Debate da Gazeta: candidatos ignoram regras, trocam ataques e deixam propostas para SP de lado

Pablo Marçal esteve envolvido na maioria dos embates com trocas de ofensas, mas Nunes e Boulos também tiveram momentos em que esqueceram a discussão sobre a cidade e partiram para o enfrentamento entre si

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Atualização:

Apesar do esforço dos organizadores para adotar regras mais rígidas e garantir a discussão de propostas para a cidade, o debate da TV Gazeta e do canal MyNews na eleição para prefeito de São Paulo neste domingo, 1º, seguiu a tendência dos encontros anteriores. Durante 2h30min, candidatos trocaram ataques e ofensas e inventaram apelidos pejorativos para se referir aos adversários, enquanto propostas para a capital quase não tiveram espaço.

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No momento mais marcante, José Luiz Datena (PSDB) deixou seu púlpito para encarar Pablo Marçal (PRTB) após uma discussão entre os dois. O clima esquentou após o apresentador dizer que o influenciador o ligou antes do debate da Band para combinar ataques contra Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB).

“Se eu soubesse o vagabundo, ladrão, sem vergonha, estelionatário de internet que você é, não teria atendido nenhuma ligação sua”, disse Datena. “Está desequilibrado. Quer ser prefeito ou ditador?”, disse Marçal ao ver o adversário se aproximar.

A apresentadora precisou intervir nesta e em outras ocasiões para tentar garantir o mínimo de civilidade e a continuidade do debate. Novamente, Marçal esteve envolvido na maioria dos embates com trocas de ofensas, mas Nunes e Boulos também tiveram momentos em que esqueceram a discussão sobre a cidade e partiram para o enfrentamento entre si.

Tabata Amaral (PSB) partiu de críticas à gestão de Nunes para apresentar propostas e anunciou uma nova representação contra Marçal na Justiça Eleitoral. Ela afirmou ter reunido indícios de que ele voltou a praticar abuso de poder econômico para ganhar seguidores em seus perfis reservas nas redes sociais após as contas principais terem sido suspensas.

No total, foram 21 pedidos de direito de resposta, sendo oito concedidos pela organização do debate. Quem mais fez pedidos para responder a ofensas foi Boulos, foram sete – dois acatados. Marçal e Nunes fizeram a solicitação cinco vezes, cada, sendo atendidos duas e três vezes, respectivamente. Datena pediu direito de resposta quatro vezes, e teve um concedido a ele.

Datena descumpre regra e parte para cima de Marçal durante debate entre os candidatos na TV Gazeta Foto: Reprodução/MyNews

Perguntas de eleitores criam ‘vacina’ contra embates no quarto bloco

O quarto bloco foi o único em que não houve ataques. Não por mérito dos candidatos, mas sim por causa do formato: cada participante respondeu a um questionamento enviado por eleitores, sem oportunidade para comentários dos rivais.

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Ao ser questionado sobre como lidar com a Cracolândia, Nunes exaltou ações tomadas por sua administração, como o aumento do efetivo da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e o aumento de leitos para tratamento de doentes químicos. Segundo ele, o número de usuários na região caiu de 4 mil em 2016 para cerca de 900 atualmente. “Ainda é muito, e é por isso que eu e Tarcísio estamos trabalhando todos os dias”, disse.

Tabata, porém, pontuou que foi na gestão do prefeito que a Cracolândia se espalhou. Ela também citou o surgimento de uma milícia formada por integrantes da GCM e da Polícia Militar que cobravam propina ou “taxa de proteção” para manter o fluxo de usuários longe de determinados estabelecimentos. O esquema foi alvo de operação no início do mês passado.

Ela também apresentou a proposta de criação do “Passaporte da Cidadania”, um sistema que daria pontos aos cidadãos que “fazem sua parte”, como destinar o lixo corretamente em ecopontos e realizar atividades físicas. Esses pontos poderiam ser trocados por ingressos para atividades culturais, como shows e teatros.

