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PL se divide em preferências para vice de Nunes em SP; veja quem são e quais os apoios que reúnem

Nos bastidores, disputa ainda é considerada aberta apesar do favoritismo do coronel da PM Ricardo Mello Araújo, o escolhido de Bolsonaro; outros partidos querem entrar no jogo

Foto do author Samuel Lima
Por Samuel Lima

A preferência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela indicação do coronel da PM Ricardo Mello Araújo, ex-comandante da Rota, para ser vice na chapa do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), já afastou concorrentes na disputa, mas ainda não é dada como certa entre lideranças do partido.

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O posto divide mais uma vez o chamado “bolsonarismo raiz”, grupo de políticos ligados diretamente à figura de Bolsonaro e que se diz vencido com a ausência de uma candidatura própria na cidade, dos representantes mais antigos da sigla, responsáveis pela articulação direta com Nunes (veja mais detalhes sobre os cotados e seus apoiadores abaixo).

“A disputa existe como tantas outras dentro do PL”, afirma o deputado estadual Lucas Bove, um dos representantes do bloco fiel ao ex-presidente que por vezes se articula de modo independente na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp). Para ele, o coronel Mello é “sem sombra de dúvidas” o mais adequado e possui “todas as credenciais” para representar o bolsonarismo na chapa com o MDB, mas a menção a outros indicados sinaliza resistência dessa outra ala do PL. Bove foi um políticos que protestaram contra a aliança com Nunes em dezembro.

O vereador Isac Félix, líder do PL na Câmara Municipal de São Paulo, entende que o favoritismo é outro. “A probabilidade da Raquel está muito forte”, declarou ao Estadão. Ele se refere à delegada Raquel Gallinati, suplente a deputada estadual pelo PL e diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol). O deputado federal Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP) também considera o assunto “abertíssimo”, mesmo com a manifestação de Bolsonaro.

Valdemar Costa Neto, Jair Bolsonaro e Ricardo Nunes se encontram em Brasília, no dia 14/6/2023. Foto: Beto Barata/PL

Além do coronel Mello e da delegada Raquel, a lista apresentada por Valdemar Costa Neto ao prefeito na segunda-feira, 29, envolve ainda dois políticos filiados ao Republicanos, partido do governador Tarcísio de Freitas. Nos bastidores, o nome considerado menos provável é o deputado estadual Tomé Abduch, que não pode trocar o partido pelo PL sem correr o risco de perder o mandato. Na prática, o PL precisaria abrir mão de indicar um candidato próprio.

A vereadora licenciada Sonaira Fernandes, atual secretária estadual de Políticas para a Mulher, por outro lado, poderia aproveitar a janela partidária para se filiar à legenda de Bolsonaro antes das eleições. Ela é próxima do deputado federal Eduardo Bolsonaro, de quem foi assessora no gabinete em Brasília, e entrou no governo Tarcísio como uma espécie de cota do PL bolsonarista na Alesp.

Presidente do diretório municipal do Republicanos em São Paulo, o vereador André Santos admite que a inclusão de dois nomes do partido na lista de Valdemar “causou estranheza”, mas a avaliação interna é de que não há risco de migração para ambos. Ele acrescenta que, para que sejam considerados opções viáveis, os nomes precisam ser apresentados pelo Republicanos, e não pelo PL.

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Outro dirigente disse ao Estadão que o Republicanos espera que o prefeito analise seriamente a possibilidade de o vice ser do partido. Conta a favor da proposta o apoio de Tarcísio, mesmo que o PL ceda o maior tempo de propaganda gratuita em rádio e televisão por ter a maior bancada na Câmara.

A definição não deve ocorrer tão cedo. Uma fonte ligada à campanha garante que o assunto não está na mesa neste momento e que uma pesquisa qualitativa a respeito dos nomes ainda não tem previsão de data. A expectativa é que o anúncio seja próximo ao prazo para as convenções partidárias, em julho. O próprio Nunes reclamou da antecipação do processo, em razão do acerto do seu principal adversário, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), com a ex-prefeita Marta Suplicy, que retorna ao PT.

O fato de ser homem ou mulher não é considerando um aspecto decisivo para a escolha, mas a proximidade com a pauta da segurança pública é vista como um diferencial importante, segundo esse mesmo interlocutor. O perfil ajudaria a consolidar a vantagem contra Boulos por conta da parceria com o governo do Estado, responsável pelo policiamento ostensivo, e seria uma oportunidade de explorar uma percepção popular negativa sobre o adversário na pauta.

Coronel Mello encampa discurso bolsonarista e nunca disputou eleição

Ricardo Nascimento de Mello Araújo é coronel da reserva da Polícia Militar e ex-chefe das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). Fiel seguidor do ex-presidente Jair Bolsonaro, aparece em diversas fotos da campanha eleitoral de 2022 e encampa o discurso bolsonarista nas redes sociais, com críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao ministro Alexandre de Moraes.

