Turquia diz que não aprovará entrada da Suécia e Finlândia na Otan; entenda por que isso importa

Presidente Recep Tayyip Erdogan se disse contrário ao ingresso dos países nórdicos na aliança, acusando-os de apoiar ‘terroristas’; veto turco poderia impedir ingresso

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Por Redação
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Logo após a Finlândia e a Suécia oficializarem suas intenções de ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, avisou que não aprovará a entrada de ambos na aliança. A adesão de novos membros requer consentimento unânime dos 30 aliados, tornando a posição turca uma importante barreira às intenções dos dois países nórdicos.

Aqui está o que saber sobre a oposição da Turquia à adesão da Finlândia e da Suécia à Otan.

O que a Turquia disse sobre a adesão da Finlândia e da Suécia à Otan?

Erdogan disse na sexta-feira, 13, que a Turquia não era “favorável” à possibilidade de Finlândia e Suécia ingressarem na Otan. Nesta segunda, 16, logo após a Suécia oficializar seu pedido seguindo o exemplo da Finlândia, Erdogan reforçou que não iria permitir a adesão.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, declarou ter ressalvas ao ingresso dos países nórdicos na Otan na sexta-feira, 13. Foto: Murat Cetinmuhurdar/Presidential Press Office/Handout via REUTERS Foto: Murat Cetinmuhurdar/Presidential Press Office/Handout via REUTERS

“Estamos acompanhando os desenvolvimentos com a Suécia e a Finlândia, mas não temos pensamentos favoráveis”, disse ele a repórteres na sexta.

No domingo, o ministro turco das Relações Exteriores estabeleceu várias condições para seu apoio, incluindo que as nações nórdicas encerrem o que ele chamou de apoio a “organizações terroristas” em seus países, bem como como proibições de exportação para a Turquia.

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No sábado, um conselheiro de Erdogan disse à agência Reuters: “Não estamos fechando a porta. Mas estamos basicamente levantando essa questão como um assunto de segurança nacional para a Turquia”.

Nesta segunda, porém, Erdogan reiterou a oposição, acusando-os novamente de não tomarem uma posição clara contra o “terrorismo”. O presidente ainda alertou as delegações dos dois países que não deveriam se incomodar em ir até Ancara para convencê-lo a mudar de ideia.

O Ministério das Relações Exteriores da Suécia disse que altos representantes do país e da Finlândia planejam viajar para a Turquia para conversar sobre as objeções. “Eles estão vindo para a Turquia na segunda-feira. Eles estão vindo para nos convencer? Desculpe, mas eles não devem se cansar”, disse Erdogan.

Por que a Turquia não quer a Finlândia e a Suécia na Otan?

Erdogan alegou que a Suécia e a Finlândia são “o lar de muitas organizações terroristas”, referindo-se principalmente a militantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, ou PKK, e seguidores de Fethullah Gulen, a quem Ancara acusa de orquestrar uma tentativa de golpe de 2016.

O PKK é um grupo guerrilheiro curdo que combateu por décadas em uma insurgência separatista em partes da Turquia. O grupo foi designado pelos Estados Unidos como uma organização terrorista em 1997.

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Manifestantes pró-Curdos protestam contra a prisão contra o líder do PKK, Abdullah Ocalan, em Estrasburgo, na França, em fevereiro de 2019. Foto: Vincent Kessler/ REUTERS Foto: REUTERS/Vincent Kessler

Anos depois, porém, Estados Unidos e Suécia atraíram a ira de Erdogan por apoiar uma milícia afiliada ao PKK na Síria, onde o grupo lutava contra o Estado Islâmico. A Turquia repreendeu os EUA em fevereiro do ano passado, e Ancara convocou o embaixador da Suécia na Turquia para esclarecimentos sobre o assunto dois meses depois.

“Nenhum desses países tem uma atitude clara e aberta em relação às organizações terroristas”, disse Erdogan em entrevista coletiva nesta segunda. “Como podemos confiar neles?” A Otan se tornaria “uma incubadora” para terroristas se os dois países se unissem, disse ele.

Erdogan, cujas opiniões pouco ortodoxas sobre a relação entre taxas de juros e inflação levaram a graves turbulências econômicas, enfrentará uma luta pela reeleição em 2023, e suas declarações sobre os países nórdicos podem ser direcionadas em parte a eleitores nacionalistas que se opõem a qualquer aproximação com o PKK.

A Turquia expôs outras queixas sobre a Suécia e a Finlândia, incluindo preocupações sobre garantias de segurança e bloqueio de exportações de armas para o país.

A Turquia pode vetar a adesão da Finlândia e da Suécia à Otan?

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A admissão da Finlândia e da Suécia na aliança requer o apoio unânime de todos os 30 Estados-membros da Otan, então a Turquia pode se opor e impedir que as adesões aconteçam.

Diplomatas disseram que Erdogan estaria sob pressão para ceder, já que a Finlândia e a Suécia fortaleceriam muito a Otan no Mar Báltico.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, cumprimenta o chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, durante encontro informal de ministros da Otan em Berlim. Foto: Hannibal Hanschke/ EFE Foto: Foto: Hannibal Hanschke/ EFE

Os líderes da Otan inicialmente esperavam que a objeção turca não causasse um grande atraso nos planos dos países nórdicos, mas agora a posição de Erdogan parece um sério obstáculo.

Os Estados Unidos, que têm um papel descomunal na aliança, disseram que há amplo apoio à adesão das nações nórdicas à Otan. Karen Donfried, secretária de Estado adjunta para assuntos europeus e euroasiáticos, alertou que Erdogan não declarou formalmente que agiria contra a Suécia e a Finlândia. Ela disse a repórteres: “Não está claro para mim que a Turquia está dizendo que se oporá à solicitação da Suécia”.

Em resposta a perguntas sobre a posição da Turquia, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, chegou a expressar confiança no domingo de que a solicitação de adesão dos países à aliança avançaria rapidamente.

“A Turquia deixou claro: sua intenção não é bloquear a adesão”, disse ele a repórteres. “Portanto, estou confiante de que seremos capazes de abordar as preocupações que a Turquia expressou de uma forma que não atrase o processo de adesão”.

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A porta-voz da ministra das Relações Exteriores sueca, Ann Linde, se recusou a comentar a posição turca./W.POST e REUTERS