Datena foi perguntado sobre como integrar a tecnologia nas salas de aula, de modo a melhorar a qualidade do ensino sem alienar os professores. “É simples: você tem que fazer com que o profissional seja habilitado para lidar com a máquina. O que não pode é trocar livros físicos por livros virtuais, como fez o governo do Estado”, afirmou o tucano.

Boulos apresentou como proposta o “Poupatempo da Saúde”. Ele afirmou que vai criar 16 unidades que terão consultas com especialistas e espaços para realizar exames. A ideia é descentralizar o atendimento e reduzir as filas.

Já Marçal deveria responder com propostas para melhorar a mobilidade urbana e a criminalidade. Ele criticou governos do PT, que segundo ele gastaram “milhões” para fazer ciclovias. “Vamos criar dois milhões de empregos com cinturão empresarial na periferia”, disse.

Ele costuma afirmar que a criação de empregos em bairros mais afastados diminuiria a necessidade de deslocamento para a região central e seria uma solução para melhorar o transporte público e o trânsito.

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Terceiro bloco do debate tem bate-boca e descumprimento de regras

Após um bate-boca no final do terceiro bloco, o apresentador José Luiz Datena deixou o púlpito onde estava – o que não era permitido pela regras – e se aproximou de Pablo Marçal para encará-lo. Ambos tiveram um duro enfrentamento momentos antes, quando o apresentador disse que o influenciador ligou para ele um dia antes do debate da Band para combinar o jogo. Segundo Datena, Marçal teria pedido para ele focar ataques em Nunes, enquanto o ex-coach atacaria Boulos.

“Se eu soubesse o vagabundo, ladrão, sem vergonha, estelionatário de internet que você é, não teria atendido nenhuma ligação sua”, disse Datena.

“Está desequilibrado. Quer ser prefeito ou ditador?”, disse Marçal enquanto o tucano chegava mais perto. A apresentadora do debate cancelou direitos de resposta que haviam sido concedidos anteriormente e foi obrigada a encerrar o bloco diante do episódio.

Enquanto adversários respondiam, Marçal aproveitava tela divida para fazer gestos com as mãos para os telespectadores Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Ricardo Nunes e Guilherme Boulos também protagonizaram embates, que tiveram como tema o passado do psolista no Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto. Até o ex-prefeito Bruno Covas (PSDB), morto vítima de um câncer em 2021, foi citado. A discussão ocorreu quando o tema era mobilidade. Nunes listou ações no setor e ressaltou a parceria com o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos).

“A Prefeitura está pagando mais para empresa de ônibus e está tendo menos frota na rua. Nós estamos pagando mais e pagando menos. Esse é o jeito Ricardo Nunes de governar”, provocou Boulos, que iniciou sua intervenção chamando o prefeito de “ladrãozinho de creche” após ouvir dele que era “invasor”.

No direito de resposta, o prefeito disse que nunca foi indiciado ou condenado em sua vida. Antes, ele havia subido o tom contra o adversário do PSOL. “Bandidinho é você, seu invasor, sem vergonha, sem caráter. Invadiu a [área onde hoje fica a ocupação] Nova Palestina em 2013. Hoje tem lá 80 barracos de plástico azul e preto e você enganou aquelas pessoas humildes. Enquanto você invade, eu entrego casas”, respondeu o prefeito.

Na tréplica, Boulos afirmou que Covas havia editado decreto para desapropriar a área da ocupação, mas que Nunes “traiu” o aliado ao reverter a ação. “Você traiu o Bruno Covas várias outras vezes, como ao se aliar com o Bolsonaro”, disse. Bolsonaro criticou Covas, já morto, pelo ex-prefeito ter ido à final da Libertadores em 2021 no Rio de Janeiro. “O outro, que morreu, fecha São Paulo e vai assistir a Palmeiras e Santos no Maracanã”, disse o presidente meses após a morte do tucano.

