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BC vai começar a cortar menos a Selic já em maio? Veja o que dizem os economistas

Nos EUA, presidente do BC indicou que Comitê de Política Monetária pode pisar no freio se as incertezas econômicas globais continuarem altas

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Por Redação
Atualização:

As declarações dadas nesta quarta-feira, 17, pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, levaram o mercado a prever, ou ao menos considerar, uma diminuição no ritmo de cortes de juros já no mês que vem, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) volta a se reunir, entre os dias 7 e 8.

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Em Washington, durante evento da XP Investimentos, Campos Neto disse que o comitê pode pisar no freio se as incertezas seguirem muito altas. Junto com o compromisso de que o BC fará tudo o que for necessário para a inflação voltar à meta central, fixada em 3%, a fala foi entendida no mercado como um aviso sobre a reunião do Copom de maio.

Até então, o BC vinha enfatizando em documentos e declarações de diretores que, a despeito das incertezas tanto internas quanto externas, o cenário-base não tinha mudado, de modo que havia um consenso no mercado de que a redução no ritmo de cortes da Selic era uma possibilidade apenas para junho. Para maio, havia uma unanimidade de que haveria um corte de 0,5 ponto porcentual, como indicado nos documentos da última reunião.

Essa percepção, porém, foi mudando ao longo da semana, na esteira da escalada das tensões no Oriente Médio, dado o ataque de drones iranianos a Israel no sábado, seguida por mudanças, no Brasil, nas metas do arcabouço fiscal. Em paralelo, são cada vez maiores as apostas de que o Federal Reserve vai esperar mais tempo para começar a diminuir os juros nos Estados Unidos. O reflexo apareceu no câmbio, que chegou a bater em R$ 5,28 durante o pregão de terça-feira, a maior cotação em mais de um ano.

Campos Neto demonstrou preocupação com o cenário econômico global e seus efeitos no Brasil Foto: Brendan McDermid/Reuters

Com a mensagem de Campos Neto, a leitura é a de que o BC abandonou a sinalização, o chamado forward guidance, de manutenção em maio do ritmo de cortes das últimas reuniões do Copom. Abriu-se, assim, completamente a porta para o colegiado diminuir o passo pela metade, de 0,5 para 0,25 ponto porcentual daqui a três semanas.

Economistas começaram a incorporar essa tendência no cenário, e agora entendem que o BC tem um espaço menor para cortar juros. Entre as revisões anunciadas nesta quarta-feira, a equipe da ASA Investments passou a ver uma flexibilização mais lenta a partir de maio, e uma Selic a 9,75%, e não mais 8,5%, ao fim do ciclo de cortes.

Quem não refez as contas reconhece que aumentou a probabilidade de o BC ser mais conservador. Na curva de juros futuros, onde os investidores colocam o dinheiro, uma redução de 0,25 ponto passou a ser precificada integralmente.

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“Tudo pode mudar até o próximo Copom, mas, por enquanto, é razoável discutir essa possibilidade de reduzir o ritmo já em maio”, disse o economista-chefe do PicPay, Marco Caruso, que também vê o corte de 0,25 ponto porcentual como o mais provável.

Ao indicar que os juros podem cair menos do que era esperado, as falas de Campos Neto, a oito meses do fim de seu mandato, também podem ter desdobramentos políticos, alimentando protestos dentro e ao redor do governo.

Ex-diretor do BC, Luís Eduardo Assis acredita que as palavras de Campos Neto serão usadas para aumentar a tensão entre governo e BC, sendo que os atritos podem piorar ainda mais quando o ciclo de cortes de juros perder ritmo, algo que, na avaliação do economista, deve acontecer apenas em junho. “Difícil achar hoje alguém que espere a Selic fechando o ano em 9%.”

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, prevê um racha entre diretores do BC na próxima reunião do Copom, cujas decisões têm sido tomadas por unanimidade. “A partir do momento em que tivemos mudanças no fiscal, há a possibilidade de o BC também ajustar a sua condução da política monetária. É possível que o Copom de maio já apresente divergências”, projeta o economista. / Eduardo Laguna, Denise Abarca, Marianna Gualter, Gabriela Jucá, Francisco Carlos de Assis e Daniel Tozzi Mendes

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