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Shein diz que 55% da receita no Brasil já é de vendedor nacional

Meta da empresa é ter 85% das operações centradas no Brasil até o fim de 2026

Por Daniela Amorim (Broadcast)

RIO - A varejista chinesa Shein tem conseguido acelerar a nacionalização das operações no Brasil ampliando sua base de marketplace, ou seja, convencendo produtores, atacadistas e varejistas brasileiros a venderem seus produtos online através da plataforma da gigante asiática. As cifras movimentadas, porém, permanecem em sigilo.

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A empresa tampouco comenta as polêmicas em torno da tributação de remessas internacionais pelo governo. Entidades empresariais brasileiras protocolaram em 17 de janeiro uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a isenção do Imposto de Importação para bens de até US$ 50 adquiridos em plataformas internacionais de comércio eletrônico - entre elas a Shein -, destinados a pessoas físicas no Brasil.

Em meio às queixas de varejistas e industriais brasileiros sobre a dificuldade de concorrência com os importados mais baratos, os executivos da gigante chinesa sentaram-se à mesa com o governo para prometer uma nacionalização das operações. “Os planos de expansão do marketplace da Shein no Brasil fazem parte da meta de ter 85% das vendas locais até o final de 2026″, anuncia a empresa.

O volume vendido via marketplace apenas no Estado de São Paulo já permitiu à Shein nacionalizar 55% de todo o faturamento obtido no Brasil. A meta agora é ampliar esse tipo de operação para Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

“Muita gente me perguntava: como que você conseguiu, no Brasil, colocar produtos que as pessoas, quando comparassem com os produtos de importação, ainda fossem tomar decisão de comprar um produto do marketplace? Porque a gente conseguiu colocar produto competitivo, a preço competitivo”, relatou Raul Jacob, diretor de marketplace da Shein, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Shein, de origem chinesa, é uma das principais lojas e marketplaces digitais Foto: TABA BENEDICTO / ESTADÃO

O executivo conta ter buscado pessoalmente fornecedores brasileiros que entregassem a qualidade exigida a preços que pudessem concorrer com os importados. O trabalho de campo levou Jacob ao Brás, bairro da região central de São Paulo. Em suas andanças, ele convenceu fabricantes e atacadistas que aderir às vendas online através da plataforma da Shein impulsionaria o desempenho dos negócios familiares, mesmo aqueles sedimentados por gerações apenas nas vendas presenciais.

“A gente chegou a um ponto de ensinar qual o computador e qual a impressora ele tinha que comprar. Então a gente realmente pegou na mão para ensiná-los e muitos deram certo”, acrescentou Jacob.

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O modelo de marketplace, em que a Shein vende e entrega produtos de comerciantes brasileiros através de sua plataforma, foi lançado oficialmente no Brasil há menos de um ano, em abril de 2023, mas já representa mais da metade (55%) do faturamento da companhia no País. Quando iniciou suas operações em território brasileiro, a companhia chinesa se encarregava de todas as etapas do negócio, desde a identificação da demanda, produção de itens, venda online e logística de entrega, que chegavam aos consumidores brasileiros como remessas internacionais.

A base de vendedores locais no marketplace da Shein saltou 50% em apenas três meses, saindo de 10 mil lojistas em novembro do ano passado para 15 mil em fevereiro de 2024.

“É uma venda concentrada de vendedores”, reconheceu Jacob. “Se a gente fala de outras empresas, outros concorrentes, eles têm milhares e milhares de vendedores ativos, a gente tem uma base menor e mais consolidada, é mais concentrada”, complementou.

A primeira etapa de implantação do novo modelo se restringiu ao Estado de São Paulo, onde ficam os cinco centros de distribuição da companhia. A empresa avança agora para os Estados vizinhos, onde espera amealhar mais lojistas, incluindo fabricantes e atacadistas. A estratégia de expansão do marketplace mira atualmente o Rio de Janeiro, onde a plataforma esperava ampliar o cadastro de 500 vendedores para 2 mil até o fim deste mês.