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Quando o tema passou para a economia, Boulos disse que sua proposta é apoiar pequenos, médios e grandes empresários que queiram se estabelecer na periferia para acabar com a dinâmica pendular de trabalhadores que se deslocam todos os dias dos extremos para trabalhar na região Central de São Paulo.

Tabata Amaral, por sua vez, disse que quer valorizar o pequeno empreendedor com medidas de desburocratização, acesso a crédito de R$ 500 a R$ 5 mil e um ano de isenção de impostos para quem abrir empresa na periferia. Ela criticou Nunes por não conseguir sequer fiscalizar queixas por excesso de ruído e disse que São Paulo “está sem prefeito”.

Para se defender, o emedebista disse que está em processo implantação o SmartSampa, que ele chamou de “um dos maiores sistemas de monitoramento do País”, que utiliza câmeras com inteligência artificial, reconhecimento facial e de placas de veículos para combater o crime.

Datena criticou a zeladoria feita pela atual gestão e disse que a cidade está suja. “Esse cidadão [Nunes] deu uma entrevista pra mim que disse que São Paulo tinha resolvido o problema de drenagem e atrás da imagem mostrava gente boiando. Só cumpriu metade das obras que o Bruno prometeu”, afirmou o apresentador, remetendo a uma interação que teve com Nunes em seu programa de televisão,

Segundo bloco tem discussão sobre apoio de Bolsonaro e privatização da Sabesp

Em um prenúncio do que ocorreria mais adiante, o segundo bloco aberto por um enfrentamento entre Marçal e Datena que piorou ainda mais o nível do debate. O influenciador disse ser alvo de um “consórcio comunista desesperado” integrado pelos demais candidatos e insinuou que o apresentador de TV vendeu suas quatro desistências em eleições anteriores.

Datena respondeu fora do microfone, mas não foi possível ouvir o que ele falou. “Ele disse ‘é o seu orifício rugoso lombar’, na linguagem dele”, declarou Marçal, que estava com a palavra e o microfone aberto.

Na sua vez, o candidato do PSDB chamou o adversário de “bandido”, disse que ele fugiu da polícia e anda de “braços dados com o PCC”. “Você é uma ameaça à democracia quando faz dos debates aqui, nós atores passivos, um filminho de horrores que você tem na internet.” Enquanto os adversários respondiam às questões, Marçal aproveitava quando a tela dividida transmitia sua imagem para fazer gestos com as mãos, como a letra “M”.

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Jornalistas e equipes de campanha não puderam ficar no estúdio e tiveram que assistir debate pela televisão; apenas dois assessores foram autorizados a acompanhar cada candidato. Foto Tiago Queiroz/Estadão  Foto: Tiago Queiroz2024

O primeiro assunto de alguma forma discutido em todo o debate foi a privatização Sabesp, medida do governo Tarcísio de Freitas que contou com a concordância da gestão de Ricardo Nunes para vender parte das ações que o governo do Estado detinha da empresa.

Boulos criticou a privatização, disse que a medida vai transformar a empresa na “Enel da água”, em alusão aos apagões recentes, e disse que vai reverter a operação. Como prefeito, ele poderia trabalhar para sustar o contrato da Prefeitura com a empresa. A capital paulista representa cerca de 50% do faturamento da Sabesp.

“Você não vai reverter nada. Não vou deixar invasor de propriedade nem invasor de conta bancária chegar na Prefeitura”, respondeu Nunes. O prefeito destacou o que vê como vantagens da privatização, como a previsão da Sabesp vai investir R$ 28 bilhões na infraestrutura de saneamento da cidade. “Até 2029 todas as cidades do contrato da Sabesp, inclusive os bairros de São Paulo, terão universalização da rede de água e de esgoto”, disse o prefeito.

