Natuza Nery: ‘A política é um ambiente muito masculino e, portanto, machista’

Jornalista e comentarista da GloboNews à frente do podcast ‘O Assunto’ e da Central das Eleições fala sobre os desafios da profissão e seu ‘sotaque salada’

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Foto do author Paula Bonelli
Atualização:

As portas nem sempre se abriram facilmente como hoje se abrem para Natuza Nery, 47, na cobertura jornalística. Na convivência com políticos e autoridades há 25 anos, no começo de sua carreira em Brasília, ela lembra, o desafio foi construir uma rede de relacionamentos e ter acesso aos mandatários para obter informações relevantes. Depois, surgiu outro problema: o machismo. “A política é um ambiente muito masculino e, portanto, machista. Então, me lembro de estar grávida do meu filho e havia político que se achava no direito de tocar a minha barriga. E eu dava um passo para trás. Eu era muito jovem e não sabia como agir. Hoje, eu diria: ‘Pode tirar essa mão daí.’”

Naquela época não havia a cultura de expor abertamente assédios que ocorriam durante reportagens. “As mulheres da minha geração operavam muito na linha: ‘Candidato, por favor, eu gostaria que você respondesse a minha pergunta’, tentando redirecionar a conversa para a notícia. Agora, os políticos têm muito mais dificuldade em fazer isso”.

Natuza Nery sucedeu Renato Lo Prete no comando do podcast 'O Assunto' Foto: Marcos Serra Lima/Globo

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Natuza começou sua carreira no jornalismo impresso e online e migrou para televisão, onde é comentarista e faz as vezes de apresentadora. A mudança de meio exigiu dela novas habilidades e um processo de adaptação. E o mais desafiador não foi discutir os variados temas que mexem com os ânimos das pessoas e os rumos da República, no podcast, mas, sim, se livrar de seu forte sotaque.

A voz conta muito em podcast e ela admite que foi difícil no início: “Eu falava muito rápido e puxava o ‘masss’. Vivo em Brasília, cresci em Recife, embora tenha nascido em São Paulo. Sou filha de nordestino, meu sotaque era uma salada”.

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Nos primeiros programas, a jornalista preferia não ouvir o resultado da sua voz no ar e ficava se julgando, mas passou a escutar-se para melhorar alguns pontos e acabou não fazendo sessões de fonoaudiologia, como muitos apresentadores e repórteres na TV Globo realizam.

Atualmente, ela está em fase de celebração do podcast O Assunto, que chegou ao marco de cinco anos de existência. No comando há quase dois anos, ela recorda os episódios marcantes, que decolaram em audiência. Entre eles, o programa sobre 8 de janeiro e outro sobre o movimento misógino, chamado redpill.

Os ouvintes acessam o podcast, segundo ela, para obter elementos para discutir questões importantes. “Tem alguns episódios em que apostamos muito no personagem, principalmente os que falam de política e economia, mas acho que o tema tem mais peso. O programa é muito colado no factual.”

Interesse pela política e polarização

Indagada, a jornalista comenta que a polarização política aguça o interesse dos ouvintes: “Os episódios que trataram dos personagens da polarização acabam rendendo audiência, temas que são caros a um grupo da sociedade e rechaçados por outro”.

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O podcast tem edições diárias de segunda a sexta-feira no G1, no YouTube e nas plataformas de áudio, e vai além de política e economia, abordando comportamentos, saúde, cultura, e temas internacionais do momento. Com 51,4% da sua audiência composta por pessoas na faixa etária entre 18 e 34 anos, o programa se mostra antenado com os jovens. “Um ponto muito importante para o vestibular e para o ENEM é o repertório; quanto mais o aluno tem, melhores são suas chances de ter sucesso nos exames.”

Mãe de um adolescente que está prestes a ingressar no ensino médio, Natuza disse recentemente ao filho: “Agora você vai ter que ouvir O Assunto todos os dias”. O jovem assentiu, comentando que na escola já havia ouvido essa mesma frase de um amigo.

Para a jornalista Natuza Nery, projetos como o podcast 'O Assunto' ajudam na criação de repertório Foto: Daniela Toviansky/Globo

Atualmente, ela se vê mais como comentarista do que como apresentadora, mas faz exceções – caso do programa Central das Eleições Municipais, na GloboNews, que estreou nesta semana, com sabatinas com os cinco candidatos mais bem posicionados nas pesquisas para a Prefeitura de São Paulo, às 22h30.

A pressão em relação ao tratamento e à equidade entre os candidatos faz parte do ofício, e ela diz: “Estou muito acostumada a olhar os roteiros e ver se há perguntas difíceis para todos, questões programáticas para todos. Esse equilíbrio flui naturalmente em meu trabalho”.

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