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Quem é Ievgeni Prigozhin, o bilionário russo que é acusado de armar um golpe contra Putin

Prigozhin passou de um empresário conhecido como “chef” do presidente Vladimir Putin a um símbolo da Rússia durante a guerra, controlando um exército privado operando da Ucrânia à República Centro-Africana.

Por Gaya Gupta , Anton Troianovski e Ben Shpigel
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - Ievgeni Prigozhin, cujo avião caiu nesta quarta-feira, 23, matando dez pessoas a bordo, ficou bilionário por meio de seus laços pessoais com o presidente Vladimir Putin da Rússia, ganhando lucrativos contratos de serviços de buffet e construção com o governo russo enquanto construía uma força mercenária conhecida como Wagner.

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Os vídeos que circulam nas redes sociais mostram o momento exato do acidente que, segundo informações preliminares, teria matado Prigozhin. O avião de pequeno porte aparece em queda livre e, instantes depois, uma densa coluna de fumaça pode ser vista na imagem.

O governo russo confirma que não há sobreviventes entre os três tripulantes e sete passageiros, mas ainda resta confirmar se o controvertido chefe do grupo de mercenários estava de fato a bordo, como indica a relação de passageiros. “O nome e o sobrenome Ievgeni Prigozhin constam na lista”, informou a agência de transporte aéreo da Rússia, ao anunciar uma investigação sobre o caso. Até o momento não há confirmação sobre o que teria causado a queda do avião cerca 160 km ao norte de Moscou.

Prighozin entrou na guerra com o Grupo Wagner, após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Prigozhin também emergiu como figura política importante na Rússia, usando a mídia social para se comunicar e mostrar a realidade do Grupo Wagner. Ao mesmo tempo, porém, ele começou a lançar acusações contra a liderança militar da Rússia, culpando-a por não fornecer munição suficiente às suas forças e por ignorar as lutas dos soldados.

As críticas fizeram com que Prighozin chegasse a oferecer informações para a Ucrânia sobre posições de tropas russas, segundo documentos do Pentágono que foram divulgados no aplicativo Discord. O líder do Grupo Wagner só daria essas informações se os ucranianos se retirassem por completo da cidade de Bakhmut, local de lutas intensas entre Kiev e Moscou.

O líder do Grupo Wagner, Yevgeni Prigozhin, foi importante na conquista russa de Bakhmut, na Ucrânia  Foto: Assessoria de imprensa do Grupo Wagner/ AP

Com o tempo, Prigozhin se tornou um símbolo da Rússia em tempos de guerra: implacável e sem lei.

Em Moscou, ele tem sido perseguido por perguntas e críticas, com analistas expressando dúvidas em relação a sua escolha de recrutar prisioneiros para as atividades do Grupo Wagner.

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Grupo Wagner na guerra

Prigozhin expandiu a presença do Grupo Wagner na Ucrânia depois que a tentativa do Kremlin de tomar Kiev falhou nos primeiros dias da invasão no início do ano passado. A “companhia militar privada” estava naquele ponto amplamente ativa na Síria e na África, onde operava tanto em nome do governo russo quanto a serviço dos próprios interesses comerciais de Prigozhin.

Ele também era ativo em outros lugares. Em fevereiro de 2018, Prigozhin foi um dos 13 russos indiciados por um júri federal por interferir na eleição americana por meio da Research Agency, serviço que espalhou desinformação em apoio ao a campanha do então candidato Donald Trump, que acabou ganhando as eleições em 2016.

Os Estados Unidos impuseram sanções contra Prigozhin em dezembro de 2016.

Nascido em 1961, quando São Petersburgo se chamava Leningrado, Prigozhin foi preso em 1981 por roubo e outros crimes, de acordo com Meduza, uma publicação investigativa online.

Depois de cumprir sua sentença de nove anos, ele abriu uma barraca de cachorro-quente, o que o levou a uma carreira no setor, abrindo restaurantes e lojas de conveniência.

Rebelião

A tensão entre o Grupo Wagner e a Rússia aumentou na sexta-feira, 23, depois que Prigozhin acusou os militares russos de atacar os acampamentos de seus combatentes - uma afirmação que não pôde ser verificada imediatamente. Ele também descreveu a invasão da Ucrânia como uma “farsa” perpetrada por uma elite russa corrupta.

O líder do grupo mercenário afirmou que todo o seu batalhão estaria se preparando para uma ofensiva contra o ministério da Defesa da Rússia, embora tenha dito que não se tratava de um “golpe militar”.

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Um caminhão transporta um tanque do grupo mercenário privado Wagner ao longo da rodovia M-4, que liga a capital Moscou às cidades do sul da Rússia, perto de Voronezh, Rússia, 24 de junho de 2023 Foto: Stringer / REUTERS

Imagens de vídeo mostraram veículos blindados do exército russo na cidade de Rostov-on-Don, no sul da Rússia, perto da linha de frente da guerra na Ucrânia, onde os combatentes de Prigozhin estavam operando.

Durante a noite, houve relatos de movimentos militares em uma área do sul da Rússia perto da fronteira com a Ucrânia. Prigozhin chegou a afirmar ter o controle de partes do quartel-general do comando militar no sul da Rússia e disse que estava a caminho de Moscou, mas ordenou o fim da marcha horas depois, graças a uma negociação com o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, aliado de Putin.

Segundo declaração do gabinete de Lukashenko, um cessar-fogo foi mediado para que o chefe do Grupo Wagner negocie com o governo russo.

Não está claro o tamanho do território que o Grupo Wagner chegou a ocupar. Mas o motim representa a ameaça mais grave ao poder do presidente russo desde que ele chegou ao Kremlin, em 1999, e acontece no momento em que suas tropas lidam com uma contraofensiva da Ucrânia na guerra.

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