PUBLICIDADE

Índice de conflitos no campo bate recorde no governo Lula, mostra relatório

Conflitos por terra, questões trabalhistas e acesso a recursos hídricos estão entre as ocorrências registradas pela Comissão Pastoral da Terra, que faz a análise desde 1985; Ministério do Desenvolvimento Agrário diz que ‘Brasil está caminhando para um campo mais pacífico e inclusivo’

PUBLICIDADE

Foto do author Juliano  Galisi
Por Juliano Galisi
Atualização:

Durante o primeiro ano do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o País registrou 2.203 ocorrências relacionadas a conflitos no campo. Trata-se do maior índice anual registrado pelo relatório Conflitos no Campo, organizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) desde 1985. A edição de 2023 foi divulgada pela entidade nesta segunda-feira, 22.

As ocorrências englobam conflitos relacionados a posse de terras, questões trabalhistas e acesso a recursos hídricos. Segundo a CPT, em 2023, 950.847 pessoas foram diretamente afetadas pelos embates no campo. A área envolvida nos conflitos passa dos 59 milhões de hectares, de acordo com o relatório.

PUBLICIDADE

Em nota, o Ministério do Desenvolvimento Agrário afirmou que “apesar de os números ainda serem altos, o relatório da CPT mostrou que o Brasil está caminhando para um campo mais pacífico e inclusivo”. “Quando discriminados os números, o levantamento aponta que o número de mortes por conflitos rurais atingiu o menor patamar desde 2020″, afirmou a pasta.

O ministério disse ainda que atua no tema por meio do Departamento de Mediação de Conflitos Agrários, que já mediou 350 situações no campo em 13 meses de atuação. Além do departamento, em novembro de 2023, foi criada a Comissão Nacional de Enfrentamento à Violência no Campo.

Os Estados da região Norte concentram a maior parte dos conflitos, somando 810 ocorrências. As unidades da federação com os maiores registros são Bahia, com 249 casos, Pará, com 227, e Maranhão, com 206.

O relatório também apresenta um mapeamento dos agentes e das vítimas da violência no campo. Segundo a comissão, os alvos mais frequentes em 2023 foram povos e comunidades tradicionais, com 1.394 vítimas, sem-terra, com 388 casos, e trabalhadores rurais, alvos de violência em 254 episódios.

Já os agentes causadores de ações violentas mais frequentes foram fazendeiros, com 557 ocorrências, forças militares ou do poder público, com 440, e empresários, em 361 casos.

Publicidade

Liderança Nega Pataxó foi assassinada na Bahia em janeiro deste ano; Estado registra a maior ocorrência de conflitos rurais do País, segundo relatório Foto: Leo Otero/Ministério dos Povos Indígenas

Trabalho análogo à escravidão bate recorde

O número de pessoas resgatadas em condição de trabalho análoga à escravidão foi o maior dos últimos dez anos, segundo a CPT. O relatório compilou que, em 2023, 2.663 pessoas foram resgatadas nessa circunstância. O Estado com o maior número de ocorrências do gênero foi Goiás, com 699 pessoas resgatadas, seguido por Minas Gerais, com 472, e Rio Grande do Sul, com 323.

No total, houve resgate de trabalhadores em condição análoga à escravidão em 207 municípios de 23 Estados do País. A produção de cana-de-açúcar foi a atividade com a maior incidência de resgates, com 618 ocorrências, seguida por lavouras permanentes, com 598, e lavouras temporárias, com 477.

Conflito se acirra sob governo progressista, dizem autores

Os autores do relatório ressaltam que o conflito no campo se acirra mesmo sob um governo que mantém canais de diálogo com movimentos sociais ligados à questão agrária, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

“Não há um enfrentamento da questão agrária brasileira por parte dos governos progressistas”, dizem os organizadores. “Os números das violências contra pessoas nos governos progressistas estiveram bem próximos a variação média do período dos últimos 10 anos”, diz o relatório.

PUBLICIDADE

A questão agrária esteve na pauta do Congresso em 2023. Além da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST, que pretendia investigar as invasões do movimento, mas terminou sem relatório final, houve a aprovação da Lei do Marco Temporal.

O marco temporal é uma interpretação de um artigo da Constituição Federal. Esse entendimento prevê que uma terra indígena só pode ser demarcada com a comprovação de que os povos originários estavam no local requerido na data de promulgação da Constituição, ou seja, no dia 5 de outubro de 1988.

A Câmara aprovou o marco temporal em maio de 2023. Em setembro, o STF derrubou a tese e invalidou o argumento da linha de corte temporal. Mesmo assim, seis dias depois da decisão da Suprema Corte, o texto foi aprovado no Senado. Ao sancionar a lei, em outubro, Lula vetou o trecho que causaria o impasse jurídico, mas o Congresso derrubou o veto em dezembro.

Publicidade

Nesta segunda, 22, o ministro Gilmar Mendes, do STF, suspendeu todos os processos judiciais – em curso em qualquer instância do Judiciário – que tratem da Lei do Marco Temporal.

Leia a íntegra da nota do Ministério do Desenvolvimento Agrário

Apesar de os números ainda serem altos, o relatório da CPT mostrou que o Brasil está caminhando para um campo mais pacífico e inclusivo. Quando discriminados os números, o levantamento aponta que o número de mortes por conflitos rurais atingiu o menor patamar desde 2020, graças à atuação da Diretoria de Mediação e Conciliação de Conflitos Agrários do MDA e da Câmara de Conciliação Agrária do Incra.

E agora, com o lançamento do Terra da Gente, estamos impulsionando ainda mais essa transformação. Até 2026, esperamos impactar 295 mil famílias, proporcionando terras para 74 mil e regularizando e reconhecendo outras 221 mil. Por paz no campo e vida digna para todos os brasileiros.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.