Ao longo dos anos, alguns modelos de iPhone caíram no gosto do brasileiro - entre os inesquecíveis estão o iPhone 4s, o iPhone 5s, o iPhone 7 e o iPhone 11. Em comum, todos reuniam bons recursos por um preço acessível, o que garantiu a comercialização deles por muito tempo. Agora, a Apple pode estar prestes a cravar um novo nome neste seleto grupo: os modelos padrão e Plus do iPhone 16, que estão à venda no País desde o final de setembro a partir de R$ 7,8 mil.
Não que o novo celular vá conquistar pelo preço logo de cara. Neste ano, os modelos padrão e Plus chegaram ao Brasil com aumento de até 14,5% em comparação com o ano passado, reflexo da desvalorização do real frente ao dólar (nos EUA, os preços permaneceram os mesmos). No entanto, a nova linha entrega uma série de recursos e atualizações que encurtam a distância para a linha Pro, o que pode fazer o investimento valer a pena no longo prazo. Neste ano, esqueça os modelos iPhone 16 Pro.
A partir do iPhone 14, lançado em 2022, a Apple adotou uma estratégia agressiva de diferenciação entre a linha padrão e a linha Pro. Naquele ano, a linha Pro recebeu o chip A16 Bionic, enquanto a linha padrão permaneceu com o A15 Bionic, lançado inicialmente em toda a família do iPhone 13. No ano passado, a história se repetiu: o iPhone 15 padrão ficou com o chip A16 Bionic do iPhone 14 Pro, enquanto a linha Pro ganhou o chip A17 Pro.
Neste ano, o iPhone 16 padrão recebeu o processador A18, enquanto a linha Pro chega com o A18 Pro. Embora diferentes, isso significa que a família padrão recebeu a mesma geração de processadores do irmão “rico” e ambos têm tecnologia de 3 nm e CPU de 6 núcleos. Isso significa que o iPhone 16 vai ter boa performance em quase todas as tarefas exigidas de um smartphone topo de linha.
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Nos testes da reportagem, que envolvem uma dieta saudável de redes sociais, vídeos, e-mails, navegação, fotos, vídeos, edição de mídia, execução de multitarefas e uma pitada de jogos, o telefone deu conta com tranquilidade - o que é uma excelente notícia para quem planeja uso de longo prazo. Sites especializados internacionais detectaram que tanto a linha padrão quanto a linha Pro têm a mesma quantidade de memória (8 GB) e afirmam que em testes bastante específicos o A18 Pro leva vantagem. No entanto, isso talvez não seja algo a se considerar no “mundo real”.
Para dar conta dos novos chips, a Apple reformou a estrutura de dissipação de calor dos novos aparelhos. Vale lembrar: o iPhone 15 gerou reclamações de superaquecimento, principalmente durante o carregamento e a execução de jogos mais intensos - a Apple até admitiu o problema. Na época, parecia que simples atualizações do iOS poderiam resolver a questão, mas agora fica claro que o modelo tropeçava do ponto de vista de hardware.
O iPhone 16 padrão não recebeu uma mudança de design interno tão avançada quanto o irmão mais caro, ainda assim a organização interna mudou - afinal, diante de concorrentes de outras marcas, o celular estava ficando para trás neste quesito. O aparelho recebeu grafeno para dissipar o calor. Além disso, a disposição de chips e outros componentes foi refeita para concentrar o aquecimento em apenas alguns pontos do corpo do aparelho. Parece que deu certo. Nos testes da reportagem, não experimentamos nenhum momento de calor mais intenso.
Segundo o site iFixit, um dos pontos de concentração de calor é justamente onde está localizada uma das principais novidades do ano. Ou quase isso. O site, que é conhecido por desmontar e expor nos mínimos detalhes as entranhas de aparelhos eletrônicos, detectou que na região onde está o chip que processa inteligência artificial (IA) é onde o aparelho mais gera calor. Não é coincidência, agora que o iPhone conta com a Apple Intelligence, a plataforma de IA da companhia.
Os recursos, que ainda não estão disponíveis em português, formam um pacote de pequenas ferramentas que planejam deixar tanto o telefone quanto a Siri, a clássica assistente da Apple, mais espertos. Nos nossos testes (veja o vídeo abaixo), a Apple Intelligence não impressionou, mas demonstra para onde a companhia pretende ir e há espaço para melhora. Mais importante: a Apple disponibilizou a plataforma também para os modelos padrão da família, e não apenas para a linha Pro - os únicos modelos compatíveis com os recursos são os iPhones 15 Pro e toda a linha iPhone 16.
Em um passado não muito distante, era de se esperar que a Apple reservasse a nova plataforma apenas para modelos mais caros. No entanto, a competição no mercado de IA, no qual a OpenAI, Google e Meta disputam arduamente usuário por usuário, forçou a marca a abrir as porteiras. É uma decisão de negócios com benefício claro para o consumidor - a questão, agora, é saber se a Apple Intelligence será a potência que se espera. Para os brasileiros, a expectativa é de que teremos a plataforma em português no primeiro semestre do ano que vem.
