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Luciano Hang, condenado e citado em delação de Cid, não vai a ato de Bolsonaro no dia 25 na Paulista

Conhecido pelo uso de traje verde e amarelo e por marcar presença ao lado do ex-presidente em eventos do governo passado, empresário diz estar ‘100% focado’ em suas atividades empresariais

Foto do author Karina Ferreira
Por Karina Ferreira

O empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, afirmou que não vai participar do ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para o dia 25 de fevereiro na Avenida Paulista. Diferentemente de outros aliados do ex-chefe do Executivo, que justificaram a ausência informando compromissos oficiais e viagens internacionais, Hang disse que não participará de nenhuma agenda política e está “100% focado” nas atividades empresariais.

Luciano Hang viu sua popularidade aumentar desde 2018, quando começou a apoiar Bolsonaro, então candidato à Presidência. De lá para cá, a ligação com o político rendeu consequências negativas ao catarinense, com desdobramentos judiciais. A mais recente foi a condenação ao pagamento de R$ 85 milhões em indenização por coagir funcionários a votarem em Bolsonaro naquele ano.

Luciano Hang ao lado de Jair Bolsonaro no 7 de setembro de 2022 Foto: Wilton Júnior/Estadão

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A decisão da 7ª Vara do Trabalho de Florianópolis, da qual Hang afirmou que vai recorrer, foi fruto de uma denúncia do Ministério Público do Trabalho (MPT) contra o empresário, por ele ter ameaçado fechar as suas lojas caso o então presidente perdesse a eleição para o candidato do PT à época, Fernando Haddad. Segundo o órgão, o empresário fez com que os funcionários respondessem a questionamentos internos sobre em qual dos presidenciáveis votariam no pleito.

A proximidade com Bolsonaro fez com que o empresário cogitasse se candidatar ao Senado em 2022. Acusado pela CPI da Covid por disseminar fake news sobre o tratamento da doença, desistiu de disputar o cargo em março daquele ano. Hang, agora, está inelegível por oito anos.

Em 2023, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entendeu que o empresário usou, em 2020, a estrutura e a marca Havan para influenciar o resultado da eleição municipal em Brusque (SC) em favor da chapa de Ari Vequi e Gilmar Doerner. Eles tiveram os mandatos de prefeito e vice cassados.

Um dos empresários mais ricos do Brasil, Hang estava acostumado a aparecer em público com Bolsonaro. Em 7 de setembro de 2022, ele dividiu a tribuna de honra com o então presidente no evento oficial que comemorou os 200 anos da Independência, em Brasília. Com traje verde e amarelo, o empresário chamou a atenção por ter ficado entre Bolsonaro e o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, no palanque.

No julgamento no TSE, em 2023, que condenou à inelegibilidade o ex-presidente e o general Walter Braga Netto (PL), o ministro Alexandre de Moraes ironizou Hang, afirmando que ele usava sua “tradicional vestimenta verde periquito” na ocasião.

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O apoio do empresário ia além de aparições públicas ao lado de Bolsonaro. Na reta final da campanha de 2022, Hang fez uma doação de R$ 1,02 milhão para a reeleição do ex-presidente.

Pouco antes da data, em agosto, o empresário foi alvo da operação deflagrada por determinação de Moraes, para investigar ele e outros sete empresários que trocaram mensagens de cunho golpista no WhatsApp. Na ocasião, o dono da Havan teve o sigilo bancário quebrado, um celular apreendido e as contas no Instagram e no TikTok suspensas.

No bojo das mesmas investigações sobre atos golpistas, o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Polícia Federal (PF) traçaram um elo entre grupo de empresários, do qual Hang faz parte, com grupos de WhatsApp na mira dos inquéritos das fake news e da tentativa de golpe de Estado. Os empresários negam ter defendido uma ruptura democrática caso Bolsonaro não fosse reeleito em outubro 2022.

Um áudio apreendido pela PF no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, mostra que, em 7 de novembro de 2022, quando Bolsonaro já havia perdido as eleições, Hang e outros empresários se reuniram com o aliado para cobrar uma “posição mais radical” sobre o resultado do pleito. A informação foi divulgada pelo jornal O Globo nesta quinta-feira, 15.

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O áudio de Cid, enviado ao então comandante do Exército, general Freire Gomes, cita que os empresários tentaram pressionar Bolsonaro para que o Ministério da Defesa “virasse a mesa”, possivelmente se referindo ao resultado das eleições. Hang negou ter pressionado o ex-presidente a tomar qualquer medida antidemocrática.

Durante os bloqueios de rodovias no País em protesto contra vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), caminhões da Havan foram fotografados participando dos atos, e as lojas da Havan, em Santa Catarina, foram pontos de concentração de manifestantes golpistas. Na época, a empresa emitiu uma nota negando qualquer participação e dizendo que os protestos foram espontâneos.

Ato para Bolsonaro ‘se defender’ das investigações da PF

A manifestação encabeçada por Bolsonaro e seus aliados está marcada para domingo, 25 de fevereiro, na Avenida Paulista. A convocação do ex-presidente para o ato ocorreu após operação da Polícia Federal na semana passada, que investiga a articulação para um golpe de Estado após Lula vencer as eleições de 2022.

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Segundo os organizadores, a manifestação “vai além” do ex-presidente. O pastor Silas Malafaia disse que o ato é “em favor a liberdade de todo povo brasileiro”. Ele vai fornecer um trio elétrico para os discursos.

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