O coronel da reserva da PM Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Alan Santos/PR (15/12/2020)

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O nome agrada a ala bolsonarista do PL, principalmente, em razão da proximidade com o ex-presidente e do seu trabalho como diretor da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), uma empresa pública federal, de outubro de 2020 até janeiro de 2023. Antes, Mello Araújo comandou a Rota, batalhão especial da PM, entre 2017 e 2019.

Segundo o presidente do PL, o nome do coronel Mello Araújo foi sugerido por Bolsonaro. Em live com os três filhos políticos no domingo, 28, o ex-presidente admitiu que “não dá” para lançar candidato próprio para a Prefeitura de São Paulo e que o partido optaria por indicar “um vice que tem boa rota”. Caso seja confirmado na chapa de Nunes, será a primeira vez que o PM disputa uma eleição.

Delegada Raquel recebeu R$ 300 mil do PL e acabou como suplente

Nome preferido de políticos mais antigos do PL ligados ao comando do partido, a delegada Raquel Gallinati é uma das diretoras da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol). Ela concorreu a um cargo de deputada estadual há dois anos e teve agendas de campanha ao lado de Carla Zambelli (PL-SP). Com 53 mil votos no Estado, impulsionados por um repasse de R$ 300 mil de fundo eleitoral do PL, não foi eleita.

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Segundo informações do PL Mulher, Raquel nasceu em Niterói (RJ), é formada em Direito e atuou como advogada por 10 anos, até ser aprovada em concurso para delegada de polícia, em 2012. Anos depois, iniciou as atividades sindicais. A delegada fez parte da equipe de transição do governador Tarcísio de Freitas. Em novembro do ano passado, chegou a aceitar um convite para assumir o comando do PL Mulher em São Paulo, mas recuou justificando não ter como conciliar com o seu trabalho.

Entusiastas da sua entrada na campanha de Nunes destacam o fato de ser uma liderança feminina ligada à pauta de segurança pública. Em entrevistas e posts nas redes sociais, ela já criticou o uso de câmeras corporais por policiais e a política de redução da circulação de armas registradas, entre outros tópicos de viés conservador.

Secretária da Mulher de Tarcísio se diz contra o feminismo

Atual secretária de Políticas para a Mulher do governo de Tarcísio de Freitas, a vereadora licenciada Sonaira Fernandes agrada ao grupo mais fiel a Bolsonaro, mas teve as chances reduzidas de figurar como vice na chapa do prefeito Ricardo Nunes depois que o ex-presidente indicou preferência ao coronel Mello.

A atual secretária estadual da Mulher, Sonaira Fernandes.  Foto: Richard Lourenço/Rede Câmara

Sonaira nasceu em Riachão do Jacuípe (BA) e se mudou para São Paulo em 2012, segundo a biografia no site da Câmara. Ela entrou no meio político depois de estagiar para Eduardo Bolsonaro (PL-SP) quando ele era escrivão da Polícia Federal. Depois, trabalhou em campanhas eleitorais e no gabinete do político. Foi eleita vereadora da capital paulista em 2020, com 17,8 mil votos. Como negra, nordestina e evangélica, aproxima esses grupos do bolsonarismo.

A secretária de Tarcísio se diz contra o feminismo, a “ideologia de gênero”, o aborto legal e o ativismo LGBT. Como vereadora de São Paulo, apresentou 38 projetos de lei antes de ser nomeada para o cargo no governo do Estado, a grande maioria da chamada pauta de costumes. Ela também replicou comportamentos do ex-presidente na pandemia, atuando para derrubar decretos que exigiam a vacinação de servidores públicos e o passaporte da vacina em locais públicos.

Ela teve uma atuação discreta em seu primeiro ano no governo Tarcísio. A pasta foi criada por decreto, em janeiro do ano passado, sem previsão de orçamento próprio, o que motivou a Comissão dos Direitos das Mulheres da Assembleia Legislativa do Estado a pedir explicações sobre o andamento das ações da pasta.

Deputado bolsonarista do Republicanos era comentarista da Jovem Pan

Considerado o nome menos provável da lista de Valdemar, o empresário bolsonarista Tomé Abduch ocupa uma cadeira de deputado estadual em São Paulo pelo Republicanos. Formado em engenharia civil, é um dos precursores do movimento Nas Ruas, que ganhou notoriedade ao organizar protestos em favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2015.

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O deputado estadual Tomé Abduch, do Republicanos. Foto: Rodrigo Romeo/Alesp

O deputado ganhou o apreço da militância bolsonarista ao enaltecer o governo Bolsonaro como comentarista político da Jovem Pan e da CNN Brasil. Em maio de 2021, trocou socos ao vivo com André Marinho após uma discussão no programa “Pânico”. Abduch foi eleito deputado, em 2022, com 221,6 mil votos. Ele gastou R$ 65 mil do próprio bolso na sua primeira eleição, de um total de R$ 382 mil em doações, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).