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Lira quer recriar orçamento secreto com emendas da Mesa Diretora da Câmara em 2024

Presidente da Câmara ensaia articulação para ampliar valores indicados pela cúpula da Casa no Orçamento de 2024, recompondo o esquema de repasse de verbas declarado inconstitucional pelo STF

Foto do author Daniel  Weterman
Por Daniel Weterman

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quer recompor o orçamento secreto, esquema de compra de votos criado no governo de Jair Bolsonaro e revelado pelo Estadão, distribuindo recursos por meio de outra rubrica em 2024: as emendas da Mesa Diretora da Casa, presidida por ele.

Mesa Diretora da Câmara é composta por 11 deputados e presidida por Arthur Lira (PP-AL).  Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

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A estratégia dribla decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que declarou o orçamento secreto inconstitucional, e dá uma nova cara ao mecanismo para capturar nacos do Orçamento e distribuir o dinheiro entre aliados sem critérios técnicos e transparência.

A proposta, porém, não é apoiada por alguns integrantes da Mesa e líderes partidários, que não querem ficar nas mãos de Lira na hora de enviar recursos para suas bases eleitorais.

Todos os anos, o Congresso aprova emendas por meio das comissões da Câmara e do Senado. Os parlamentares querem aumentar o volume desses recursos e impor o pagamento dessas emendas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ano que vem, após o fim do orçamento secreto.

A Mesa Diretora da Câmara, presidida por Lira e composta por 11 deputados, é uma das comissões da Casa e, portanto, pode apresentar emendas ao Orçamento. As indicações da Mesa devem, porém, se restringir a questões administrativas e legislativas do Congresso. No ano passado, o colegiado apresentou emendas para garantir recursos no Orçamento para o aumento de salário dos deputados.

O que Arthur Lira quer em 2024 é aumentar o escopo e os valores das emendas da comissão da Mesa, ampliando as indicações para obras e envio de recursos a municípios em ano de eleições municipais. O parlamentar estará no último ano como presidente da Câmara e tenta emplacar um aliado na sucessão.

Ele ainda não definiu um valor total das emendas que pretende distribuir nem as fontes dos repasses. Quem definirá os limites para atender o presidente da Câmara é o relator-geral do Orçamento, deputado Luiz Carlos Motta (PL-SP), indicado pelo próprio Lira.

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Estratégia de Lira é confirmada por integrantes da Mesa Diretora da Câmara

Desde dezembro de 2022, quando o STF declarou o orçamento secreto inconstitucional, o Congresso e o governo Bolsonaro e depois Lula deram um jeito para recuperar o mecanismo por meio de outros tipos de emendas, mas que, na essência, mantêm o mesmo modelo de negociação. Apesar de ter criticado o esquema na campanha eleitoral, Lula manteve o orçamento secreto.

A estratégia de Lira foi confirmada por integrantes da Mesa Diretora da Câmara ao Estadão. Procurado pela reportagem, o presidente da Casa não quis comentar. “Isso está sendo discutido muito entre o presidente da Casa e o governo. É uma conversa”, afirmou o deputado Luciano Bivar (União-PE), primeiro secretário da Mesa. “É uma inovação. É muito bom porque é da Mesa”, disse o deputado Júlio Cesar (PSD-PI), terceiro secretário da comissão, apoiando a iniciativa.

A proposta de Lira de usar a emenda da Mesa para distribuir entre os aliados não é apoiada por todos os integrantes da cúpula da Câmara, que não querem dar poder excessivo ao presidente da Casa e depender dele para emplacar emendas ao Orçamento no ano que vem, conforme o Estadão apurou.

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O primeiro vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (Republicanos-SP), se movimenta para suceder Arthur Lira, que tem outro candidato de preferência, o deputado Elmar Nascimento (União-BA). Marcos Pereira disse à reportagem que nunca ouviu falar em aumentar as emendas da Mesa.

A estratégia também opôs Lira e o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Danilo Forte (União-CE). O parlamentar propôs a criação de outro tipo de emenda para resgatar o orçamento secreto: a emenda de liderança, que seria carimbada com o código RP-5. A ideia foi rejeitada pelo presidente da Câmara, pois daria poder para os líderes partidários sem o presidente da Casa como centralizador.