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“A participação (do marketplace) de 55% do faturamento da Shein, que já é bastante relevante, foi entregue apenas com São Paulo”, ressaltou ele. Jacob diz que a empresa “fez uma expansão muito cautelosa”, começando apenas com a cidade de São Paulo, para posteriormente fazer testes e expandir para a região metropolitana e alguns polos específicos, como as regiões fabris de Franca e Birigui, para explorar melhor a categoria de calçados.

“A gente (Brasil) é muito competitivo no preço de calçado. Por isso, que fui para Franca, para Birigui, para entender, visitar a fábrica. Quando a gente comparava com o produto de importação, ainda éramos muito competitivo. E foram essas estratégias que foram aumentando a aceitação do marketplace desse destino. Então as pessoas conseguiram entender que eram produtos bons, preços acessíveis”, relatou.

Made in Brazil

No Rio de Janeiro, a empresa já encontrou vendedores no polo fabril de Nova Friburgo, na região serrana fluminense. “Vamos nesse ano focar em cinco Estados, sendo o Rio de Janeiro o primeiro deles; depois vamos para Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul”, enumerou Jacob.

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Além da proximidade com os centros de distribuição já existentes, a empresa traçou o plano de expansão considerando o número de empresas já atuando no comércio eletrônico em cada Estado escolhido. Ao mesmo tempo, o modelo de marketplace vai sendo exportado para outros países.

“A gente já começou testes nos Estados Unidos e no México, são os primeiros países que a gente vai testar após o Brasil. Já começamos a operação”, afirmou o executivo, acrescentando que, por ora, não há intenção da empresa de operar em outro país da América do Sul.

Atualmente, os 45% restantes do faturamento da operação da Shein no Brasil são divididos entre importações e produção própria, incluindo a proveniente da parceria firmada com a Coteminas. No entanto, a companhia não revela valores nem a participação de cada um desses canais.

A estratégia de avançar também na produção própria inclui a promessa de um investimento inicial de R$ 750 milhões “para fornecer tecnologia e treinamento aos fabricantes para atualizar seus modelos tradicionais de produção para o modelo sob demanda da Shein”, informa a empresa.

A companhia afirma ainda contar atualmente “com 336 fabricantes brasileiros parceiros”, sendo 213 deles “já produzindo itens feitos ‘Made in Brazil’”. A meta é elevar esse número à marca de duas mil fábricas parceiras.

IA contra pirataria

Quanto à preocupação do governo com a entrada de itens importados falsificados no mercado brasileiro, o executivo garantiu que a Shein usa diferentes mecanismos, incluindo inteligência artificial, para verificar a autenticidade e checar eventual infração ao direito ao registro de marca de cada produto publicado no marketplace.

“Primeiro, ela (a publicação de um produto) passa por uma revisão que inclui o uso de inteligência artificial e também uma base de dados de imagem, que conseguimos comparar para ver se não está fazendo uso de nenhuma outra marca que esse vendedor não tenha direito.” Se essa taxa de confiabilidade não for extremamente alta, ela passa por uma revisão manual, diz ele. “Algumas pessoas vão analisar esse produto antes de ele ser publicado. Isso tudo para garantir que o risco de ter algum produto falsificado na plataforma seja quase nulo.”

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Segundo a empresa, os vendedores locais que aderem ao marketplace precisam comprovar que têm CNPJ ativo e “conformidade com a legislação tributária brasileira”.

“Temos alguns critérios para aprovar vendedor aqui. Um deles é garantir que eles tenham CNPJ ativo. Somos um dos únicos marketplaces hoje que só permite vendedor que tem CNPJ e emite a nota fiscal. Isso é muito importante para o nosso comprometimento de estar vendendo coisa que está dentro da lei, que está sendo fiscalizado e tudo mais”, concluiu.

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