Por fim, o iPhone 16 padrão recebeu o novo controle de câmera, um botão na lateral do aparelho que dá acesso à câmera e permite realizar vídeos e fotos sem precisar acessar os menus e controles digitais de sempre. Esse é mais um caso de novidade incomum. Recentemente, novidades em hardware chegavam aos modelos Pro primeiro e só eram estendidos aos modelos populares no ano seguinte. Isso aconteceu com a Ilha Dinâmica, que estreou no iPhone 14 Pro e só chegou ao modelo padrão no ano passado, com o iPhone 15. Agora, tanto os modelos padrão quanto o Pro ganharam a novidade - nós testamos as funcionalidades no vídeo abaixo. Spoiler: no começo é meio desajeitado, mas funciona bem para fotos na horizontal.
Além disso, o iPhone 16 padrão recebeu o botão de ação, que estreou no iPhone 15 Pro no ano passado - o recurso dá acesso rápido a diferentes apps do celular e pode ser configurado. Ele pode criar um atalho para o gravador, a lanterna, ao Shazam e a outros apps. Com tudo isso, o modelo padrão do iPhone fica muito próximo do modelo mais caro.
Câmera do iPhone 16 corrige problema que se arrastava
Em relação à câmera, pouca coisa mudou no iPhone 16 - ao menos em tese. O conjunto permanece duplo, com uma lente principal de 48 MP e uma ultra-angular de 12 MP, que podem gerar fotos de 24 MP (no modo padrão) ou de 48 MP (o usuário precisa ativar o recurso nas configurações). A ultra-angular está com a abertura um pouco maior, o que permite captura de mais luz, resultando em imagens mais nítidas.
Isso parece ter corrigido uma característica das câmeras do iPhone que surgiu por volta do iPhone 12, que tendia a escurecer as imagens feitas pelo telefone. Não chegava a ser um problema óbvio para todo mundo, mas a mudança incomodava quem vinha de modelos como o iPhone 11 ou o iPhone X.
Neste ano, o telefone entregou fotos com cores vivas e um grau de nitidez bastante satisfatório - além da nova câmera, parece que há algo diferente no processamento das imagens. Claro, em algumas fotos em ambientes escuros, mesmo com o modo noturno ativado, ele escorregou, mas, no geral, os resultados foram bons.
Na parte traseira, é possível notar que a disposição das câmeras foi alterada. Agora, as câmeras ficam alinhadas verticalmente - antes, elas ficavam na diagonal. Com isso, a Apple trouxe um recurso que também estava disponível apenas para os aparelhos Pro: o modo Macro, que permite realizar imagens detalhadas de objetos extremamente próximos. É mais uma mudança que aproxima o 16 de sua versão mais cara.
Vale dizer que a linha Pro neste ano mantém um conjunto triplo de câmera, mas a lente ultra-angular foi atualizada para 48 MP. Há também uma série de recursos voltados para profissionais da imagem, como fotos no formato ProRaw e controles avançados para edição de cores em vídeo. São recursos muitos interessantes, mas que não são decisivos na sua vida caso você não seja fotógrafo, cineasta ou até influencer.
Defeitos do iPhone 16
Apesar de ter se aproximado da linha Pro em vários quesitos, o iPhone 16 padrão permanece com um componente velho: a taxa de atualização da tela de 60 Hz. Esse é um elemento que suaviza imagens em movimento, como por exemplo jogos e navegação por sites. Desde o iPhone 13 Pro, a linha mais cara da Apple conta com uma taxa de atualização de 120 Hz.
No mundo Android, a taxa de 120 Hz já está presente até em celulares intermediários, como o Galaxy A35, da Samsung, enquanto aparelhos mais avançados podem ter taxas de até 165 Hz.
Na prática, isso pode fazer diferença se você estiver vindo de aparelhos com taxas altas, como linhas anteriores do iPhone Pro ou celulares Android mais avançados. As imagens vão parecer um pouco mais “travadas” até em rolagens de páginas. Se você está chegando do mundo de taxas baixas, dificilmente perceberá algo.
Outra diferença sutil entre as linhas padrão e Pro está no tamanho das telas. O iPhone 16 manteve os mesmos 6,1 e 6,7 polegadas. Já os modelos Pro cresceram 0,2 polegada (6,3 e 6,9) graças a uma redução das bordas que permitiram que o corpo do aparelho permanecesse igual. Faz diferença? Só se você colocar os aparelhos lado a lado.
Por fim, os modelos Pro são os únicos que mantêm a capacidade de ter a tela sempre ativa. É um recurso bacana, mas que não fizeram falta em nossos testes.
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iPhone 16 tem potencial
A Apple admite que seus clientes, em média, trocam de iPhone de quatro em quatro anos. Isso significa que um usuário com este perfil faria a transição da linha iPhone 12 para o iPhone 16. É um grande salto, mesmo que o aparelho seja da linha Pro. É uma mudança interessante - e de investimento mais baixo - mesmo que você venha das linhas Pro do iPhone 13 e iPhone 14.
A razão para tudo isso é que o iPhone 16 padrão ganhou muitos recursos que o aproximam da linha Pro. No Brasil, a união de ferramentas bacanas, investimento mais baixo e expectativa de vida útil longa costuma resultar em um iPhone de sucesso - incluindo ótimo potencial de revenda. Agora, é aguardar para ver se a hora do básico brilhar chegou novamente.
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