A discussão sobre a Sabesp, porém, foi um mero desvio no curso do debate. Logo em seguida, Nunes e Boulos voltaram a trocar acusações após o prefeito ser questionado sobre o “triângulo amoroso” entre ele, Jair Bolsonaro (PL) e Pablo Marçal – o ex-presidente oficialmente apoia Nunes, mas voltou a fazer acenos ao ex-coach depois de Marçal crescer nas pesquisas eleitorais.

Nunes se defendeu, disse que tem apoio de Bolsonaro e que seu vice, o coronel da reserva Ricardo de Mello Araújo (PL) foi indicado pelo ex-presidente. Boulos aproveitou a menção para lembrar que Mello Araújo defendeu, quando era comandante da Rota em 2017, que a polícia deveria tratar diferente moradores do Jardins e da periferia. “(Como se dissesse que) na periferia tem que ser tratado com chave de braço e nos Jardins como ‘doutor’”, provocou. o candidato do PSOL.

“Olha a fala do invasor. Ele não gosta de polícia. A vida toda ele correu de polícia. Não tem o menor respeito com as forças de segurança que protegem nossa cidade”, respondeu o prefeito. Boulos pediu direito de resposta, que foi inicialmente negado pois a organização considerou que foi uma crítica de Nunes a seu posicionamento político. Após o prefeito repetir o termo, o direito de resposta foi concedido ao candidato do PSOL.

Em outro momento, Tabata Amaral disse que terá coragem para enfrentar o problema da Cracolândia, mas voltou a afirmar que há duas abordagens. Segundo ela, é preciso acolher os doentes, mas sem passar a “mão na cabeça” de bandidos. Ela insinuou que Marçal não teria “moral” para lidar com o tráfico de drogas no local já que o PRTB, partido dele, tem integrantes ligados ao PCC.

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Na resposta, o influenciador chamou Tabata de “garota” e deixou claro que não está interessado em discutir propostas para São Paulo. “Isso aqui não é jogo pra ver quem tem a melhor proposta, é para ver quem aguenta mais sem encher o saco”, disse. Se dirigindo a Datena, afirmou que o candidato do PSDB estava ansioso para ir logo para casa.

Primeiro bloco tem apelidos, ataques e nenhuma proposta

Na primeira fala do debate, Pablo Marçal voltou a insinuar que Guilherme Boulos é usuário de drogas e comparou o adversário com Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que quando era candidato a prefeito em 1985 disse que havia experimentado maconha. Marçal também lembrou o parecer de Boulos para arquivar a denúncia de “rachadinha” contra o deputado André Janones (Avante) no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.

“Fala um pouco sobre quem está financiando sua campanha, quem fez o maior rombo da história deste País, o maior ladrão da história da humanidade”, disse Marçal. A campanha de Boulos é bancada, majoritariamente, pelo Fundo Eleitoral do PSOL e do PT. O candidato do PRTB também chamou o adversário de “Boules”, lembrando do episódio em que o Hino Nacional foi cantado em linguagem neutra em um comício de Boulos na semana passada.

“A respeito da acusação mentirosa sobre o uso de drogas, a farsa já foi demonstrada”, respondeu Boulos. O candidato do PSOL a todo momento faz referência a vídeos publicados nas redes sociais para aprofundar os pontos que ele menciona no debate. “Marçal você é um bandido condenado. As pessoas estão descobrindo isso e vão descobrir até o dia 6 de outubro”, respondeu Boulos.

Guilherme Boulos e Pablo Marçal no debate é promovido pela TV Gazeta em parceria com o canal MyNews Foto: @CanalMyNews via YouTube

Ricardo Nunes escolheu Marçal, o chamando de “Pablito”, e perguntou como o adversário lidaria com segurança pública se pessoas do partido dele, o PRTB, são apontadas como tendo ligação com o PCC. “Você é tchuchuca do PCC”, afirmou o prefeito. “Bananinha está desesperado que a campanha dele desintegrou. Como é ter o Bolsonaro de amante? Nenhum bolsonarista mais consegue te apoiar”, respondeu Marçal. “Dá um jeito de ganhar, porque se eu ganhar você estará na cadeia ano que vem por causa dos seus desvios”, continuou, citando a investigação que apura suposto envolvimento do prefeito na Máfia das Creches.

