupo mercenário, acusou o governo russo de atacar suas instalações militares; Putin fala em ‘apunhalada nas costas’

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Por Redação
Atualização:

A Rússia vive um momento de instabilidade neste sábado, 24, por conta da rebelião armada instigada pelo chefe do Grupo Wagner, Ievegni Prigozhin.

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Generais russos acusaram o chefe do grupo mercenário de montar um golpe contra o presidente Vladimir Putin. Apesar das desavenças dos últimos meses, Prigozhin era aliado de Putin e foi importante na conquista da cidade de Bakhmut, na Ucrânia.

Durante a noite, houve relatos de movimentos militares em uma área do sul da Rússia perto da fronteira com a Ucrânia. Prigozhin chegou a afirmar ter o controle de partes do quartel-general do comando militar no sul da Rússia e disse que estava a caminho de Moscou, mas ordenou o fim da marcha horas depois, graças a uma negociação com o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, aliado de Putin.

Segundo declaração do gabinete de Lukashenko, um cessar-fogo foi mediado para que o chefe do Grupo Wagner negocie com o governo russo.

Membros do Grupo Wagner patrulham uma área perto de um tanque do lado de fora de um prédio na cidade de Rostov-on-Don, em 24 de junho de 2023 Foto: STRINGER / AFP

Em um discurso nacional antes do fim do motim ser anunciado, Putin chamou as ações das forças de Wagner de “uma facada nas costas de nosso país e de nosso povo” e prometeu “ações decisivas.

Não está claro o tamanho do território que o Grupo Wagner chegou a ocupar. Mas o motim representa a ameaça mais grave ao poder do presidente russo desde que ele chegou ao Kremlin, em 1999, e acontece no momento em que suas tropas lidam com uma contraofensiva da Ucrânia na guerra.

O que está acontecendo?

Prigozhin acusou nesta sexta-feira, 23, os militares russos de atacar os acampamentos de seus combatentes – uma informação que não pôde ser verificada de forma independente. E também descreveu a invasão da Ucrânia como uma “farsa” perpetrada por uma elite russa corrupta.

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O líder do grupo mercenário afirmou que todo o seu batalhão estaria se preparando para uma ofensiva contra o ministério da Defesa da Rússia, embora tenha dito que não se tratava de um “golpe militar”.

Imagens de vídeo mostraram veículos blindados do exército russo na cidade de Rostov-on-Don, no sul da Rússia, perto da linha de frente da guerra na Ucrânia, onde os combatentes de Prigozhin estavam operando.

O líder do Grupo Wagner, Ievegni Prighozin, gravou uma mensagem de vídeo na frente de um prédio militar em Rostov  Foto: Assessoria de imprensa do Grupo Wagner/ AP

Vídeos que foram verificados pelo The New York Times mostraram dezenas de soldados saindo de veículos militares e apontando suas armas para o complexo que forma o posto de comando militar no sul da Rússia.

O governador da região de Rostov pediu aos moradores que ficassem em casa e garantiu que as autoridades estavam “fazendo todo o necessário” para manter a segurança. Na região de Voronezh, ao norte de Rostov, o governador local afirmou que um comboio de equipamentos militares se movia ao longo de uma rodovia local. Não estava claro em que direção ele estava se movendo.

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Ao longo do sábado, governadores locais, membros do Kremlin e deputados russos declararam lealdade a Putin. Nenhuma figura proeminente declarou apoio ao chefe do grupo Wagner. Lukashenko, presidente de Belarus, disse mediar um cessar-fogo e a crise entre o grupo paramilitar e as Forças Armadas da Rússia diminuiu. Prigozhin anunciou o fim da marcha a Moscou e o retorno das suas tropas à Ucrânia.

Quem é Prigozhin?

O empresário e líder do Grupo Wagner faz parte da elite russa e do circulo de oligarcas que tem um forte vinculo com o presidente Vladimir Putin. Em 2018, ele foi um dos 13 russos indiciados por um júri federal nos Estados Unidos sob acusação de terem interferido nas eleições americanas de 2016.

O Grupo Wagner surgiu pela primeira vez durante a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014. Desde então, exerceu influência em nome de Moscou na Síria, Líbia, República Centro-Africana, Sudão, Mali e Moçambique.

Os mercenários são importantes para a guerra do Kremlin na Ucrânia, tendo participado da conquista da cidade de Bakhmut.

Qual é a reclamação do Grupo Wagner

Nos últimos meses, Prigozhin lançou acusações contra a liderança militar da Rússia. Ele culpa os generais russos por não fornecerem munição suficiente às suas forças e por ignorarem as lutas dos soldados.

O Kremlin tentou botar panos quentes nos comentários do líder do Grupo Wagner por meses, mesmo quando alguns analistas disseram que Prigozhin estava alavancando a sua liderança política, possivelmente ameaçando o controle de Putin no poder.

Um caminhão transportando um tanque do grupo mercenário privado Wagner dirige pela rodovia M-4, que liga a capital Moscou às cidades do sul da Rússia, perto de Voronezh, Rússia, 24 de junho de 2023 Foto: Stringer / REUTERS

Mas a paciência do oficial havia claramente evaporado na manhã de sábado, quando o procurador-geral do país anunciou que Prigozhin estava sendo investigado por acusações que acarretavam pena máxima de 20 anos de prisão.

Mais tarde, durante o discurso televisionado, Putin abordou a situação em Rostov-on-Don dizendo que “ações decisivas” seriam tomadas para estabilizar a região. Ele disse que o funcionamento de instituições militares e civis na cidade de um milhão de habitantes no sul da Rússia “foi essencialmente bloqueado”.

“Ações que dividem nossa unidade são, em essência, derrotismo perante o próprio povo”, disse Putin./NYT

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