O debate só migrou momentaneamente para a situação real da capital paulista quando Tabata Amaral mencionou a piora nos índices educacionais da cidade desde a pandemia de covid-19. “De cada três alunos, dois estão chegando sem saber ler e escrever”, disse ela. “Se, Deus me livre e guarde, tivermos mais três, quatro anos desse homem, as crianças vão desaprender a escrever”, continuou.

Nunes respondeu que os índices de alfabetização e do desenvolvimento da educação básica (Ideb) não podem ser tratados da mesma forma. O prefeito justificou que o Ministério da Educação reconheceu que houve mudança no método de avaliação da alfabetização e que o resultado de 2024 não pode ser comparado com anos anteriores.

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Já em relação ao Ideb, ele defendeu que a média de São Paulo está acima da média das capitais nos anos finais do ensino fundamental. “A média é de 5,6 e estamos com 5,8. Nos anos iniciais, realmente caímos 0,2. Mesmo assim nossos índices são melhores, por exemplo, do que de Recife. Muito melhores que de Belém, que é de 5 e estamos em 5,6″, respondeu Nunes.

A capital do Recife é governada pelo namorado de Tabata, João Campos (PSB), enquanto a capital do Pará é administrada por Edmilson Rodrigues, do PSOL, mesmo partido de Boulos.

Ricardo Nunes e Tabata Amaral no debate neste domingo, 1º  Foto: @CanalMyNews via YouTube

Em seguida, José Luiz Datena se exaltou contra Ricardo Nunes, disse que o PCC está infiltrado no setor de transporte público da atual administração e gritou com o prefeito mesmo após o tempo dele ter acabado. “Falo na sua cara: Picareta!”, disse o apresentador em direção ao prefeito.

“Não posso dizer que ele é da Máfia das Creches, mas ele é investigado pela Polícia Federal. É um roto falando do rasgado. De um condenado e outro que pode ser condenado”, continuou Datena, se referindo também a Marçal, que foi condenado em 2010 por integrar uma quadrilha que aplicava golpe de bancos. A condenação prescreveu.

“Datena já foi condenado várias vezes por imputar a pessoas inocentes crimes que elas não cometeram. Ele acabou com a vida de muita gente”, disse Nunes no direito de resposta que lhe foi concedido para se defender da acusação do jornalista.

Tabata anunciou também que entrou com uma ação na Justiça Eleitoral na qual acusa Marçal de ter novamente abusado de seu poder econômico para angariar seguidores em suas contas reservas nas redes sociais. Os perfis principais dele foram derrubados pela Justiça após ele ter promovido um “campeonato de cortes” para inflar sua presença nas plataformas.

Chegada dos candidatos

José Luiz Datena foi o primeiro candidato a chegar no prédio da TV Gazeta na Avenida Paulista para o debate que será realizado pela emissora em parceria com o canal MyNews. “Espero que seja uma coisa civilizada, que fique dentro dos limites da democracia e não palhaçada como houve no primeiro e no segundo debate. Quem tem que ser respeitado é o eleitor”, disse, ao conversar com os jornalistas, em referência ao comportamento de Pablo Marçal.

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Guilherme Boulos e Ricardo Nunes chegaram em seguida. O deputado federal, que assim como o prefeito não foi ao debate da revista Veja no último dia 19, disse que os organizadores deste domingo adotaram regras mais rígidas.

“Eles entenderam o pleito, que não era só meu, era também de outros dois candidatos, de que o debate precisava ter regra, organização, para poder permitir que não seja só corte e lacração para a rede social”, disse Boulos, também se referindo a Marçal, mas sem citá-lo expressamente. “Mentira não vai vencer a verdade. Se vier gente com mentira, vai ser recebido com a verdade escancarada na cara dele”, acrescentou.

Nunes adotou a mesma linha e disse que sua expectativa para o debate é positiva. “Estamos há 35 dias da eleição e a Gazeta vai trazer, pelo o que foi me falado, um novo perfil com relação às regras para que a gente possa garantir para todos o direito de debater a cidade e falar das propostas sem agressão”, declarou o prefeito.

Tabata Amaral disse que seu objetivo será apresentar a equipe e as propostas que têm para São Paulo, mas que “sempre que necessário” enfrentará a ameaça de “ter o crime tomando conta da Prefeitura de São Paulo”, uma alusão às supostas ligação de integrantes do PRTB, partido de Marçal, com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

“Eu não tive covardia em nenhum momento. Estive em todos os debates com a mesma coragem e com a mesma tranquilidade, mas também com orgulho das propostas e do time que a gente tem”, afirmou. Marçal chegou próximo ao horário de início do debate e não falou com a imprensa.

Inicialmente, jornalistas credenciados acompanhariam o debate dentro do estúdio, mas, a pouco mais de uma hora para o início do confronto, as campanhas de Boulos, Nunes e Datena, os três candidatos que pediram regras mais duras, ameaçaram não participar do debate caso isso ocorresse. Tabata não se opôs à presença dos profissionais. Dessa forma, a organização decidiu que a imprensa não teria acesso ao local.

Diferente dos debates organizados pela Band e pelo Estadão não houve plateia. A organização do debate definiu previamente com os candidatos que somente dois assessores acompanhariam os postulantes no auditório. O candidato do PRTB entrou acompanhado da vice e de um terceiro assessor, que tiveram de ser retirados pela organização. Após serem expulsos, um integrante da campanha de Marçal acusou Nunes de entrar com outros cinco assessores, o que fez com que a organização precisasse levá-lo para dentro do auditório para fazer uma contagem.

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No debate, ficou proibida a apresentação ou exibição de documentos e a retransmissão do debate nas redes sociais dos candidatos ou gravações próprias. Marçal e sua equipe fizeram as duas coisas nos encontros anteriores. Neste, ele fez cortes da própria transmissão, o que, segundo a organização, não estava vedado.

Candidatos a prefeito de São Paulo no debate da TV Gazeta em parceria com o canal MyNews Foto: @CanalMyNews via YouTube

As presenças representaram uma guinada na estratégia de Boulos, Nunes e Datena. Os três se queixavam da postura de Pablo Marçal, que na avaliação deles estimula embates para gerar trechos com objetivo viralizar nas redes sociais – no mais famoso deles, o influenciador mostra uma carteira de trabalho para Boulos – no lugar de focar na discussão de propostas.

A aposta era que as ausências tornariam mais difícil para Marçal criar episódios durante o debate e diminuiriam a repercussão do candidato do PRTB nas redes. Na prática, coube a Tabata Amaral, primeira presença confirmada na Gazeta, rivalizar com o ex-coach.

Ao menos do ponto de vista das pesquisas eleitorais, a tática não surtiu efeito: Marçal cresceu fora da margem de erro tanto no Datafolha quanto na Quaest e está empatado tecnicamente com Boulos e Nunes na liderança dos dois levantamentos.

Segundo a TV Gazeta e o MyNews, as regras seguiram as mesmas acordadas previamente com as campanhas. Porém, em uma agenda durante a semana, Nunes afirmou que houve uma “readequação”. “A gente recebeu por parte da Gazeta uma informação importante de que readequaram as regras, que terá ali o cumprimento das regras. Portanto, havendo cumprimento das regras, realmente fazer o debate. O que a gente não gostaria é de ter um palco para ataques”, disse o prefeito.